Centenas de cidades sem planos para enfrentar alterações climáticas
Quase metade de 812 cidades mundiais analisadas por uma organização independente ligada ao ambiente (CDP) não tem planos para enfrentar as alterações climáticas, segundo um relatório divulgado hoje.
O documento a que a Lusa teve acesso inclui 25 cidades portuguesas, 76% das quais têm planos de adaptação, um valor muito acima da média global.
Em relação ao total das cidades que disponibilizaram dados para o relatório verifica-se que, embora 93% das cidades tenham declarado enfrentar riscos ambientais, 353 (43%) delas não indicaram ter qualquer plano de adaptação.
A falta desses planos significa, alerta a organização, que uma população estimada em 400 milhões de pessoas na próxima década vive em cidades mal preparadas para enfrentar as alterações climáticas.
O relatório hoje divulgado assinala os 10 anos de cidades que comunicam dados ambientais ao CDP, uma organização sem fins lucrativos que gere o sistema mundial de divulgação ambiental para empresas, cidades, estados e regiões.
O CDP foi fundado em 2000 e actualmente mais de 10.000 organizações, 9.600 empresas e quase mil cidades e regiões, divulgam dados através da entidade, que analisa os progressos que estão a ser feitos para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, em conformidade com o Acordo de Paris.
No relatório, o CDP salienta que um plano de adaptação é essencial para que uma cidade consiga enfrentar os riscos decorrentes das alterações climáticas, e diz que os estudos demonstram que a Europa já tem a taxa de mortalidade mais elevada devido a ondas de calor, ao mesmo tempo que os dados da União Europeia associam uma em cada oito mortes à poluição.
Destacando o investimento como fundamental, o relatório indica que globalmente 25% das cidades que participaram referiram o orçamento como o principal obstáculo para a falta de ações de adaptação.
Entre as 157 cidades europeias que fazem parte do relatório foram assinalados como necessários mais de 10 mil milhões de euros para avançar com projetos específicos relacionados com o clima.
Em termos globais, as cidades justificam que os projectos que precisam de financiamento mais urgente dizem respeito a transportes, energias renováveis, eficiência energética e gestão da água. Questões ligadas a habitação e a pobreza são também barreiras a ações de adaptação aos extremos climáticos.
No documento também se conclui que 41% das cidades ainda não têm uma avaliação dos riscos e vulnerabilidades relacionadas com o clima, o que seria fundamental para identificar pessoas, infraestruturas e recursos em risco devido aos crescentes perigos físicos de um clima em mudança.
A investigação mostrou que as cidades com essas avaliações relatam 2,7 vezes mais acções do que aquelas que ainda as não têm.
Como positivo os investigadores responsáveis pelo relatório referem os grandes progressos dos últimos 10 anos. Em 2011 existiam apenas 30 cidades com planos de adaptação, em comparação com as atuais 459, 120 das quais na Europa.
Na Europa, das cidades que participaram, 103 têm objetivos de redução de emissões de dióxido de carbono. E 49 têm objetivos alinhados com o Acordo de Paris, de impedir que as temperaturas subam mais do que 1,5º Celsius em relação à época pré-industrial.
Quanto às acções que as cidades estão a tomar para se adaptarem, 20% disseram que estão a plantar árvores e a criar espaços verdes e 18% referiram o mapeamento das zonas de cheias. A título de exemplo Berlim lançou o programa “1000 telhados verdes” e Paris criou “ilhas frias” para gerir o impacto das ondas de calor. Malmo, na Suécia, decidiu que todos os novos edifícios têm de estar três metros acima do nível do mar.
“As cidades europeias têm de ser uma força motriz para a concretização de uma União Europeia neutra em termos climáticos até 2050 e para alcançar a nova meta ambiciosa de redução de emissões para 2030”, diz no relatório a responsável pelas políticas para a Europa, Mirjam Wolfrum.
A responsável lembra que a crise sanitária provocada pela pandemia de covid-19 desviou fundos para acções prioritárias, mas acrescenta que “a ação ambiental não pode abrandar” e que os governos têm agora uma oportunidade para uma recuperação verde das cidades, com os pacotes de estímulo divulgados.
“Como primeiro passo para gerir as ameaças climáticas, cada cidade deve realizar uma avaliação do risco climático e da vulnerabilidade para identificar as ações cruciais que deve tomar”, adverte.
As cidades produzem 70% das emissões de dióxido de carbono e na Europa albergam três quartos da população.
LUSA/DI