Associação quer duplicar população de aldeia de Alfândega da Fé até 2030
A Associação Inteligência Local tem em marcha um projecto-piloto que quer duplicar, até 2030, a população da aldeia de Vilares da Vilariça, no concelho de Alfândega da Fé, distrito de Bragança.
A iniciativa quer servir de exemplo e já está com “alguns pés e algumas mãos” em outras regiões.
“No macroprograma Regenera Aldeia 20-30, a nossa proposta é atrair e fixar as próximas novas 120 a 130 pessoas para Vilares da Vilariça. No fundo, duplicar a actual população”, explicou à Lusa um dos impulsionadores da ideia, Filipe Jeremias.
Segundo os últimos censos, a freguesia, que tem como anexa Colmeais, e que fica a 20 quilómetros da sede de concelho, tem 132 habitantes.
Filipe Jeremias tem 43 anos e raízes maternas na aldeia transmontana, mas sempre morou longe. Reside em Vila Nova de Gaia e está, também ele, em “processo de transição” para se mudar com a família, com quatro filhos.
Quem mostra interesse neste programa, descreveu Filipe Jeremias, são “aquelas pessoas que procuram uma vida mais humana e sustentável”.
Para atrair e dar a conhecer o projecto, este mês fizeram, pela segunda vez, as Jornadas da Aldeia. “O objectivo era fazer com que estas jornadas fixassem as próximas 15 pessoas a viver na aldeia e gerassem os próximos cinco negócios de empreendedorismo regenerativo”, disse Filipe Jeremias.
Receberam 68 candidaturas, do Alentejo a Trás-os-Montes e uma do Brasil. Escolheram 32.
"A linha que separa o sucesso do insucesso..."
Os participantes desta edição têm acima dos 22 e até aos 60 anos. Para a aldeia apresentaram ideias de negócio variadas. “Desde um co-living rural, projectos relacionados com o turismo, com a agricultura, o bem-estar e a saúde, envelhecimento activo ou com a cultura e com a arte”, enumerou Filipe Jeremias.
Mas o mentor admitiu dificuldades para quem se quer fixar que pode ser “a tempo inteiro ou num modelo híbrido”, com residência dividida durante o ano. “O interior tem coisas incríveis, mas está ‘desumanizado’. A perda de população leva a que quem queira regressar ou vir pela primeira vez tenha o desafio de encontrar uma comunidade que os possa acolher e onde possam desenvolver os seus projectos”, lamentou Filipe Jeremias.
Além disso, faltam as condições ligadas com a educação, saúde ou mesmo à habitação.
“O que estamos a propor a todas estas pessoas que se conectam a nós é, com elas, criar essas condições. O que propomos é que sejamos nós a resolver os nossos problemas”, afirmou Filipe Jeremias, acrescentando que para isso precisam de parceiros públicos e privados. Neste momento, já têm mais de 60.
O projecto já tem “alguns pés e algumas mãos” noutros pontos do país, para ser replicado. “A proposta é servir de modelo de regeneração para outros territórios que chamamos de 'esquecidos' mas que, no fundo, são como Vilares da Vilariça”, esclareceu Filipe Jeremias.
Este autodenominado processo de criação de um “ecossistema de atractividade e de inovação” já deu frutos. A primeira família mudou-se para aldeia em Maio. Na última semana, mais uma pessoa comprou casa na localidade.
Para Filipe Jeremias, a linha que separa o sucesso do insucesso destas iniciativas é "muito ténue", mas acredita que têm "incrementado vários dados diferentes para que os resultados possam ser diferentes em relação a muitos outros projectos feitos no passado".
Nesse sentido, há outros planos em curso. Por exemplo, para tornar a aldeia sustentável na produção e consumo de energia, a criação de uma lavandaria solar ou de um festival, que deverá arrancar para o ano.
Lusa/DI