Comprar ou arrendar?
Um dos grandes dilemas que podemos encontrar nos clientes compradores é a dúvida que por vezes existe em relação às reais vantagens de comprar ou arrendar um imóvel. Sendo que, cada caso é um caso, há, no entanto, claras opções e tendências que levam os clientes a decidir por uma ou outra opção.
A primeira resulta da percepção, nem sempre correcta, que o mercado de arrendamento está de tal forma inflacionado que, entre cauções, garantias e mensalidades quase se paga o mesmo que uma prestação bancária. Não sendo verdade, o facto é que, hoje em dia, para arrendar é pedido um tal manancial de dados e burocracias que muitos acabam por optar pela compra: têm o mesmo trabalho e, no final do dia, estão a pagar por algo que sabem que será deles, mesmo que seja ao fim de 20 ou 30 anos.
Por outro lado, actualmente prometem-se mundos e fundos, que se destinam a desburocratizar os procedimentos (quer na compra, quer no arrendamento) que tardam em concretizar-se, o que faz com que, em termos de papelada e dores de cabeça pouca diferença há na escolha por uma ou outra opção. O que não deixa de ser uma falácia, apesar de tudo. Porque, se a maior vantagem que existe na opção pela compra encontra-se no facto de o cliente estar a pagar por algo que será dele, no arrendamento o maior argumento a favor prende-se com a convicção de que arrendar um imóvel traduz-se numa maior sensação de liberdade e descomprometimento. Hoje podemos estar numa cidade e amanhã noutra. Viver numa casa maior ou menor, consoante as nossas necessidades e prioridades.
Por outro lado, como também sabemos, num arrendamento, se existirem chatices com o nosso imóvel (inundações, material estragado, etc.), o problema deve ser assumido pelo senhorio, a quem cabe resolver o problema. E, se a casa for nossa, esta despesa também o é.
Acredito que a opção de compra ou de arrendamento não é nem pode ser uma realidade percepcionada em dois tons. Há claras vantagens e inconvenientes por quem assume uma ou outra opção. No limite, e no que ao sector diz respeito, caberá aos consultores imobiliários perceber o cliente que têm à frente e aconselhá-lo naquilo que pode ser a melhor opção. Mesmo correndo o risco que esta acabe por se traduzir em menor receita para o consultor e a agência.
Francisco Mota Ferreira
Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem ao livro “O Mundo Imobiliário” (Editora Caleidoscópio).