Évora: Aqueduto quinhentista da Água da Prata pode "renascer"
Projectado pelo arquitecto régio Francisco de Arruda a mando do rei D. João III, o Aqueduto Água da Prata foi inaugurado no ano de 1537 e abasteceu a cidade de Évora até aos anos 30 do séc. XX. Agora a Câmara de Évora pretende reabilitar e reactivar o a obra de engenharia hidráulica que permitiu durante 480 anos levar a água pública à Praça do Giraldo, no centro da cidade.
O projecto, que está a dar os primeiros passos, prevê que o aqueduto quinhentista possa voltar a transportar água, já não para consumo humano, mas para outros usos, disse hoje à agência Lusa o presidente do município, Carlos Pinto de Sá.
“Ainda que o objectivo não seja que o aqueduto sirva o consumo humano”, o que se pretende é que “sirva o consumo público, nomeadamente em termos de espaços públicos, de regas e de outros tipos de utilizações possíveis e alternativas”, explicou o autarca.
Perante a actual seca e com as alterações climáticas a ameaçarem tornar a água um bem cada vez mais escasso, a iniciativa visa dar “uma nova vida” a uma obra que que durante quase mais de quatro séculos permitiu levar o abastecimento público ao centro da cidade, a partir de nascentes.
“O consumo humano tem de ser assegurado através da água tratada da rede pública, mas podemos substituir as regas e a lavagem de espaços públicos” com a água do aqueduto e “até ter outro tipo de utilizações por exemplo nos jardins” ou “em instituições”, admitiu.
Apesar de o investimento necessário para reactivar e reabilitar o aqueduto não estar ainda “totalmente apurado”, o município, que procura apoios comunitários para as obras, considera que o custo é recuperável, graças à poupança que permitirá gerar.
“Serão custos que eu julgo que são facilmente recuperáveis porque [esta água] substitui água da rede”, a qual, “como se sabe, é água tratada e é cara. Portanto, a possibilidade de utilizar essa água” do aqueduto, vinda de origens alternativas, “pode pagar-se a si própria”, frisou.
Reabilitação patrimonial do aqueduto nenefia o turismo
O projecto, que será “mais uma vertente da candidatura de Évora a Capital Europeia da Cultura em 2027”, tem duas componentes, a “da recuperação do transporte de água” e “a própria recuperação patrimonial do aqueduto”, precisou.
“São duas coisas que, estando interligadas, têm de ser avaliadas de forma diferenciada” e “esses estudos estão ainda a ser feitos”, nomeadamente no que toca ao montante a investir, disse Carlos Pinto de Sá.
Por enquanto, realçou, já foi realizado “o levantamento da situação” em que se encontra o aqueduto, que apresenta “uma degradação acentuada em alguns troços”, e estão também a decorrer trabalhos para “verificar as origens da água, de forma a poder recuperá-las, e analisar a própria qualidade da água”.
O trabalho, continuou, também já incluiu o levantamento do estado em que se encontram as zonas adjacentes ao aqueduto, para serem incluídas na recuperação e poderem potenciar as visitas turísticas.
Com o projecto, assinalou, a câmara quer “mostrar que vale a pena recuperar saberes tradicionais” e “de uma cultura que teve a capacidade de trazer água até Évora há quase 500 anos”, mas cujo feito “se perdeu com as novas tecnologias”.
“Com o facilitismo de abrirmos a torneira e termos água disponível, criou-se a ideia de que estes recursos eram dispensáveis” e, então, foram abandonados, mas são “sistemas fundamentais” e, quando recuperados, podem “ter uma função moderna em relação à vida das sociedades e das pessoas”, defendeu o autarca.
A infraestrutura, como escreveu o historiador Túlio Espanca no livro “Encontro com a Cidade”, prolonga-se por cerca de 18 quilómetros “através de canalizações e arcaria de granito no estilo da Renascença”.
Lusa/DI
