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Turismo em Lisboa é óptimo mas falta estratégia para o comércio

7 de abril de 2019

Para aproveitar o aumento do turismo em Lisboa é necessário uma visão estratégica do comércio para a cidade, revela Lourdes Fonseca, Presidente da Direcção da União de Associações de Comércio e Serviços de Lisboa.

A responsável admite que para isso é fundamental que haja uma perfeita distinção entre arrendamento habitacional e comercial. O programa Lojas com História tem-se revelado "fundamental" para a promoção e defesa do comércio tradicional mas não é suficiente para manter as características de alguns bairros.

De que forma o Novo Regime de Arrendamento Urbano tem tido impacto no comércio em Lisboa?

É fundamental haver alterações à lei do arrendamento. Uma das nossas pretensões é que haja uma perfeita distinção entre arrendamento habitacional e comercial. São realidades diferentes que têm de estar contempladas. As rendas comerciais sempre tiveram actualizações, não estavam na situação da habitação. E havia figuras, como o trespasse e outras. Não quer dizer que tenha de se voltar atrás, temos de nos adaptar à realidade que temos hoje, que em termos económicos, com o turismo e as novas tecnologias, requer uma abordagem diferente. Mas requer também um certo ajuste em termos de arrendamento para as pequenas e médias empresas sobreviverem.

Como vê o programa das Lojas Históricas? Veio de facto salvaguardar o património histórico?

Lisboa foi pioneira no programa Lojas com Histórias e através deste programa conseguiu-se apoiar e é proteger muitas Lojas emblemáticas da cidade. O papel desempenhado pela Câmara Municipal e apoiado pela UACS desde da 1a hora foi fundamental para o sucesso deste programa.

Este programa é de tal forma importante que até foi replicado a nível Nacional e outras cidades têm programas semelhas com vistas a preservar as Lojas que são património histórico.

O programa tem-se revelado "fundamental" para a promoção e defesa do comércio tradicional.

O que este novo regime coloca em causa no comércio lisbonense?

O novo regime é umas principais causas para o encerramento de Lojas mais antigas na Cidade de Lisboa. Mas mesmo assim, existem exemplos que devem ser mencionados como o caso da Loja com História “Casa Senna” que teve uma ação de despejo e finalmente conseguiu ganhar em Tribunal.

Tem-se verificado uma evolução na cidade de Lisboa a que o comércio não é alheia. Existem novas zonas de comércio que emergem e outras de que a baixa Lisboeta é um exemplo onde assistimos ao encerramento de muitas lojas.

Como vê esta explosão do turismo na cidade e que impacto tem tido no comércio?

Mais turismo na cidade de Lisboa, são mais potenciais clientes para o comércio, logo uma oportunidade de desenvolvimento positiva, como em qualquer negócio.

Mas para melhor aproveitamento desta oportunidade, a UACS considera fundamental existir uma visão estratégica do comércio para a cidade de Lisboa, onde o papel da Câmara Municipal é essencial. O programa Lojas com História tem o seu papel, mas não é suficiente para manter as características de alguns bairros, temos que fazer mais e defenir que tipo de comércio queremos nos bairros.

Quais os prós e contras neste momento relativamente ao turismo e o NRAU?

Penso que o principal problema do NRAU para o comércio é o facto de não permitir o desenvolvimento de investimento de pequenos empresários.

Quando se decide investir num determinado negócio, é preciso um determinado período de tempo para recuperar o investimento. Se já é difícil investir devido à burocracia e carga fiscal e ainda a incerteza de não se saber se irá ter a possibilidade de ficar no local, (que para o comércio é um factor fundamental), o tempo suficiente para recuperar o investimento é preferível não arriscar.

Para quem está estabelecido é a incerteza de por quanto tempo vai poder continuar ou se o aumento da renda é de tal forma elevado que torna um negócio estável em insustentável.

O turismo só vem piorar esta situação acrescentando a especulação imobiliária. Caro e incerto torna facilmente qualquer negócio inviável.

Como se convive com as grandes marcas internacionais que estão e as que chegam com o comércio tradiconal?

São duas formas de comércio e cada uma tem o seu lugar e clientela própria. Na minha opinião na actual realidade do desenvolvimento económico de Lisboa com o Turismo é fundamental a existência de ambas, pois desta forma existe uma resposta diversificada é capaz de responder a procuras diferentes.

No entanto, cada vez mais o de comércio de proximidade tem o seu lugar próprio na dinâmica da vida citadina, em que as pessoas não têm muito tempo, logo de preferência procuram efectuar as compras perto do local de residência ou do local de trabalho.