As convenções imobiliárias

Antes de começarem a ler o artigo deixem-me, por favor, fazer um aqui disclaimer. Como muitos de vós saberão, não estou ligado a nenhuma marca, por opção. Para além disso me dar uma independência que, de outra forma, não a teria se estivesse veiculado a uma qualquer organização, permite-me, igualmente, ter a liberdade de frequentar os eventos das marcas quando para tal sou convidado, seja como orador ou apenas mero espectador. O que vão ler nas próximas linhas reflete, por isso, a minha vivência junto de várias marcas e a forma como encaro os eventos de celebração e evocação que cada uma faz, com maior ou menor espalhafato junto dos seus.

E o primeiro dado que retiro das convenções imobiliárias é o de que, embora pareça que estes encontros servem para glorificação interna dos seus colaboradores, há um propósito claro de propaganda externa. Seja por uma questão de pirraça ou de sã concorrência entre pares, os eventos de celebração destinam-se a extravasar os muros da marca. Para mostrar ao sector como a marca X está no mercado e, sejamos concretos, para tentar angariar consultores às marcas concorrentes.

A tentativa de angariar novos e melhores recursos humanos (leia-se consultores) vai muito para além dos meros prémios pechisbeque que se recebem neste evento. Porque, por detrás do troféu de plástico ou de vidro, estão números que refletem a saúde da marca: x milhões de faturação, y milhões em vendas, z em percentagens de crescimento. E esses dados são transmitidos, normalmente, pelos responsáveis máximos da marca numa intervenção que, volto a dizer, parece que está virada apenas para o interior, mas que mostra também o propósito externo desta mesma comunicação.

Para as marcas, organizar uma convenção é também uma oportunidade de reforçar sua identidade e consolidar sua imagem no mercado. Ao reunir os seus consultores, parceiros e stakeholders, a empresa promove um ambiente de alinhamento estratégico, onde os valores e diretrizes corporativas são reafirmados.

No resto, as convenções servem para convidar palestrantes da área (ou de áreas conexas), premiar consultores e reconhecer e celebrar conquistas individuais e coletivas. E, claro está, servem também para momentos de convívio entre pares, networking e inovação, fundamentais para a evolução de todo este sector.

Por isso e para os consultores presentes nestas convenções, este tipo de evento é muito mais do que uma ocasião para "afagar o ego". Consoante o painel de oradores convidados, as convenções podem ser também espaços para os consultores apostarem numa atualização profissional e para a troca de experiências, que podem transformar a maneira de atuar no mercado. Aqui, os profissionais têm a chance de expandir seus conhecimentos e adquirir insights valiosos que impulsionam sua performance. Além disso, o networking gerado durante a convenção possibilita a criação de parcerias estratégicas e a identificação de oportunidades de negócio que muitas vezes se estendem muito além do evento.

Quando realizadas com sentido e com propósito, as convenções desempenham um papel essencial na dinâmica de mercado. Promovem a disseminação de conhecimento, fortalecem a identidade das marcas, incentivam o desenvolvimento profissional dos consultores e estimulam uma cultura de inovação e colaboração em todo o sector.

E, mesmo que não me digam muito enquanto marcas, gosto muito de estar presente nas convenções imobiliárias. Para além de serem um manancial de inspiração para novos artigos, saio destas sempre com a certeza de que aprendi algo novo. E, ao longo da nossa vida, mesmo tendo em consideração as funções que vamos desempenhando, é sempre importante termos espaço para crescer. Pessoal e profissionalmente.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022), “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) e “Conversas sobre o Imobiliário” (2024) | Editora Caleidoscópio.

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico