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Sustentabilidade

 

 

Passivhaus: Tudo o que os edifícios terão de ser no futuro

22 de novembro de 2016

Chegou a Portugal em 2013 mas depressa conquistou os profissionais da arquitectura e construção. A Passive House é um conceito construtivo que define um padrão que é, eficiente sob o ponto de vista energético, confortável, economicamente acessível e ecológico. Não se trata de um estilo ou linguagem arquitectónica. Trata-se de uma norma que assenta no desempenho dos edifícios e que obriga ao cumprimento de requisitos muito objectivos.

A Passive House é o mais elevado padrão de eficiência energética a nível mundial: as poupanças energéticas atingem os 75% em comparação com os edifícios convencionais e de acordo com a regulamentação actual.

João Marcelino e João Gavião são os responsáveis pela Homegrid e Associação Passivhaus Portugal e por trazerem o conceito para o nosso país. Desde então têm conseguido mobilizar e transmitir este conceito a muitos arquitectos, construtores, promotores, engenheiros, instituições de ensino e todos os que se interessam pela construção sustentável. 

Esta semana, nos dia 24 e 25 de Novembro, decorre a 4ª Conferência Passivhaus Portugal, no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro. João Gavião em entrevista ao Diário Imobiliário, explica como tem evoluído o conceito em Portugal.

Como tem sido a evolução da Passivhaus Portugal?

Tem sido uma evolução sustentável. Este trabalho de disseminação é recente, iniciou-se em 2013, mas já existe a percepção do valor criado pela aplicação do conceito Passive House tanto na construção nova como na reabilitação.

A tarefa fundamental passou pela criação da Rede Passivhaus e neste momento trabalhamos continuamente para fortalece-la. A Rede Passivhaus tem como objectivo fundamental criar as bases para um crescimento sustentado da Passivhaus em todo o território.

A Rede Passivhaus engloba num primeiro nível a componente de projecto, com os projectistas e consultores, a componente da obra, com construtores e instaladores, e a componente das soluções, com empresas que dispõem produtos e soluções adequadas. Num segundo nível, temos os municípios Passivhaus que oferecem benefícios aos munícipes que adoptem este standard de construção, temos as plataformas de partilha, nacionais e internacionais, e por fim os centros de investigação, onde temos protocolos e parcerias com as principais universidades e institutos nacionais.

Como tem sido a adesão a este conceito?

Por um lado, temos verificado um interesse crescente por parte de promotores e clientes finais que pretendem ter este tipo de produto.

Por outro lado há uma procura também muito grande por parte dos técnicos, arquitectos e engenheiros, e das empresas, fabricantes e instaladoras, em adquirir competências neste âmbito para conseguir responder à procura.

Isto é verificável pelo número de acções de formação realizadas e pelo número de formandos, 191 formandos em 19 cursos em menos de 4 anos, e também pelo número de projectos em desenvolvimento que estimamos em perto de 20 neste momento.

Quantos projectos já foram construídos em Portugal?

Em Portugal existem 3 edifícios com certificação Passivhaus. É necessário focar na certificação, porque só assim haverá a garantia de que se tratam de facto de edifícios com o desempenho exigido pela Passivhaus. Trata-se de um processo exigente, tanto em projecto como na obra, mas é muito recompensador para todos os envolvidos, tanto para o promotor, para o utilizador ou cliente final e também para as equipas projectistas e de construção. E desde Maio deste ano que já existe em Portugal uma entidade acreditada pelo Passivhaus Institut a certificar edifícios Passivhaus, a Homegrid.

Como vê a implementação destes projectos no mercado actual?

Existindo o conhecimento do conceito e havendo a percepção do valor criado pela implementação da Passivhaus, por parte dos diferentes actores neste sector, a procura irá continuar a aumentar de forma significativa.

A Associação Passivhaus Portugal trabalha para afirmar este conceito e diferenciá-lo do que é a prática convencional, e daí também a importância da certificação dos edifícios. Porque é diferente ter um edifício preparado para ser energeticamente eficiente e garantir 20º de temperatura mínima como uma Passivhaus, e outro que foi definido numa base de 18º de temperatura mínima como o caso do que é exigido pela regulamentação em vigor. Isto para não falar no RERU, o Regime Excepcional para a Reabilitação Urbana, em que nem sequer existem requisitos mínimos a ser cumpridos.

No entanto verificamos com agrado que os requisitos regulamentares são cada vez mais exigentes para os edifícios, no que respeita à sua envolvente. Actualmente em Portugal, com um projecto pensado de raiz para ser uma Passivhaus, não há a necessidade de ter mais isolamento térmico do que aquele que já é exigido regulamentarmente. E isto é válido para qualquer parte do território nacional.

A obrigatoriedade dos NZEB, edifícios com necessidades quase nulas de energia, já a partir de 2019 e a evidência da Passivhaus como uma solução adequada para este novo paradigma, mostra que estamos no caminho certo.

A sustentabilidade é de facto um tema importante neste sector? é visível nas vossas formações e congressos?

A Passivhaus representa hoje aquilo que todos os edifícios no futuro terão de ser, ou seja, edifícios com baixíssimos consumos de energia, que permitem com facilidade ter uma balanço nulo ou até positivo, que proporcionam qualidade de vida aos ocupantes pelo conforto térmico e acústico e pela qualidade do ar interior e que são acessíveis economicamente.

O que esperam para 2017?

Esperamos continuar a colher os frutos do trabalho já realizado no passado e continuar a semear de modo a fazer crescer a Rede Passivhaus em todo o território nacional e contribuir para a melhoria do desempenho e também para a valorização do parque edificado em Portugal.