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Projecto para antigo Hospital da Marinha em Lisboa gera protesto

9 de novembro de 2018

A questão não é inédita na cidade de Lisboa... sempre que um projecto afecta «vistas» de moradores há sempre quem proteste e o argumento mais invocado é, regra geral, apodar a arquitectura de agressiva ou mesmo «monstruosa». O caso mais recente é o projecto do atelier Samuel Torres de Carvalho, em apreciação na Câmara Municipal de Lisboa, apresentado pela Stone Capital, para a reabilitação do antigo Hospital da Marinha, em Santa Clara, junto ao recinto onde se realiza a tradicional Feira da Ladra.

O antigo Hospital da Marinha, em Lisboa, vendido há dois anos por quase 18 milhões de euros, vai ser reabilitado em breve e será destinado a usos mistos, projecto que um grupo de moradores contesta, apelidando-o de “monstro arquitectónico”.

“Trata-se de um projecto de reabilitação do antigo Hospital da Marinha, com componente habitacional, turística e terciário”, avançou à Lusa a empresa promotora Stone Capital, indicando que as obras iniciar-se-ão logo que a licença de construção seja emitida e o alvará posto a pagamento, o que se prevê para breve, “provavelmente em 2019”.

Concebido pelo atelier de arquitectura Samuel Torres de Carvalho — com uma vasta e elogiada obra na capital ao longo dos anos, de que são exemplo os Hotéis Memmo Alfama e Memmo Príncipe Real —, o projecto determina que “as obras terão um prazo estimado de 36 meses”, informou fonte da Stone Capital.

Questionada sobre a divisão de uso do imóvel, a empresa disse que “ainda estão por definir as tipologias definitivas dos apartamentos”. O empreendimento, que se designará em principio por Santa Clara Palace – envolve cerca de 23.300 m2 de área de construção, e 100 apartamentos com áreas entre os 40 e os 300 m2, jardim interior e piscina.

Polémica centra-se na edificação nova que tapa «vistas» da Rua do Paraíso

Os moradores contestatários tentam mobilizar a opinião da população da cidade para a sua causa através de uma petição pública que reclama: “Não à construção de prédios novos que vão descaracterizar o bairro de Alfama/São Vicente!”, e que conta já com mais de 560 assinaturas.

“O projecto para o antigo Hospital da Marinha tem duas vertentes: uma de reabilitação de edifícios existentes (o antigo hospital e uma antiga escola que fica ao lado), que não contestamos, e a segunda vertente é a construção de raiz, no antigo lote do estacionamento do extinto hospital, de novas enormes edificações, que são o motivo da nossa contestação”, afirmou à Lusa a porta-voz dos moradores, Catherine Morisseau.

Em 30 de Outubro, os moradores manifestaram-se sobre o projecto na Assembleia Municipal de Lisboa, através de uma petição presencial com cerca de 200 assinaturas, exigindo que o município “reavalie o projecto” e “não licencie as novas edificações”.

“As únicas operações urbanísticas que devem ser consentidas têm de ser operações de reabilitação do que existe e não se deve permitir novas edificações”, defendeu Catherine Morisseau, apelando a que a Câmara Municipal de Lisboa cumpra o seu dever de defesa da identidade e autenticidade desta zona emblemática da cidade que, “atendendo à sua história e beleza, tem de ser preservada por forma a impedir que apareçam construções novas que a descaracterizariam e desfigurariam”.

Sobre a contestação, a empresa Stone Capital disse que não tem conhecimento do que é dito pelos moradores, declarando que “as servidões de vistas regulamentares invocáveis estão respeitadas”.

Situado no Campo de Santa Clara, junto ao Panteão Nacional, uma zona histórica da capital, o Hospital Real da Marinha foi criado em 1797, pelo alvará do príncipe regente D. João, inaugurado em Novembro de 1806 e encerrado em 2013.

Com sete pisos e uma área bruta privativa de 14.980 metros quadrados, o edifício das antigas instalações do Hospital da Marinha foi adquirido em Abril de 2016, numa hasta pública promovida pela Direcção Geral do Tesouro e Finanças.

O imóvel tinha um valor base de licitação de cerca de 12 milhões (12.032.000 euros), teve mais de 30 disputas e foi arrematado por quase 18 milhões de euros (17.936.500 euros), por um investidor privado de origem francesa.

Lusa/DI