Não há sinais de uma bolha imobiliária
Aniceto Viegas, director geral da promotora Avenue, está convicto que a aposta na reabilitação urbana tornou a cidade de Lisboa mais atractiva e competitiva e não existe receio de uma bolha imobiliária.
Em entrevista ao Jornal Económico revela que Lisboa é uma cidade cheia de potencial do ponto de vista turístico, habitacional, empresarial e comercial e era lamentável que tantos edifícios históricos estivessem subaproveitados ou abandonados. “Felizmente, nos últimos anos, temos assistido a uma elevada procura por estes edifícios, o que veio potenciar a aposta dos promotores na reabilitação dos mesmos, proporcionando o regresso à cidade. A aposta na reabilitação tornou a cidade de Lisboa cada vez mais atractiva em termos turísticos, criando-se também uma dinâmica interessante entre estes dois sectores tão distintos”, admite.
O responsável adianta que a reabilitação urbana verifica-se essencialmente nos edifícios históricos e especialmente no centro da cidade, edifícios que são muito valorizados pelo potencial comprador. Esta procura reflecte-se e evidencia-se pelo facto da venda da maioria destes imóveis ser feita ainda em planta.
Relativamente às críticas que têm surgido nos últimos tempos sobre a renovação do centro de Lisboa para o mercado de luxo, turismo e para os estrangeiros e os preços demasiado altos levando ao afastamento da população lisboeta para fora das zonas históricas, Aniceto Viegas explica que a reabilitação urbana começou pelo mercado hoteleiro e nos últimos seis anos surgiram cinco mil novos quartos apenas em Lisboa. “Este facto é inegável e muito tem contribuído para a ideia que o centro da cidade está ‘reservado’ para os estrangeiros e para o turismo”.
Apesar disso, o responsável salienta na entrevista que o mercado residencial tem vindo a conquistar terreno e são cada vez mais os imóveis que são reabilitados com este fim. No entanto, a oferta continua a ser reduzida, e este aspecto valoriza naturalmente os imóveis que estão disponíveis, a exemplo do que aconteceu com outras cidades a nível europeu. “Ainda assim, curiosa e contrariamente à ideia que só os estrangeiros têm condições para adquirir estes imóveis, no caso da Avenue, 40% dos compradores em Lisboa são nacionais e no caso do Porto, os compradores portugueses são cerca de 95%”, garante.
Quanto ao receio da tão falada bolha imobiliária, Aniceto Viegas assegura que o mercado imobiliário português, em linha com a realidade nacional, recuperou grande parte da sua dinâmica. O investimento imobiliário disparou mesmo para níveis históricos, o que fez com que Lisboa já fosse considerada como “cidade-refúgio” para os investidores, tanto nacionais como internacionais. “Este fenómeno tem levantado frequentemente o alerta para o risco de formação de uma bolha especulativa, mas o mercado continua a vender em planta e não a criar stock, ou seja, não há ainda sinais de bolha”, admite. Por outro lado, o responsável revela que a oferta continua abaixo dos níveis da procura. Relativamente aos preços de venda, o expectável será uma tendencial estabilização do preço dos imóveis (que continuará contudo a registar algum crescimento), mas que poderá não ser acompanhado de um incremento substancial do mercado de arrendamento, que revela uma dependência directa da economia interna (as rendas tenderão a acompanhar mais a inflação, excepto no que respeita ao arrendamento de curta-duração). “Não será por isso o momento de falar em bolha imobiliária, mas sim da tendencial estabilização da rendibilidade do investimento imobiliário”, assegura.
Investir 200 milhões de euros até 2020
A Avenue, empresa de promoção imobiliária, prevê investir 200 milhões de euros em projectos de reabilitação urbana até ao final de 2020, estando o investimento orientado para edifícios ou terrenos localizados em zonas prime. Desde 2015, e fruto de um plano inicial de investimento de 100 milhões de euros estão actualmente sete projectos em curso, seis em Lisboa e um no Porto. Os restantes 100 milhões de euros estão previstos para o triénio 2018-2020.
Entre os projectos em construção destaque para o edifício da Rua António Maria Cardoso, no Chiado, deram-lhe o nome de Orpheu XI porque foi o local onde Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, lançaram a revista Orpheu, em 1915. O Liberdade 203 e o 266 Liberdade, o emblemático edifício do Diário de Notícias, é a reposição da fachada original do edifício e a recuperação dos painéis do Almada Negreiros, existentes no espaço comercial.