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Opinião

Francisco Mota Ferreira

As tertúlias imobiliárias

15 de julho de 2024

Tenho para mim que as tertúlias imobiliárias são, atualmente, uma das melhores técnicas de marketing para ajudar o imobiliário a respirar melhor e a dotar os seus profissionais de uma rede informal de apoio que os pode valer num momento de maior necessidade. Confusos? Explico.

No imobiliário, as queixas dos players do sector são, não só cíclicas, como também muito repetitivas. Que os consultores não se dão ao respeito, que não há confiança, que as formações roçam as ruas da amargura e tantos outros queixumes que estamos todos cansados de ouvir.

De igual forma, todos sabemos que só aprendemos com quem tem outra visão ou outra experiência. Se vivemos num círculo fechado e estamos a lidar apenas com pessoas que pensam e agem como nós, caímos não só na tentação fácil de acharmos que estamos a fazer tudo bem – até porque vemos à nossa volta toda a gente a fazer o mesmo, de igual forma e, com sorte, com os mesmos resultados – como não conhecemos outros lados e outras formas de o fazer.

Quando andava no liceu, lembro-me quando conheci “A alegoria da caverna”, de Platão, e como esta me marcou e me preparou, de forma indelével, para o meu futuro, levando-me a nunca estar fechado apenas numa “caixinha” e explorar outras oportunidades para além daquelas que me eram apresentadas em determinado momento. O facto de perceber muito cedo que havia mundo para além do meu mundo levou-me a alargar horizontes e a não ter medo de explorar, arriscar, errar e aprender. Mesmo que, na altura, estivesse longe de pensar que os meus caminhos de vida iam, de alguma forma, cruzar-se com o Imobiliário, o facto é que muito desta curiosidade, resiliência e persistência acabaram por ser úteis nos vários caminhos que tenho trilhado.

Quem me acompanha por aqui sabe bem as minhas reservas e resistências à suposta formação que é ministrada. Tirando alguns casos, excecionais, onde, de facto, se aprende alguma coisa, a dita formação dos consultores é, em muitos casos desadequada. Da realidade e até, no limite, das necessidades do dia-a-dia que são sentidas por milhares de profissionais.

Por outro lado, a desconfiança inicial, a soberba, a inveja e até más experiências passadas, com determinadas marcas ou profissionais acabam igualmente por deixar rasto. E, num negócio que, dizemos sempre, é de pessoas para pessoas, a falta de confiança entre pares pode ser mortal.

Em virtude dos meus artigos e dos meus livros, sou convidado para estar presente e falar sobre o sector e confesso-vos que gosto imenso. Participo, nem sempre como orador – ironias à parte, é, para todos e para mim uma bênção – e aprendo sempre. Acho que as tertúlias imobiliárias, feitas com uma boa dose de conversa, à volta de uma mesa e regadas com um bom vinho, têm os ingredientes essenciais para que a conversa flua distendida e onde todos os que nela participam aprendam potencialmente algo mais. Ou seja, acho, genuinamente, que quem vai a estas coisas não dá o seu tempo por perdido.

Ainda recentemente, a convite do meu amigo Carlos, tive a oportunidade de estar presente em mais uma. Um bom ambiente, uma boa conversa, onde se juntaram pessoas e não marcas para discutirem, de forma saudável, os problemas e os desafios que dizem respeito a todos. Naturalmente, não saímos desta tertúlia com a solução para um mundo melhor. Mas confesso-vos que, entre juristas, brokers, consultores, investidores, analistas e toda uma panóplia diversificada de participantes, as várias conversas foram fluindo. Nem sempre com todos de acordo (mal seria que assim fosse), mas tenho a nítida sensação que uma tertúlia imobiliária, quando bem aproveitada, acaba por valer certamente mais do que incontáveis horas de formação.

Termino aqui, reforçando o óbvio: sempre que possam, participem nestas conversas. E, se não são convidados, organizem-nas. Há espaços que são disponibilizados a custo zero, pelo que o argumento financeiro não pode (nem deve) ser uma desculpa. Alarguem o mais possível o âmbito destas conversas e convidem vários players, de diferentes marcas, de diversas agências e outros profissionais conexos, que podem dar outras visões sobre os mesmos temas.

A aprendizagem deve ser uma constante ao longo da nossa vida. E, no imobiliário, por maioria de razão, é algo incontornável, para quem quer prestar um melhor serviço ao cliente.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio)

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico