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Portugal perdeu 13% do território em incêndios numa década

Foto Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas

Portugal perdeu 13% do território em incêndios numa década

17 de setembro de 2025

Portugal foi o país da União Europeia mais afetado pelos incêndios de 2025, com 2,89% do território nacional devastado pelas chamas, segundo o European Forest Fire Information System (EFFIS). Entre Junho e Agosto arderam cerca de 279 mil hectares, quase três vezes acima da média das últimas duas décadas.

Nos últimos dez anos, os incêndios já consumiram 13% da superfície do país. Em conjunto, Portugal e Espanha concentraram dois terços da área ardida na Europa, que superou um milhão de hectares.


Fotos cortesia Bombeiros de Portugal


De acordo com o Instituto de Conservação da Natureza e da Flora (ICNF), os incêndios resultam de fenómenos meteorológicos extremos agravados pelas alterações climáticas. Ondas de calor, secas prolongadas e ventos fortes são hoje 40 vezes mais prováveis e 30% mais severos do que num cenário sem aquecimento global. Eventos que antes ocorriam de 500 em 500 anos acontecem agora em ciclos de 15.

Especialistas sublinham também factores estruturais, como o abandono agrícola, a desertificação do interior e a expansão de monoculturas como o eucalipto.

Agrofloresta como resposta

Samuel Delesque, cofundador da Traditional Dream Factory (TDF), em Santiago do Cacém, defende que a prevenção exige uma mudança na gestão do território: “É urgente redesenhar a paisagem com sistemas agroflorestais e de retenção de água, criando ecossistemas diversos que travem o fogo e revitalizem a economia rural”.


Área de retenção de água - Foto TDF


Segundo o responsável, substituir metade da área ocupada por eucalipto por sistemas agroflorestais poderia aumentar o PIB em 3% e criar 43 mil empregos. A transição, acrescenta, geraria efeitos visíveis entre três e sete anos e uma resiliência estrutural em pouco mais de uma década.

Delesque defende ainda medidas complementares, como faixas de protecção, pastoreio direcionado, queimadas controladas e pontos de água estratégicos. Para que estas soluções avancem, sublinha, é necessário concluir o cadastro rural, reorganizar a propriedade e canalizar apoios da Política Agrícola Comum (PAC) para sistemas mistos que regenerem solos e sustentem comunidades locais.

Projectos-piloto

A TDF funciona como um laboratório vivo de práticas como agrofloresta sintrópica, silvopastorícia e retenção de água. O projecto colabora com iniciativas como a Silveira Tech, na Serra da Lousã, que procura regenerar 230 hectares após o incêndio de Arganil, o maior registado no país, com 64 mil hectares destruídos em 12 dias.

“Não basta plantar árvores, é preciso redesenhar o território para que seja resiliente”, afirma Manuel Vilhena, cofundador da Silveira Tech, defendendo uma combinação de agrofloresta, biodiversidade e gestão hídrica.

Ambas as iniciativas convergem na mesma meta: transformar áreas vulneráveis em paisagens produtivas e resistentes ao fogo, aliando sustentabilidade ambiental, viabilidade económica e desenvolvimento rural.


Foto TDF e wirestock em Freepik