CBRE analisa o sector dos cuidados de saúde e residências seniores em Portugal
De acordo com o estudo ‘Building a healthier and more thriving future’, divulgado hoje pela consultora imobiliária CBRE, mais de um terço da população residente em Portugal em 2050 será sénior, o que equivale a um total de 3,3 milhões de pessoas (mais 1 milhão que os atuais 2,3), pelo que serão necessárias mais 55 mil camas em residências seniores, metade do que existe actualmente – concluem os autores do relatório.
O estudo desenvolvido pelo departamento de Research da CBRE analisa o sector dos cuidados de saúde e residências seniores em Portugal, destacando a atractividade destes activos para operadores e investidores.
Potencial de crescimento da procura elevado
Portugal é actualmente o terceiro país na Europa com um maior peso de população idosa (+ 65 anos) e em 2050 será o primeiro. Consequentemente, “o índice de dependência está previsto quase duplicar nos próximos 30 anos, tornando-se em 2050 o mais elevado na Europa, com uma estimativa de 63 idosos para cada 100 pessoas em idade activa” – refere o estudo.
Apesar de ser dos países com maior esperança média de vida na Europa, Portugal é também o país onde o número médio de anos de vida sénior saudável é menor.
Rendimento médio dos portugueses dificulta
“O elevado preço das residências seniores tem sido um dos entraves ao crescimento da oferta, mas a população está mais consciente e começa a criar complementos à reforma”, constata o estudo
“O valor de uma estadia numa residência privada é elevado para o rendimento médio dos portugueses, pois inclui elevados custos de pessoal associados a um acompanhamento 24 horas e a serviços médicos, tornando-se um dos principais obstáculos ao crescimento da oferta em Portugal” – adianta o documento da CBRE, que adianta: “Os preços em residências privadas variam consideravelmente consoante o grau de dependência do residente, cuidados médicos necessários e serviços adicionais (como actividades de lazer, cabeleireiro, etc.). O preço base médio numa residência privada com uma gestão profissionalizada é de aproximadamente 1.200 euros, o que representa um custo muito elevado face ao valor médio das pensões de reforma, que é de 5.811 euros/ano, ou seja, 484,25 euros/ mês, em Portugal, atingindo um valor máximo de 771,25 euros/mês em Oeiras”.
A casa adquirida pode ser um complemento de reforma
“Contudo - continua o estudo -, a população portuguesa, nomeadamente a classe média, está hoje mais consciente deste problema e utiliza soluções particulares de poupança, incluindo o esforço de aquisição de casa, cujo valor poderá ser monetizado ou rentabilizado na velhice para suportar o pagamento dos cuidados necessários na idade maior. Importa lembrar que em Portugal 75% das casas são propriedade do próprio ocupante e a venda ou o arrendamento da mesma permitirá complementar o valor da reforma”.
O documento chama a atenção para o diversos factores, como a segurança, o clima e os incentivos fiscais, que têm contribuído para a atracção de estrangeiros reformados para Portugal, os quais, de um modo geral, têm um valor de reformas muito superiores aos dos portugueses. “O aumento de estrangeiros a viver em Portugal tenderá a reflectir-se num acréscimo da oferta de residências sénior de maior qualidade e com uma maior oferta de equipamentos e serviços” – conclui o estudo, que constata que “a oferta residencial destinada à população sénior é ainda escassa e pouco qualificada. No entanto, estão a surgir novos operadores com ambiciosos planos de crescimento.” - adianta
Necessárias 55.000 camas até 2050
Existem actualmente cerca de 100.500 camas em ERPI (Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas), das quais apenas 23% pertencem a entidades privadas com fins lucrativos. A que acrescem pouco mais de 10 mil camas na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), mais de metade geridas por Misericórdias.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a oferta de camas em residências para seniores deve corresponder a 5% da população idosa. Deste modo, Portugal está actualmente com um défice de 4.500 camas e até 2050, deveriam ser criadas pelo menos mais 55.000, ou seja, metade do que existe actualmente.
Operadores internacionais já presentes no mercado
A consultora internacional sublinha no estudo que para se atender a esse procura crescente, e atingir o objectivo definido pela OMS, “será necessária uma maior participação do sector privado”. Adianta que diversos operadores de residências para seniores estrangeiros entraram recentemente em Portugal e têm já residências em funcionamento ou em projecto, casos da Orpea, a Domus Vi, a Domitys e a Clece; a que se juntam operadores portugueses como a UHub, a Amera, a BF, entre outras.
A CBRE tem conhecimento de mais de 20 projectos em construção ou em fase de licenciamento, compreendendo uma capacidade superior a 1.500 camas. Dada a escassez de oferta, prevê-se que possam surgir mais - conclui. “O investimento em Portugal é ainda reduzido, mas deverá aumentar à medida que são desenvolvidos novos projectos”.