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Mercado imobiliário português ‘treme’ com a guerra na Ucrânia

14 de março de 2022

Os efeitos da ofensiva da Rússia em território ucraniano já são sentidos, além das trágicas consequências de perda de vidas humanas e devastação de património. A guerra que rebentou no dia 24 de Fevereiro causou grande impacto na economia mundial, sobretudo europeia. Em Portugal, já se sente os efeitos da guerra e a subida galopante dos combustíveis são o primeiro sinal do que poderá estar por vir.

Apontado já em 2021 e no início de 2022 que um dos desafios para o sector é o aumento dos custos de materiais e da construção e a escassez de mão-de-obra especializada, sobretudo num momento em que se pede mais construção para fazer face à procura de casa, esta guerra pode ser mais um entrave a esta situação.

O Diário Imobiliário questionou os responsáveis pelas principais associações do sector sobre as preocupações com as consequências desta guerra para o mercado imobiliário.

Todos são unânimes que a maior consequência será mesmo o agravamento do custo dos materiais e da construção e não tanto, o investimento russo realizado no imobiliário português, até porque este último, não é expressivo.

Manuel Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário – CPCI, revela que o investimento directo por parte de cidadãos russos, tem um impacto limitado, uma vez que o seu peso relativo é reduzido. “No ano passado foram registados, no âmbito do Programa de Vistos Gold, 65 autorizações de residência por investimento a cidadãos russos. Por seu turno, as estimativas apontam para que o investimento imobiliário, em 2021, tenha atingido cerca de 30,9 mil milhões de euros, dos quais 5,1 mil milhões de origem estrangeira”, explica o responsável.

Já no que diz respeito à evolução dos custos das matérias-primas, da energia e dos materiais de construção os quais, que já se encontravam numa trajectória de forte subida, “estamos perante um impacto potencial muito significativo. De igual modo, os preços dos combustíveis sofreram já um grande aumento e estão em máximos históricos, pelo que, neste cenário, o agravamento dos custos de construção é uma consequência incontornável para o mercado”.

Também Hugo Santos Ferreira, presidente da APPII -  Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, que reforça todo o apoio dos promotores imobiliários ao povo ucraniano, indica que mesmo que já tenha sido cancelado a autorização de vistos gold aos cidadãos russos, terá algum impacto no mercado imobiliário mas não tão expressivo  quanto as consequências de uma guerra às portas da Europa. “Só este facto, pode naturalmente criar algum impasse em qualquer investimento estrangeiro. É sabido que a desestabilização é um dos factores que leva ao retraimento na captação de investimento”, indica Santos Ferreira.

Para o presidente da APPII, as principais consequências serão igualmente os aumentos dos custos das matérias-primas para a construção e que naturalmente vão ter impacto na oferta de casas. “A falta de oferta de casas e de habitação nova tem sido um dos factores que tem levado ao constrangimento do mercado imobiliário nos últimos tempos e a consequente subida dos preços, sobretudo em determinadas zonas das cidades de Lisboa e Porto”.

Paulo Caiado , presidente da APEMIP - Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal avança que desde o início do Programa dos chamados “Vistos Gold” o montante global de investimento de cidadãos Russos, foi de 277 milhões de euros, correspondendo a menos de 4 % do valor global investido. “Não me parece previsível que a exclusão destes investidores que tiveram reduzida  expressão ao longo dos últimos 12 anos, possa ter impacto significativo no mercado imobiliário”, e acrescenta também que relativamente ao aumento de custos das matérias primas e em particular dos custos energéticos, “obviamente terá repercussões em todos os domínios do nosso ‘tecido’ económico e o imobiliário não será excepção”.

O embargo internacional à Rússia e o afundamento da economia russa está a ter consequências na economia mundial. Em Portugal, os preços estão a subir e espera-se um agravamento, o que irá fragilizar os orçamentos das famílias portuguesas. Como isso irá afectar também o imobiliário português? 

Para esta questão, Reis Campos responde que o cenário de agravamento dos custos de construção é já uma realidade. “No dia 23 de Fevereiro, ou seja, na véspera do início da intervenção militar russa na Ucrânia, as cotações do Aço em Varão para Betão na Bolsa de Londres registavam um crescimento de 6% desde o início do ano, o Alumínio subia 18% e o Cobre 3%. Desde esse dia até dia 7 de Março, ocorreram subidas de 14,9% no Aço em Varão para Betão, 19,9% no Alumínio e 7,2% no Cobre”, avança o presidente da CPCI. Segundo Reis Campos, este é um problema que necessita de medidas concretas, “capazes de apoiar as empresas e as famílias uma vez que as pressões inflaccionistas e a incerteza acrescida afectam a confiança dos investidores e as suas expectativas para os projectos previstos e, consequentemente, poderão impactar negativamente o mercado, caso esta tendência de agravamento se mantenha como, para já, tudo indica”.

Hugo Santos Ferreira, corrobora a necessidade de se criarem medidas para mitigar este problema, sobretudo de ajudar as empresas baixando a carga fiscal e acelerar os licenciamentos. No entanto, admite que já se conseguiu ultrapassar outras crises e que também iremos superar esta.

Já Paulo Caiado mantém o optimismo reforçando que “se por um lado existe no actual momento uma conjuntura marcada pela incerteza, é também previsível que o imobiliário represente uma perspectiva de contraciclo com a volatilidade que está a caracterizar os mercados mobiliários”. O presidente da APEMIP revela mesmo que uma das consequências poderá ser o aumento de interesse em alocar recursos financeiros a activos imobiliários. “De qualquer modo julgo ser demasiado cedo para termos o real ‘pulsar’ do impacto que estes acontecimentos irão ter na generalidade das famílias portuguesas”, finaliza.