Portugueses estão de regresso à compra de casa
Encontra-se neste momento com investimentos na ordem dos 250 milhões de euros e vende 300 casas todos os anos. É um dos maiores promotores portugueses e com o maior investimento no Algarve, António Joaquim Gonçalves, presidente do Grupo Libertas, revela numa entrevista exclusiva ao Diário Imobiliário, que os portugueses estão de regresso à compra de casa.
Como vê o mercado imobiliário actual? A que se deve este dinamismo?
Vejo o mercado imobiliário muito bem, com um dinamismo muito puxado pelo turismo residencial, mas agora também com muitos portugueses a voltar a comprar porque regressou o financiamento bancário.
Tendo a experiência de muitos anos no mercado da promoção imobiliária como se posiciona neste momento a Libertas?
A Libertas posiciona-se num segmento médio e médio alto, e com alguns produtos do segmento alto, e estamos a construir e a vender acima de 300 fracções todos os anos. Tem sido assim há vários anos.
É o grupo com maior investimento imobiliário na região do Algarve. Ainda mantém o desejo de transformar esta região na Côte d'Azur portuguesa? O que lhe falta para ter essa grandeza?
Nós não temos a pretensão de transformar o Algarve. Não temos o poder de transformar regiões. Mas podemos ser um dos elementos que pode ajudar a transformar o Algarve nessa Côte d'Azur. Acreditamos muito no Algarve e achamos que já tem todos os ingredientes para se poder impor nesse sentido. O que ainda é preciso? Mais animação nas épocas mais mortas, nas chamadas épocas baixas, de Novembro a Março. A cultura é essencial para atrair mais habitantes, sobretudo da Europa Central e do Norte. O nosso perfil de clientes, nomeadamente os que são oriundos dessas zonas, gostam de ter uma boa oferta em termos de animação e cultura.
Que projectos estão a desenvolver neste momento no Algarve? E quais as maiores dificuldades encontradas enquanto promotor?
Neste momento, estamos a desenvolver vários projectos nos concelhos de Faro, Albufeira e Lagoa. Na Alta de Faro, vamos entregar este ano 96 apartamentos do empreendimento Lux Terrace, e vamos abrir as vendas em Fevereiro para o Lux Garden, que teremos para entrega em fim de 2020, e que vai ser o primeiro condomínio de luxo em Faro e um empreendimento com grande qualidade. Em Albufeira, temos o Green Apartments, o Green Villas, o Design Villas e o Albufeira Prime, que tem apartamentos em condomínio privado no centro da cidade e a minutos a pé da praia. No concelho de Lagoa, temos o Ferragudo Design Villas. Portanto, no Algarve, neste momento, estamos a trabalhar com três Câmaras Municipais, Faro, Albufeira e Lagoa, e posso dizer que não temos tido dificuldades nas aprovações, antes pelo contrário. Também são projectos que estamos a desenvolver dentro de loteamentos já aprovados e onde já tínhamos feito infraestruturas, porque os tempos de aprovação são elementos que muitas vezes nos atrasam.
Os principais investidores ainda são os estrangeiros? Quais as principais nacionalidades e o que procuram?
Efectivamente, a maioria dos compradores continuam a ser estrangeiros: muitos franceses, suecos, belgas, suíços e também alemães ou ingleses. Estamos muito ligados ao mercado francófono. Em geral, são clientes que compram produtos abaixo de 350 mil euros em quantidades grandes, e moradias abaixo dos 500 mil. Curiosamente, dos 96 apartamentos que vamos entregar no Lux Terrace, em Faro, 50% da clientela é portuguesa.
Neste momento tem projectos de imobiliário e de turismo em desenvolvimento. Qual o mercado mais atractivo?
Temos vários projectos de turismo, como na Figueira da Foz, a Praia do Sal e o hotel Al Foz, em Alcochete. E estamos também a gerir mais de 70 apartamentos de alojamento local no centro de Lisboa com grande sucesso. São projectos que nos inspiram. O nosso modelo de desenvolvimento é essencialmente fazer apartamentos, vendê-los, e depois explorá-los, pagando uma rentabilidade, que pode ser fixa ou variável. Temos tido sucesso com este modelo, que nos permite desenvolver imobiliário, e os clientes ficam também satisfeitos. Mas não há exactamente um mercado mais atractivo ou preferencial, a Libertas está atenta à evolução do mercado e a partir daí exploramos os vários modelos possíveis.
