Crédito Habitação: Taxa Fixa ou Variável?
Com a possibilidade de as taxas de juro no crédito habitação poderem começar a subir, devido à evolução da inflação, isso implica que as prestações do crédito subam para quem tem o empréstimo associado a uma taxa variável.
“Se a taxa de inflação se mantiver nos níveis mais recentes, ou subir mais, o Banco Central Europeu deverá actuar, subindo as taxas de juro de referência para a Zona Euro. Se este cenário se concretizar, quem tem uma taxa de juro variável no seu crédito habitação vai começar a sentir aumentos progressivos na sua prestação mensal. E é fundamental que saiba como se preparar”, comenta Rui Bairrada, CEO do Doutor Finanças, a fintech especialista em finanças pessoais e familiares.
Desta forma, o Doutor Finanças explica as principais diferenças entre os tipos de taxas, ajudando as pessoas a perceberem, no caso de terem taxa variável, se devem mudar para taxa fixa no crédito habitação.
Se a perspectiva é de que o BCE suba os juros, as taxas Euribor vão subir e, consequentemente, aumenta a prestação do crédito para quem tem o contrato associado a uma taxa Euribor, que é o indexante mais usado em Portugal nos créditos habitação.
O momento destes potenciais aumentos dependerá de quando tiver sido feito o contrato e do tipo de Euribor que está associado. Se, por exemplo, tivermos o crédito indexado à Euribor a seis meses, a prestação vai ser revista semestralmente. Ou seja, se a última revisão tiver ocorrido em Agosto, a seguinte ocorreu em Fevereiro e a próxima será em Agosto.
Já os contratos de crédito que estão associados a uma taxa fixa não sofrem qualquer impacto com a evolução das taxas Euribor ou a decisão do BCE. A prestação que tinham no ano passado, por exemplo, será a mesma que vão ter daqui a um ano, independentemente da decisão do BCE.
Desta forma, a questão de se não será este o momento certo para mudar o contrato para taxa fixa impera
Não há uma resposta certa e imediata para esta dúvida, porque dependerá de muitas questões e ninguém consegue prever o futuro. Nos últimos anos compensou mais ter o crédito associado a uma taxa variável do que a uma taxa fixa, uma vez que as taxas Euribor recuaram para mínimos históricos.
A resposta dependerá muito de cada caso, sendo que é preciso ter em consideração alguns factores, que normalmente não nos lembramos.
Para começar é preciso perceber ao que é que damos mais valor: pagar menos agora, mas viver com a incerteza do futuro? Ou pagar mais e saber que não vamos ter surpresas?
Além disso, é preciso pensarmos qual será o futuro da casa que está a ser financiada. É para vivermos o resto da vida ou pensamos mudar daqui a uns anos? Isto porque quando pedimos crédito a uma entidade, estabelecemos um contrato que define todas as condições que vão vigorar enquanto o contrato estiver activo. Entre as condições está o período durante o qual o contrato de crédito vai vigorar.
Assim, quando decidimos antecipar o final do contrato, seja porque vendemos a casa, seja porque encontrámos uma instituição que nos oferece condições de financiamento melhores, estamos a pagar menos ao banco do que o inicialmente previsto. Por isso, as instituições cobram uma comissão pelo reembolso antecipado. O valor da comissão é diferente se o contrato estiver associado a uma taxa fixa ou variável, correspondendo a 2% do capital em dívida no caso da taxa fixa e de 0,5% nos contratos a taxa variável.
Olhando para o passado, historicamente contratar créditos com taxa variável compensou mais do que a taxa fixa. Isto porque nas últimas décadas vivemos a maior parte do tempo com políticas monetárias expansionistas, ou seja, de juros baixos.
Contudo, é sempre impossível prever o futuro. O aconselhável é optar por o que for mais viável para cada caso. Sendo certo que quem contratar um crédito a taxa variável deve ter presente que os juros vão subir, pelo que antes de avançar deve contemplar no seu orçamento um encargo mais elevado com a sua prestação de crédito.
As taxas Euribor já estão a dar sinais de subida, pelo que o fundamental será estarmos preparados. Imaginemos o exemplo de uma pessoa que tenha um crédito de 100 mil euros, faltando-lhe 300 meses para concluir o contrato. Tendo em consideração que tem um spread de 1,25% e que a referência foi a Euribor a seis meses, de agosto (altura em que estava nos -0,523%), agora vai ocorrer a revisão da prestação com base na Euribor de fevereiro (-0,503%). Como a taxa está menos negativa, a prestação vai aumentar menos de 1 euro. Se a Euribor a seis meses subir para 1%, uma prestação de crédito, com as condições acima descritas, aumenta quase 100 euros.
Por outro lado, o que a história mostra é que o BCE actua de forma progressiva e lenta, não estipulando subidas de juro muito acentuadas de uma só vez. Especialmente em períodos em que a incerteza económica impera.
No fundo, ninguém consegue antecipar qual a opção que vai sair mais barata. O importante é tomar decisões conscientes.