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Entrevistas

Francisco Horta e Costa, director geral da CBRE

Apesar da pandemia, diversos players têm indicado ter capital disponível e vontade de investir

7 de abril de 2020

Francisco Horta e Costa, director geral da CBRE, prevê que o mercado recupere em seis ou 12 meses e garante que Portugal continua atractivo, admitindo que o investimento será inferior aos três mil milhões de euros mas superior aos 1,3 mil milhões registado em 2007, o melhor ano antes da crise financeira global.

O responsável refere que Portugal continua atractivo e os grandes investidores vão manter-se no mercado imobiliário português. Garante que esta crise não é comparável a 2008, não é provocado pela falta de liquidez, ou por uma bolha especulativa.

Qual o impacto nos grandes investimentos em Portugal? 

A duração do período de incerteza ditará o real impacto. Logo que o período de incerteza termine a CBRE acredita que as decisões de investimento em curso vão ser retomadas, pois este contexto extraordinário, contrariamente à crise de 2008, não é provocado pela falta de liquidez, ou por uma bolha especulativa. Em todo o caso, o impacto é maior nas grandes operações e menor nas operações mais pequenas.

Os investidores estrangeiros já estão a recuar nos negócios?

Tendo em consideração que no nosso país o mercado estrangeiro representa uma parte considerável no investimento, a restrição de viagens tem tido um impacto significativo no processo e fecho de transacções. Adicionalmente, e derivado do Estado de Emergência imposto, está a ser adiada a realização de visitas aos imóveis e os períodos de due dilligence estão a ser prolongados.

Mesmo neste cenário, a maioria dos investidores mantém o interesse nos negócios em curso, pelo que prevemos que o desenvolvimento e fecho dos processos decorra com a normalidade possível evidentemente estendendo-se um pouco mais no tempo.

Por outro lado, diversos players têm indicado ter capital disponível e vontade de investir, estando capacitados para intervir na aquisição de activos mesmo nesta fase.

Qual o segmento que será mais afectado?

Não há dúvidas de que o comércio será um dos sectores mais afectados pela crise e as medidas anunciadas pelo Governo revelam-se bastante insuficientes para apoiar o sector.

Também, toda a hotelaria nacional tem sido fortemente afectada, sendo que os operadores com contratos de arrendamento são os mais prejudicados do ponto de vista da gestão do negócio. No entanto, a maioria dos proprietários, particularmente os internacionais, têm manifestado uma enorme abertura para renegociar rendas e suster esta crise que se considera, maioritariamente, temporária. A maioria dos grupos hoteleiros Portugueses, apesar de afectados, não deverão apresentar problemas de maior nesta fase.

Relativamente às Residências de Estudantes, também este se prevê que seja ligeiramente afectado no cenário da epidemia ser controlada antes do Verão, isto é, assumindo que haverá condições para iniciar um novo ano lectivo.

Acredita que depois da crise os investidores vão continuar a investir no mercado português? 

Sem dúvida. O nosso país continua a ser atractivo e as suas mais valias continuam a destacar-se. Esta pandemia afectou o mundo inteiro e a nossa capacidade de captar investimento continuará forte quando a situação retomar a normalidade.

Prevemos um cenário de recuperação do mercado nos próximos seis a doze meses, que se registe um volume de investimento inferior aos 3 mil milhões de euros verificados nos dois últimos anos, mas muito superior aos 1,3 mil milhões registado em 2007, o melhor ano antes da crise financeira global.

O que irá mudar?

Sabemos que as empresas estão a adaptar-se e as conversas que temos hoje com os clientes são focadas no futuro. Tentamos aprender com este contexto a vários níveis, desde as novas formas de gerir equipas à distância, às novas formas de gerir os negócios/projectos, com segurança. A mudança pela via tecnológica é evidente e desempenha já um papel fundamental pois só com recurso a este tipo de ferramentas nos permitimos diariamente manter proximidade e continuar a partilhar informação. Há uma forte possibilidade de muitas destas mudanças se tornarem no “novo normal”, onde surgirão, tal como apontámos recentemente no estudo Global Outlook 2030 - The Age of Responsive Real Estate, as novas formas de trabalhar no futuro, novas formas de liderança, entre outras. O teletrabalho poderá resultar numa redução de procura de espaço no futuro por parte das empresas na ordem dos 10 a 15%.

Em termos de investimento, acreditamos que uma parte significativa do volume de negócio expectável para o primeiro semestre deste ano irá transitar para a segunda metade do ano, no entanto, quanto mais tempo a incerteza durar, mais significativo será este impacto e as mudanças que este pode causar. É expectável uma subida das yields de cerca de 50 pontos base.