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NOTÍCIA
Opinião

Francisco Mota Ferreira

Fazer imobiliário em part-time

24 de junho de 2024

Sim, eu sei que, para os mais puristas do sector, o título que dá nome a este artigo é quase equiparado a um crime de lesa-Pátria. Mas, se quem anda por aqui há alguns anos sabe que apenas a persistência e a dedicação em exclusivo garantem uma carreira de sucesso no Imobiliário, para quem está a começar, a perspetiva de ficar alguns meses sem receber salário e auferir qualquer rendimento assusta até mesmo os mais audazes.

Sendo ambas as opções legítimas – ser consultor em full-time ou apenas em part-time – acho que cada um deve avaliar as suas opções e agir em conformidade. Quem optar por ser consultor imobiliário apenas algumas horas tem, apesar de tudo, alguns serviços paralelos e conexos que, não sendo a atividade comercial pura e dura, podem ajudar o profissional a manter um pé nesta área de negócio, ao mesmo tempo que tira alguns rendimentos enquanto não caem as primeiras comissões.

Quem tiver jeito, paciência e os meios técnicos para tal pode, por exemplo, oferecer serviços de fotografia profissional a outros agentes ou proprietários de casas que pretendam vender as suas propriedades. Esta opção permite ao consultor dar-se a conhecer a possíveis clientes e parceiros e, naturalmente, ser remunerado por isso.

A montante, quem tenha sensibilidade para isso, pode também ajudar clientes e consultores na atividade de home staging, ajudando os vendedores a apresentar as suas casas da melhor forma possível.

Para quem tirou o curso de Gestão na Católica por pressão familiar, mas nunca teve paciência para o exercer, tem nas atividades conexas do Imobiliário a sua oportunidade através da gestão de propriedades, seja num AL ou até mesmo na gestão de um ou vários ativos do mesmo cliente, sendo para esse efeito o interlocutor para todas as questões relacionadas com a gestão do espaço (relação com os inquilinos, manutenção do espaço, gestão de fornecedores, etc.). Também pode aproveitar os seus conhecimentos e começar a vender relatórios de análise do mercado local. Documentos detalhados de análise de mercado que podem ser vendidos a investidores, promotores ou outros agentes.

Se todas estas possibilidades são de uma enorme sensaboria para quem me está a ler, há outras opções que podem ser consideradas: se a pessoa tem jeito com a escrita nada como criar um blogue, um vlogue, um site ou um canal no YouTube que seja centrado em dicas de imobiliário, tendências de mercado e conselhos sobre compra/venda de casas. Este espaço online pode ainda ser rentabilizado através de anúncios, patrocínios e marketing de empresas ligadas ao sector.

Mais arriscado, mas, no entanto, exequível é a parte de consultadoria e formação: oferecer serviços de consultoria para orientar os compradores de casa pela primeira vez durante o processo ou fornecer formação e orientação a novos agentes imobiliários podem ser igualmente opções possíveis que nos permitem ter um pé no mercado.

Como se vê, o mundo imobiliário (e as suas atividades conexas) oferecem um sem número de oportunidades. Pessoalmente continuo a achar que é um risco uma pessoa divergir daquela que quer que seja a sua atividade principal, mas compreendo perfeitamente quem opta por arriscar por outros caminhos mantendo um pé em cada um dos vários mundos possíveis.

Como se costuma dizer, o mundo imobiliário é um jogo de números. O importante é sabermos que conhecemos bem os nossos antes de avançarmos para outras aventuras. Dentro ou fora do sector.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio).