Esta crise representa uma oportunidade para o sector se reinventar
Pedro Lancastre, director geral da JLL, acredita que os investidores irão rever cronogramas e adiar transacções, mas não cancelá-las. Admite que o apetite dos investidores mantém-se elevado e isso não mudará.
O responsável adianta ainda que as características que fizeram de Portugal uma excelente opção para investir continuam cá. Em entrevista ao Diário Imobiliário admite também que digitalização é o presente e será também o futuro, também no imobiliário.
Qual o impacto nos grandes investimentos em Portugal?
Em primeiro lugar, é de esperar que no primeiro semestre de 2020 a actividade de investimento em imóveis diminua, o que não significa que os investidores estrangeiros deixarão de ter Portugal na mira. Mas é natural que, perante alguma instabilidade, os investidores procederão à revisão dos cronogramas no que respeita às operações de transacção, ficando algumas adiadas para quando os mercados afectados retomarem a sua normal actividade. Mas, voltamos a frisar: adiamento não é o mesmo que cancelamento.
No entanto, se o vírus estiver contido neste primeiro semestre – e as previsões apontam nesse sentido –, antecipa-se uma recuperação do sector imobiliário no segundo semestre de 2020.
Os investidores estrangeiros já estão a recuar nos negócios?
Recuar no sentido de cancelar negócios, não. Como disse, acreditamos que os investidores irão rever cronogramas e adiar transacções, mas não cancelá-las.
O apetite dos investidores mantém-se elevado e isso não mudará. Vamos continuar a fechar negócios, até porque muitos dos processos de investimento também são demorados, tendo os investidores consciência de que a situação actual é temporária.
Os últimos anos foram de grande crescimento do investimento no sector e a nossa previsão é que esta tendência se mantenha, pois o imobiliário oferece um retorno muito atractivo para os investidores, comparando-o com outras classes de activos.
Qual o segmento que será mais afectado?
Os segmentos do retalho e da hotelaria serão os mais afectados pelo surto. Ou melhor, pelas suas consequências. Se as pessoas ficam em casa, gastam menos dinheiro em lazer. E se não há turistas, também é de esperar uma queda na taxa de ocupação dos hotéis.
No segmento do retalho, embora a restauração e o comércio de bens não essenciais estejam a ser mais afectados, verifica-se também que as mercearias e talhos locais têm ganho mais movimento, pois os consumidores estão a evitar a ida às grandes superfícies, onde o aglomerado de pessoas é maior. Gerou-se uma oportunidade para estes negócios de rua. Ao mesmo tempo, o sector da logística que também possui canais de venda online poderá sair beneficiado, caso se cumpram com as regras de segurança e higiene no seu serviço. Certamente que este contexto que nos apanhou a todos de surpresa servirá, no final, para muitas empresas considerarem estratégias mais multicanal.
Ao nível da hotelaria, existe potencial para que a recuperação seja rápida se o vírus for contido em pouco tempo – como, aliás, se espera. Como sabemos, o turismo tem crescido muito em Portugal, estando Lisboa e Porto na moda, eleitos entre os melhores destinos europeus, e esse estatuto não se perde em pouco tempo.
Acredita que depois da crise os investidores vão continuar a investir no mercado português?
Antes de mais, importa recordar que este é um impacto generalizado, porque esta é também uma situação global, que não se limita a Portugal e à Europa.
Nesse sentido, e como também já referi, o apetite dos investidores mantém-se elevado e isso não mudará. Os últimos anos foram de grande crescimento do investimento no sector e a nossa previsão é que esta tendência se mantenha, pois o imobiliário oferece um retorno muito atractivo para os investidores, comparando-o com outras classes de activos.
Por outro lado, as características que fizeram de Portugal uma excelente opção para investir continuam cá. Nada mudou, por isso acredito que, com as medidas certas do lado do Governo para atrair mais investimento para o nosso país, estaremos prontos para continuar a ser uma opção para quem quer investir. É preciso, entanto, criar e recuperar estes mecanismos que fomentem o investimento imobiliário, como é o caso dos Golden Visa.
O que irá mudar?
Acredito que esta crise representa uma oportunidade para o sector se reinventar. A digitalização é o presente e será também o futuro, também no imobiliário, no sentido em que capacita o sector de ferramentas que nos permitem agilizar o trabalho, tornando-o mais eficiente e flexível. Por exemplo, não deixámos de vender casas neste período e o segmento residencial tem-se revelado dos mais resilientes. As pessoas não deixam de comprar ou alugar casas por causa do surto, nem os investidores deixarão de procurar oportunidades de investimento. Notamos, sim, o aumento da procura através do online, mas isso pode ser uma oportunidade de inovar dentro do nosso sector. A aposta no digital será, sem dúvida, um elemento-chave para o futuro!
Outro aspecto que considero relevante é, por exemplo, na área de escritórios. Acreditamos que a longo prazo, este fenómeno poderá acelerar a aposta no trabalho remoto por parte de mais empresas – o que significará a necessidade de termos de ter em carteira uma oferta para organizações que procurem dimensões médias e não apenas grandes áreas. Além disso, é ainda de prever o aumento do investimento em espaços de escritórios mais colaborativos e flexíveis, pois são também novas formas de trabalho que os colaboradores estão agora a explorar.