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EUA a caminho de nova bolha imobiliária?

2 de outubro de 2017

Ninguém se esquece que foi nos EUA com o subprime que ‘estalou’ a crise mundial e no imobiliário. Quase dez anos depois, podem estar novamente à beira de uma bolha imobiliária.

Segundo os últimos dados do Departamento do Comércio norte-americano e divulgados pelo DI, a venda de casas novas nos Estados Unidos baixou 3,4% em Agosto, um recuo anual de 560 mil unidades, o nível mais baixo nos primeiros oito meses deste ano. A taxa anual de venda apresentou um recuo de 1,2%, face aos resultados obtidos em Agosto de 2016.

Contudo, o Departamento do Comércio norte-americano referiu que o preço médio das habitações novas situou-se, em Julho, em 252.573 euros (300.200 dólares), um aumento de 0,4% face ao ano anterior.

Em Agosto, o inventário de novas habitações postas à venda situou-se em 284 mil unidades, o que, de acordo com o ritmo de venda, levaria mais de seis meses a esgotar-se.

As casas novas representam, aproximadamente, 7% do mercado de habitação residencial nos EUA.

Os mesmos sinais

Nos últimos meses, multiplicaram-se desde o ano passado os alertas de economistas, analistas financeiros e órgãos públicos. Os mesmos sinais da iminência da crise desencadeada em Setembro de 2008, com a falência do banco Lehman Brothers, ressurgiram e já se desenha a ameaça de uma reedição ainda mais destrutiva.

Segundo escreve o site brasileiro Resumo Imobiliário, sobre um artigo publicado na revista Carta Capital, os preços dos imóveis ultrapassaram num ápice os de há nove anos, os financiamentos estudantis e a dívida com cartões de crédito aumentaram de modo preocupante e a cotação das acções atingiu novos recordes históricos.

No primeiro trimestre deste ano em relação aos três meses anteriores, segundo a Federal Housing Finance Agency, órgão do governo para supervisão e regulação do setor habitacional, . o preço das habitações subiu 1,4%. “Em comparação com o mesmo período do ano passado, o aumento atingiu 6% em média e ocorreu em 48 estados nos EUA. O indicador da FHFA superou o pico alcançado em 2008, de 370 pontos, e chegou a mais de 380 pontos em 2016”, lê-se no artigo.

Além disso, segundo o Federal Reserve, os empréstimos estudantis aumentaram quase 100 mil milhões de dólares por ano e agora totalizam o valor recorde de 1,3 triliões. A Carta Capital avança ainda que a dívida com cartões de crédito chegou a 1 trilião de dólares no começo do ano, conforme uma projeção da CreditCards realizada com base em números do Fed, e é a mais alta desde janeiro de 2009, no pico da Grande Recessão.

A sombra a pairar com uma nova ‘bolha’ imobiliária acontece apartir dos números apresentados. A revista brasileira salienta ainda que a construção de novas casas diminuiu em Abril pela terceira vez em quatro meses, tendência que provavelmente agravará a escassez e elevará os preços em um momento de demanda crescente, alerta um artigo do Wall Street Journal.

Michael Hudson, professor da Universidade do Missouri e autor de livros sobre as bolhas de activos e o parasitismo financeiro, referido no artigo, revela que a causa do crescente valor do arrendamento e dos preços depois de 2008 “é a tomada, principalmente pelos fundos de hedge, das habitações de 10 milhões de americanos por falta de pagamento.

Fundos gigantes como o Blackstone estão a especular e a aumentar os preços

Hoje, poucos investidores muito ricos, diz, entre fundos gigantes como o Blackstone e indivíduos multimilionários, concentram grandes quantidades de unidades habitacionais para especular e aumentar os preços. “Eles estão realmente a colocar a guerra de classes no negócio”, alerta o economista.

William Poole, da Universidade de Delaware e ex-presidente do Fed de Saint Louis, refere também que “os relatórios anuais de 2016 das agências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, patrocinadas pelo governo, seguramente mostram que a emissão de hipotecas de alto risco novamente é uma força que nos últimos quatro anos impulsionou em cerca de 30% os preços das casas, que voltaram ao pico elevado de 2006”.

Apesar de muitos dos indicadores poderem ser os mesmos, Hudson revela que o caráter da crise de agora é diferente.

“Milhões de pessoas já perderam suas casas e houve um deslocamento da habitação, das mãos fracas para as mãos fortes, como dizem os economistas. E eles aplaudem porque, em vez de famílias pobres, minorias de afro-americanos e hispânicos comprando residências muito além de seus recursos, como ocorreu há nove anos, esses imóveis foram perdidos ou tiveram suas hipotecas executadas por falta de pagamento da dívida e os fundos de hedge compraram-nas a pronto e com dinheiro vivo”, escreve. O economista explica que os fundos de hedge e Wall Street perceberam que, com tais juros, em vez de revender as propriedades tomadas por falta de pagamento das hipotecas, poderiam ganhar muito mais dinheiro arrendando-as ou especulando.

O New York Times admite ainda, com base em informações do governo, que o optimismo quanto à recuperação da economia aumentou e a prova estaria no facto de que os cidadãos estão a assumir novos compromissos financeiros.

Hudson diz que o facto, é que as pessoas não estão a realizar mais empréstimos por se sentirem optimistas quanto à economia, mas por não conseguirem equilibrar as contas e pagar a sua habitação e a sua educação sem se endividar ainda mais. E precisam desembolsar tanto dinheiro para cobrir o serviço da dívida que não podem se dar ao luxo de comprar bens e serviços”. 

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