Centro Histórico do Porto tem plano de sustentabilidade para uma década
O novo Plano de Gestão e Sustentabilidade do Centro Histórico do Porto património mundial, apresentado hoje, vai assentar em quatro eixos: património, população, economia, ambiente e mobilidade, numa estratégia para a próxima década.
“Nos próximos dez anos, queremos que o nosso centro histórico sendo respeitador do valor universal excepcional, (…) seja sustentável e não dependa de vontades, de políticas erráticas de conservação, mas que se sustente pela própria natureza do seu plano de salvaguarda”, assinalou o coordenador do Plano de Gestão e Sustentabilidade do Centro Histórico do Porto, Ponte Luiz I e Mosteiro da Serra do Pilar (CHPPM), Rui Loza, que apresentou esta manhã, numa iniciativa em formato digital, os principais eixos estratégicos.
O plano começou a ser preparado pela Câmara do Porto, através da empresa municipal Porto Vivo, SRU, no início de 2020, com a colaboração de diferentes agentes do tecido social, tendo-se baseado também no intercâmbio de conhecimento no âmbito do projecto europeu “AtlaS.WH – Património no Espaço Atlântico: Sustentabilidade dos Sítios Urbanos Património Mundial”, uma parceria internacional, entre cinco cidades Porto, Bordéus, Florença, Edimburgo e Santiago de Compostela.
Monumentos e sítios «em perigo»
O centro histórico do Porto é um dos três sitos incluídos no mais recente Relatório Mundial sobre Monumentos e Sítios em Perigo, revelado em Janeiro, onde estão identificados um total de 14 obras ou projectos em andamento ou realizados na área do centro histórico do Porto, entre os quais o projecto da Time Out para a ala sul da Estação de São Bento.
Sem pôr em causa o bem patrimonial, Rui Loza salientou que pretende-se ainda que o CHPPM, continue a ser atractivo para residentes, investidores e visitantes, integrador de comunidades diversificadas, activas e intergeracionais, com forte reconhecimento nacional e internacional.
Eixos estratégicos
Para cumprir essa missão o plano, desenvolve-se em quatro eixos estratégicos: Património (1), População, Habitação e Comunidade (2), Economia (3), Ambiente e Mobilidade (4).
No primeiro eixo estratégico pretende-se garantir a salvaguarda e valorização do património tangível e intangível, através da reabilitação sustentável, de uma gestão urbanística integrada e da capacitação, reconhecimento e divulgação do bem excecional.
No eixo 2, o objectivo assenta no aumento da população residente e dos níveis de conforto habitacional e no reforço da coesão e valores comunitários.
No eixo da Economia, o plano aposta na promoção da diversidade, inclusão e sustentabilidade económica e na promoção da criatividade e da inovação, tendo como uma das linhas de acção o turismo inclusivo e sustentável.
Por último, no eixo do Ambiente e Mobilidade, pretende-se melhorar a mobilidade e sustentabilidade, reforçar a sustentabilidade ambiental e aumentar a resiliência.
Porto não é só Turismo...
Na sua intervenção, o arquiteto começou por traçar um diagnóstico, onde foram identificadas vulnerabilidades sociais na área do Centro Histórico, onde a população é mais idosa, com nível de escolaridade baixo, e onde o desemprego e o número de famílias com fragilidades económicas é elevado.
Já em matéria de mobilidade e sustentabilidade, referem-se como principais problemáticas, a falta de estacionamento para residentes, as diferenças de cota no território, e aponta-se, entre outras, a necessidade diminuir a circulação automóvel e de intervir de forma “urgente” no tabuleiro da Ponte Luiz I, dando segurança aos transeuntes.
Durante o debate, Rui Loza, esclareceu não estar previsto no plano de gestão do CHPPM alterar regulamentos, mas é produzir, ao longo da próxima década mais manuais de boas práticas no sentido de apoiar técnicos, os promotores, os donos de obra, para utilizando essas boas práticas tenham a vida facilitada.
Numa intervenção que abriu a iniciativa, o vereador do Urbanismo da Câmara do Porto, Pedro Baganha, referiu que o desafio “é fazer perceber a todos os actores intervenientes na construção da cidade que o valor patrimonial pode e deve ser integrado na equação económica do investimento”.
Durante a manhã, também o vereador da Economia, Turismo e Comércio, Ricardo Valente, abordou a temática da preservação do património cultural versus economia, tendo salientando que “a lógica de que a cidade do Porto é só turismo, é uma lógica que já não corresponde”.
Segundo o responsável do pelouro, o investimento empresarial, ultrapassou o investimento turístico na cidade do Porto, de acordo com os dados da Invest Porto.
Lusa/DI