O António arranjou um emprego
Tenho aqui escrito já algumas vezes que, se o sector imobiliário está como está, muito se deve também à forma como os consultores imobiliários encaram esta profissão. E, reforço profissão, porque acredito que, embora tenha vindo cá parar tardiamente, sou dos que defende acerrimamente que ser consultor imobiliário deve ser considerada como uma profissão, com uma carreira, com direitos e deveres, cumpridos por todos e, acima de tudo, compreendidos também por quem está de fora e nos vê.
O problema é que os erros começam por cima e terminam nos próprios consultores, com todos, sem excepção, a darem provas de este é um sector que adora dinamitar-se a si próprio, ao invés de valorizar uma profissão que tem tudo para correr bem e ser um El Dorado para milhares de pessoas. Começa logo no facto de existir uma profusão de associações ligadas directa ou indirectamente, ao sector, mas, curiosamente e se não estou em erro, nenhuma se dedica, em exclusivo, à defesa dos interesses dos consultores. Acham que estou a exagerar? Então acompanhem-me neste raciocínio:
Correndo o risco de me esquecer de alguma(s), constato que há a ASMIP - Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal, a APEMIP - Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal e a APPII - Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, a ACAI - Associação de Empresas de Consultoria e Avaliação Imobiliária (formada por oito consultoras imobiliárias).
Depois ainda temos a CPCI - Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário, a AICCOPN - Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas e a AECOPS - Associação de Empresas de Construção e Obras Publicas e Serviços. E, claro está, o IMPIC – Instituto dos Mercados Públicos do Imobiliário e da Construção, que, entre outras competências, é quem atribui as licenças AMI.
Todas estas nove associações e organismos (sim, leu bem, são nove) têm algo a ver com o sector imobiliário. Mas, e apesar da profusão de actividades e incidência, todas têm algo em comum: esqueceram-se do consultor imobiliário, o elo supostamente mais fraco da cadeia, mas o que faz mover toda a engrenagem dos negócios imobiliários e que, sem ele, seria muito difícil ao sector subsistir.
É, por isso, natural que a actividade imobiliária esteja uma selva, com profissionais às turras entre si, numa profissão que, reforço, será talvez a única em que para quem aqui vem trabalhar, assina um contrato onde lhe é taxativamente explicado que não tem ordenado e terá que viver das suas angariações e das comissões que faça, a cobro de uma marca que pode representar ou apenas como consultor independente (com licença AMI própria).
Depois de tudo o que referi – e haveria ainda tanto mais para dizer – confesso-vos que gostava de ver as várias associações que lidam com o sector preocupadas com tudo isto e apreciava que alguém se lembrasse de fazer uma Associação dos Consultores Imobiliários. Adorava que tudo isto pudesse ser diferente, mais sério, mais à séria e mais honesto. Mas infelizmente, e como sabemos, também por tudo isto, este é um sector onde existe muita rotatividade entre consultores – que pulam de agência em agência, de marca em marca até encontrarem algo com o qual se identificam – e que alguns acabam por desaparecer sem deixar rasto porque, como justificam aquando da sua saída, vão-se embora porque arranjaram um emprego e já não precisam de andar a vender casinhas.
Francisco Mota Ferreira
Consultor imobiliário