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Opinião

Francisco Mota Ferreira

Precisam-se de linhas verdes na Habitação

26 de fevereiro de 2024

As propostas dos partidos políticos, vertidas nos respetivos programas eleitorais, estão ao nível da lista de desejos ou, se quisermos, das cartas que os miúdos mais pequenos enviam ao Pai Natal: são um projeto de boas intenções, mentirinhas piedosas que ambas as partes sabem bem que não é verdade, mas que ficam bem dizer, para que o velhinho de barbas brancas seja crédulo, bondoso e dê aos pirralhos, que durante todo o ano foram uma verdadeira peste, o presente supostamente merecido. Sendo que, neste exemplo, a lógica está invertida e nós, os eleitores, somos o bondoso Pai Natal enquanto que os miúdos malcomportados são os partidos políticos e os seus candidatos.

No que na Habitação diz respeito é gritante o desfasamento entre o que deveria ser feito, o que pode ser feito e o que, no final do dia, a burocracia, a inércia ou qualquer outra desculpa esfarrapada irá permitir fazer.

Não vou aqui falar das medidas dos respetivos partidos, que foram já anunciadas e dissecadas em vários fóruns. Os programas políticos das várias candidaturas são públicos e quem esteja genuinamente interessado (ou, vá, seja suficientemente masoquista) sabe bem que a facilidade para os consultar é enorme.

O meu ponto, nestas linhas é apenas este: quem se der ao trabalho de comparar os vários programas percebe claramente que há medidas complementares, outras antagónicas e até algumas que surpreendentemente são comuns.

Ora, por mais voltas que se queira dar ao texto, entre a panóplia de candidatos que existem a disputar as próximas eleições, o facto é que apenas Luís Montenegro, pela AD, ou Pedro Nuno Santos, pelo PS, terão condições eleitorais para liderarem o próximo Governo.

Tendo em conta a premissa do que referi no parágrafo anterior e sabendo todos nós que a Habitação é, neste momento um dos problemas mais complexos e de difícil resolução que qualquer Governo terá entre mãos, seria do mais elementar bom senso que, em vez de andarem preocupados a tentar perceber se PS viabiliza a AD ou se a AD deixa passar o PS, que ambos se entendessem nas linhas essenciais que defendem em comum para que, fosse quem fosse o vencedor, saber-se-ia à partida com o que se poderia contar em temas tão sensíveis como a Habitação.

Há outros, claro está, onde estes entendimentos seriam salutares e muito bem-vindos. Mas, tendo em conta o que temos visto e lido sobre a (pré)campanha já me daria por muito feliz que, pelo menos na Habitação, existisse esse consenso e, em vez de linhas vermelhas, partidos e candidatos se esforçassem genuinamente para encontrar linhas verdes de entendimento e progresso para Portugal e para os Portugueses.

Mas, pelo que se tem visto, lido e ouvido, se calhar também tenho de escrever uma carta ao Pai Natal…

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio)

* Texto escrito com novo Acordo Ortográfico