O Sunset Albufeira Sport & Health Resort não irá avançar? Que projecto alternativo está a ser pensado?
A Agência Portuguesa do Ambiente entregou-nos finalmente o terreno livre no final do ano passado e agora vamos fazer imediatamente o apoio de praia, refazer o parque de estacionamento e repensar todo o projecto de acordo com o que se possa lá fazer. Certamente que o apoio de praia a ser feito lá agora não é o que tínhamos pensado idealmente, mas estará a funcionar seguramente na próxima época balnear, com todas as valências necessárias para que a praia dos Tomates mantenha a classificação de bandeira azul. Claro que agora temos que repensar todo o projecto para os 40 hectares de terreno que temos naquela zona, teremos de ver o que é possível fazer e o que se adequa ao lugar. Um novo projecto vai seguramente demorar mais de um ano a ser submetido, mas poderá passar pela reconstrução das ruínas que lá existem e por um misto de projecto agrícola, com uma vertente de agricultura biológica e energias renováveis.
Além do Algarve, o grupo tem outros empreendimentos em desenvolvimento. Quais? E o que os distingue?
Temos vários empreendimentos em desenvolvimento, em Lisboa, em Belém, junto ao Estádio da Luz, nos Anjos, e na zona metropolitana, em Alcochete, Seixal, Setúbal, também várias coisas na zona de Coimbra e mais a Norte ainda uma quinta com uma vista lindíssima em Albergaria a Velha, onde estamos a pensar fazer um projecto dedicado ao turismo. Mas a verdade é que há sempre afinidades entre os vários projectos. Tentamos fazer empreendimentos que sejam mais valias e se adequém a uma filosofia de economia de energia, de defesa do ambiente, sempre com uma componente de energias renováveis.
Qual o investimento já realizado até ao momento e o que pretende ainda fazer?
Temos um investimento em curso de 250 milhões de euros, mas este valor é algo que todos os anos evolui de acordo com o volume de vendas e com a própria dinâmica do sector.
Como vê o facto de Portugal e Lisboa estarem na rota dos destinos mundiais para turismo e investimento?
Para nós é uma maravilha, é fantástico. É algo que é também fruto de um trabalho de longo prazo, a par do facto de os mercados de África do Norte e Turquia terem estado decadentes, o que já não é o caso. Mas são notícias muito boas. Claro que não vai ser fácil estar todos os anos nas notícias a ser considerado o melhor destino do mundo, mas temos muita coisa que é do melhor que há no mundo. Houve um conjunto de factores que permitiu este desenvolvimento, passando pela estabilidade política e fiscal, que é essencial. Os nossos governos tiveram muita importância também neste desenvolvimento com mudanças na legislação e um trabalho na área do marketing que tem sido feito e bem feito para vender Lisboa e Portugal. O momento que vivemos hoje é resultado disso. E nós como grupo, como temos muita terra, tentamos aproveitar o momento e desenvolver os nossos projectos.
Falam em bolha imobiliária, qual a sua opinião?
Pessoalmente, acho que não há bolha imobiliária nenhuma, o que não quer dizer que em certos sítios os preços possam continuar a subir. Mas por exemplo, na esmagadora maioria, os apartamentos que nós vendemos são vendidos a pessoas com capitais próprios. É verdade que a maioria dos nossos clientes são estrangeiros mas em Faro, 50% dos nossos clientes são portugueses. No Algarve, não existe mesmo bolha, porque os preços ainda estão muito baixos, tendo em conta que nos últimos anos os preços da construção têm subido muito. Os custos das empreitadas subiram mais de 40% desde 2012.
Como vê o mercado nos próximos anos?
Vejo com optimismo, alguns especialistas são bastante mais pessimistas que eu. Nos próximos três anos eu vejo o mercado com estabilidade, mas não quer dizer que se continuem a aumentar os preços como até aqui. Penso que os preços vão aumentar ligeiramente, um bocadinho mais do que a inflação, mas acredito muito no Algarve e na região de Lisboa. E penso que as zonas do Porto, Aveiro, Figueira da Foz também vão funcionar.