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Opinião

 

Quando as criptomoedas chegam ao setor imobiliário

7 de julho de 2022

O mercado imobiliário português está em alta. Tendo em conta os últimos dados conhecidos, assistimos a uma valorização geral dos preços a rondar os 13%. Da minha experiência, tenho verificado sobretudo um aumento gradual de compradores estrangeiros que pretendem fazer de Portugal o seu novo país de residência. 

Vive-se um contexto cada vez mais dinâmico. Exemplo disso é o ecossistema das criptomoedas que tem vindo a abranger cada vez mais áreas de negócios e o setor imobiliário não tem sido exceção. Gradualmente, começamos a ver ativos imobiliários transacionados com o recurso a criptos. E acredito que isto seja uma tendência com forte potencial.

Antes de me aventurar como consultor imobiliário, dediquei-me durantes vários anos ao mercado financeiro, onde lidei com ativos diversos, alguns até de alto risco como o mercado de Forex, Commodities e Índices. Confesso que a volatilidade dos mercados sempre me entusiasmou, levando-me a tentar entender o funcionamento dos mesmos.

Mais recentemente, comecei a interessar-me pelo mercado dos ativos digitais, muito motivado porque tinha vários clientes internacionais, interessados em investir em Portugal, a perguntar como comprar imóveis usando criptomoedas.

Num processo natural, e no sentido de captar esta oportunidade presente no mercado, surgiu a ideia de dar um “boost” novo ao negócio imobiliário e comecei a delinear um projeto que fosse especializado nesta área para viabilizar negócios neste contexto.

Foi assim que nasceu, em conjunto com outros cinco sócios com experiência em diversas áreas, a empresa Use Your Cripto, que presta consultoria neste tipo de negócios, mas não só.

Tinha o know-how do imobiliário, algumas noções gerais de como funciona o universo cripto, mas ainda me faltava a expertise do mercado financeiro digital. Tornou-se mais que óbvia a necessidade de encontrar um parceiro nesta área. Para isso, procurei Pedro Borges, CEO e co-fundador da Criptoloja, a primeira corretora de criptomoedas autorizada pelo Banco de Portugal, para nos ajudar a montar um processo que permitisse a compra/venda de imoveis com criptos.

Logicamente, o entusiasmo inicial é enorme, mas testar um modelo inovador desta natureza é bastante desafiador; sobretudo pela dificuldade em angariar imóveis com proprietários predispostos e interessados neste tipo de negócio. E por acreditar no potencial deste projeto e na sua equipa, foi então que decidi colocar a minha própria casa a venda, para fazer o “tal” teste.

O facto é que, em menos de 15 dias, já tinha uma proposta considerável pela minha casa e, rapidamente, chegamos a acordo. O negócio em si tinha algumas complexidades, sobretudo devido ao empréstimo bancário que tinha por liquidar antes de fazer a escritura, obrigando à ocorrência de dois atos de pagamento e dois atos de liquidação de ativos distintos também.

Em suma, o valor da permuta foi superior a 400 mil euros e a forma como correu a escritura foi ímpar, sem percalços e sem que nenhuma das possibilidades ponderadas para um pior cenário tivessem ocorrido. Pelas entidades envolvidas, confesso que tinha a certeza de estar tudo assegurado.

Nesta perspetiva, considero que o “nosso” modelo passou no teste e que temos todas as condições reunidas para levar a cabo outras transações. Acredito que é um mercado emergente, com um potencial de expansão gigantesco, e que, com os nossos parceiros de negócio, poderemos ser o ponto de alavancagem para muitas empresas portuguesas.

Ricardo Fonseca

Agente imobiliário na Century 21 Central Park

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico