Arquitectura. Só. Sem rótulos
Portugal é marcado por uma diversidade paisagística e as belezas naturais estendem-se de norte a sul de Portugal. E se a paisagem natural é um dos cartões-de-visita do país além-fronteiras o património edificado tem também contribuído para elevar a fasquia, sobretudo, no que diz respeito aos edifícios com assinatura de arquitectos portugueses.
É precisamente num dos locais mais bonitos do país que nasceu um projecto digno de perdurar no tempo tal como a beleza natural do vale do Douro, já considerado Património da Humanidade pela UNESCO em 2001. O novo Centro de Alto Rendimento de Remo do Pocinho (CAR), do arquitecto Álvaro Andrade, é um exemplo de como se pode construir um edifício que irá dignificar ainda mais a região. É uma obra que impressiona pela sua marcante plasticidade, e que tem estado em destaque em publicações internacionais de referência, como a Designboom, entre outras.
“Se nos socorrermos de referências que nos são mais próximas como as de Fernando Távora, do qual ainda tive a felicidade de ser aluno no meu primeiro ano de faculdade, e último em que este nosso saudoso mestre deu aulas na FAUP, em articulação com o muito que pensou, disse e (pouco) escreveu Siza Vieira (mas melhor desenhou e projectou), este ‘Sítio’ deve ser entendido de uma forma o mais abrangente possível, nas suas múltiplas e diversas acepções, em particular como ‘coisa’ cultural. Ainda mais, acrescente-se, neste caso da paisagem do Vale fluvial do Douro como Património Mundial, decorrente da específica expressão ancestral da intervenção/transformação do homem naquela paisagem”, revela o arquitecto Álvaro Andrade.
Projecto assume-se como uma referência na alta competição de Remo
Em fase de conclusão, este projecto assume-se como uma referência na alta competição de Remo, tanto no plano nacional como internacional, podendo albergar até 180 atletas em instalações de topo para a prática, disfrutando de uma extraordinária vista e enquadramento paisagístico únicos. Esta é também uma obra de relevo pelas suas preocupações de integração da Acessibilidade e Mobilidade para Todos, bem como da Sustentabilidade, marcas indeléveis dos seus autores – a mpt® – mobilidade e planeamento do território lda.
A construção da barragem do Pocinho no curso do Rio Douro, no início da década de 80, criou, por capricho, um dos melhores planos de água do mundo para treino de Remo. Este desporto encontrou um lugar privilegiado para a elevação da sua prática, procurado por atletas internacionais e nacionais de nível olímpico.
Eficiência energética: uma das prioridades do projecto
A eficiência energética do edificado foi uma das prioridades do projecto: “o conjunto de opções assumidas permitiu ainda conjugar de forma mais articulada princípios de gestão passiva da energia do edifício. Na zona de quartos, com períodos de maior permanência com menor actividade física reduz-se a ‘pele’ exposta ao exterior, encosta-se, semienterra-se no terreno (tal como os esquimós fazem com os igloos). Procurando a optimização energética que a energia solar passiva permite, “os quartos expõem claraboias a sul, procurando o sol, uma vez que a vertente de implantação de todo o edificado é virada a norte. Paredes interiores dos quartos, em betão aparente reforçam (…) possibilidades de armazenamento da energia solar térmica”, como descreve o arquitecto.
Arquitectura. Só. Sem rótulos
As zonas colectivas de permanência, descanso e relaxamento conquistam as cotas altas e contemplam a paisagem. As de treino e esforço voltam-lhe as costas, na procura de correspondência a lógicas de esforço e concentração, que os atletas de alto desempenho conhecerão como poucos.
Para Álvaro Andrade este foi um desafio aliciante e estimulante de arquitectura. “O Centro foi-o também da investigação das formas e dos processos de integração da especificidade de ‘novos’ temas, como o da Acessibilidade e o da Sustentabilidade, no que, indefinidamente, procuramos definir como… Arquitectura. Só. Sem rótulos. Sem acrescentar adjectivos que apenas a reduzem. Nem ‘ambiental’, nem ‘verde’, nem ‘acessível’, nem ‘inclusiva’, nem ‘sustentável’. A verdadeira Arquitectura, para o ser, é tudo isto, e muito mais.
Quanto a este projecto, para além de terminar a obra, apenas falta aquilo pelo qual, penso eu, os arquitectos efectivamente trabalham. Os utilizadores da sua obra”, revela o arquitecto.
Acessibilidade e Mobilidade para Todos
Para Paula Teles, engenheira responsável pelo projecto e especialista em matéria de Acessibilidade e Mobilidade para Todos, o CAR foi um projecto “desafiante a todos os níveis”, pela necessidade de investigação das formas e dos processos de integração num contexto de um desporto de alta competição. Atendendo a que, desde a sua origem, um dos pilares estratégicos do projecto era que o centro permitisse a prática de remo adaptado, isto é, por pessoas portadoras de deficiência, o envolvimento de uma equipa técnica altamente especializada no tema foi “fundamental para a sua concretização, sem esquecer uma salutar integração com o meio, pensando e projectando de forma universal”, como refere a coordenadora.
Integrando na sua génese a Acessibilidade e Mobilidade para Todos, o CAR coloca-se na vanguarda, uma vez que a coordenadora considera que “os espaços do futuro terão, necessariamente, de ser mais humanizados e inclusivos, capazes de celebrar as narrativas dos lugares e das suas gentes, de uma forma genuína, para os seus e para todos”. O Centro de Alto Rendimento de Remo do Pocinho é um novo ponto de referência arquitectónico no panorama nacional, e um marco no estado-da-arte da Arquitectura Inclusiva a nível internacional.
Ficha Técnica
Dono de Obra: Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa
Construção: Manuel Vieira & Irmãos, Lda.
Coordenação Geral de Processo: mpt®, Lda. – engenheira Paula Teles
Coordenação Projecto de Arquitetura: spacialAR-TE, Lda. – arquitecto Álvaro Fernandes Andrade
Colaboradores: arquitectos Ana Rute Costa, André Bevilacqua, Marcelo Altieri, Daniel Geada, Luís Romero, Nilton Marques e Paula Cicuto.
Coordenação de Design for All / Acessibilidades: mpt®, Lda. – engenheira Paula Teles
Colaboradores: Adelino Ribeiro, Adriana Sá, Daniel Geada, Jorge Gorito e Pedro Ribeiro da Silva.
Fotografia: Fernando Guerra FG+SG fotografia arquitectura