Portugueses "habituaram-se" a passar frio dentro de casa
Segundo um inquérito à população portuguesa, residente em Portugal, sobre o conforto térmico de suas casas, realizado pelo Portal da Construção Sustentável (PCS), a maioria dos inquiridos (89%) considera a sua casa desconfortável termicamente e apenas 11% diz habitar uma casa confortável, sendo que para isso, necessita de gastar energia em climatização. São 88,4% os que dizem ter tido um aumento significativo do consumo de energia para climatizar a casa e, verificou-se ainda que, em todos os distritos do país, o desconforto térmico é geral.
Mais de 50% dos portugueses, assume ter passado mais frio em casa este inverno, devido ao aumento do custo de energia. E a razão é simples, habituaram-se a passar frio (61%), para não consumirem mais energia, uma vez que assumem não conseguir pagar a factura.
Infelizmente, 64% dos portugueses sentem frio em casa, (mais de metade) e recorrem a equipamentos e a mais roupa para superar as necessidades de conforto térmico. 32% recorre só a equipamentos e 16% recorre a mais roupa e a razão pela qual recorrem a mais roupa é, na sua maioria, para pouparem dinheiro. O que denota a pobreza energética em que o país vive.
Estima-se que mais de 34 milhões de pessoas em toda a União Europeia vivam em diferentes níveis de pobreza energética. Portugal é, segundo as estatísticas europeias, um dos piores países europeus nesta matéria. Segundo a Estratégia Nacional de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética 2021-2050, entre 1,2 e 2,3 milhões de portugueses vivem em situação de pobreza energética moderada e entre 660 e 740 mil pessoas encontram-se numa situação de pobreza energética extrema.
O desconhecimento dos portugueses relativamente aos materiais fundamentais na construção de um edifício é geral! Este facto irá refletir-se no conforto térmico, uma vez que no ato da compra/arrendamento, a maioria deles não está interessada em saber como foi construída a sua casa, ou que tipo de materiais utilizou (53%). A principal preocupação é, efectivamente o preço. Por outro lado, os portugueses, se questionados sobre se foi ou não um profissional que desenhou e acompanhou a obra de sua casa (no caso de moradias isoladas), a maioria não contratou um arquiteto para desenhar a sua casa e preferiu comprar pronta, porque "gostam do que veem na altura da compra". Nem sabem do que se trata quando questionados sobre o "Sistema de Certificação Energética". obrigatória desde 2007, a maioria dos inquiridos diz não saber qual a etiqueta de sua casa ou não saber do que se trata.
Não é demais referir que quem constrói para vender, não se preocupa com as patologias que irão surgir no futuro, uma vez que o período de garantia no sector da construção é de apenas de cinco anos (só mais dois do que em qualquer equipamento electrónico...). Enquanto assim for, este setor não vai melhorar... já que as patologias inerentes ao setor da construção dão-se maioritariamente depois dos cinco e até dos 10 anos ou mais, da construção finalizada.
Segundo consta, o Governo irá abrir candidaturas, através do Fundo Ambiental, para atribuição de financiamento para que os portugueses melhorem o conforto térmico de suas casas, com base numa construção mais sustentável. Segundo o inquérito do PCS, sobre as anteriores candidaturas, foram apenas 8% aqueles que se candidataram e obtiveram financiamento. Ou seja, menos do que uma família num universo de 100 famílias, fez uma candidatura e conseguiu financiamento.
Dos financiamentos atribuídos, a maioria apostou na compra de novas caixilharias, seguido de (por ordem decrescente), investimento em painéis solares fotovoltaicos, ar condicionado, bomba de calor, recuperador de calor a pallets e painéis solares térmicos. Daqueles que obtiveram financiamento, a maioria diz que o conforto térmico melhorou. Mas, em termos de materiais de construção, apenas as janelas foram tidas em consideração para melhorar o conforto térmico. Não houve qualquer inquirido que tenha usado o financiamento para isolar a sua casa. Este apoio foi também muito utilizado para colocação de bombas de calor e ar condicionado (ambos grandes consumidores de energia).
Em Dezembro de 2021, a Comissão Europeia propôs uma revisão da Energy Performance of Buildings Directive (EPBD), como parte do pacote apto para cumprir um mínimo de 55% de redução das emissões com efeito de estufa até 2030, já legalmente exigido ao abrigo da Lei Climática Europeia de 2021. Esta revisão da EPBD, estabelece como a UE pode alcançar emissões zero e um parque imobiliário totalmente descarbonizado até 2050, aumentando a taxa de reabilitação dos edifícios com pior desempenho, em cada Estado Membro da UE.
A partir de 2030, todos os novos edifícios na UE devem ter emissões zero (2027 para todos os novos edifícios públicos). Os edifícios não residenciais com o certificado de desempenho energético (energy performance certificate - EPC) mais baixo, G, deverão ser reabilitados pelo menos para a classe F até 2027, e pelo menos para a classe E até 2030. Entretanto, todos os edifícios residenciais de classe G terão de atingir a classe F até 2030, e a classe E até 2033. No futuro, a classe G da EPC deverá abranger pelo menos 15 % dos edifícios em cada Estado-membro, enquanto os de classe inferior (D a G) serão emitidos por apenas cinco anos.
Para obter estes resultados, espera-se que a aposta deste Governo seja no financiamento de sistemas passivos de climatização, com acompanhamento técnico especializado. São estes os sistemas integrados no design do edifício, que regulam o ganho e a dissipação com, praticamente, nenhum consumo de energia. E, se queremos combater a pobreza energética, é obrigatório que os nossos edifícios sejam reabilitados com este princípio. É que nada é mais racional do que utilizar os recursos naturais, como o sol e o vento, gratuitos, renováveis e saudáveis, para melhorar o conforto térmico de nossas casas.
E se esta revisão da EPBD tem como objetivo um parque imobiliário totalmente descarbonizado até 2050, é importante não esquecer que a tendência rumo a um desenvolvimento sustentável, será sempre a de recusar todos os materiais derivados de petróleo. E não são só os descartáveis que causam danos. Todos aqueles que no final da sua vida útil não possam ser valorizados na totalidade, serão descartados, como os usados em soluções de isolamento dos edifícios ou em caixilharias. E é dentro dos edifícios que passamos 90% do nosso tempo de vida.
É urgente a consciência ambiental. Temos de parar de poluir. Seja pela má utilização de recursos, seja pelas emissões poluentes que todos poderíamos evitar.