Imobiliário: Valor, Energia & Sustentabilidade
O sector imobiliário mudou muito na última década, transformou-se radicalmente, adaptou-se a um mundo em constante mudança, modernizou-se, profissionalizou-se e superou uma crise profunda e demasiado longa. Este sector, tantas vezes mal-amado, (in)justamente responsabilizado por tantas derivas politico-estratégicas, megalomanias desajustadas e alicerçado em movimentos meramente especulativos, está hoje diferente. Está muito menos dependente do Estado, abriu-se ao mundo e adotou uma postura inovadora na vanguarda de uma sociedade em transformação.
Vive-se agora mais um momento de rutura, uma verdadeira revolução, quer se queira quer não. As alterações climáticas são uma realidade indesmentível e as medidas para as combater estão já em marcha em Portugal, na Europa e no Mundo. O Plano Nacional de Energia e Clima, recentemente apresentado, identifica a eficiência energética, associada também ao uso eficiente de recursos, como um dos objetivos estratégicos, transversal à economia e intrinsecamente ligado à sua competitividade. É dado um enfoque especial à eficiência energética na indústria de forma a elevar os padrões da indústria nacional e à promoção da eficiência energética nos edifícios, com incidência para a requalificação e renovação. Por outro lado, a necessidade de descarbonização tornou-se um imperativo, abrindo-se um enorme leque de exigências e oportunidades relacionadas com a alteração radical do paradigma energético. Quando se fala num setor maduro, com investimentos e projetos de médio e longo prazo, esta não é uma questão para as gerações futuras, esta é uma questão para os investimentos que estão a ser feitos hoje!
De facto, a relação Imobiliário, Energia e Sustentabilidade é muito relevante, sendo os edifícios responsáveis por 40% do consumo de energia e 36% das emissões de CO2 na UE. O setor estará uma vez mais no centro do furacão, sabendo, estou certo, dar uma resposta adequada aos desafios e transformando-os em oportunidades.
Numa sociedade cada vez mais urbana, a eletrificação da economia, com destaque para as novas soluções de mobilidade, a mudança de paradigma de produção de energia com a possibilidade de produção descentralizada em que cada consumidor possa também ser um potencial produtor e as imposições regulatórias associadas à eficiência energética, implicarão a inclusão da sustentabilidade na equação do investimento imobiliário. E aqui entra a questão de valor…
A tomada de decisão dos grandes investidores é motivada por análise de cash-flows e taxas de rentabilidade e serão esses os fatores, e não as noções de responsabilidade corporativa, que farão a diferença. Será uma questão de valor!
Os avaliadores observam e refletem as condições do mercado quando realizam as suas diligências, devendo refletir as tendências e riscos futuros na sua avaliação. É, de resto, já amplamente reconhecido, nomeadamente pelo RICS - Global Standards 2017, que a sustentabilidade e questões energéticas assumem importância crescente e que os avaliadores as deverão ter em devida consideração.
Estes novos fatores assumirão um papel de crescente importância para a aferição de valor e os imóveis menos eficientes, ou menos adaptados às exigências energéticas da sociedade, serão, certamente, penalizados.
Os players do setor farão o seu trabalho e cumprirão o seu papel - investidores, consultores, R&D, financiadores e construtores.
Agora numa economia como a nossa, tão dependente de Investimento Direto Estrangeiro, um setor que representou em 2018 mais de 3 mil milhões de euros de investimento, precisa, também associado a esta mudança de paradigma, de regras claras e estáveis. É aqui que precisamos do Estado: regulador, estável e transparente!
Miguel Subtil
Managing Director
The K Advisors
*Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico