NO FILTERS: “Ninguém vai ser substituído pela Inteligência Artificial, mas sim... por pessoas que sabem trabalhar com ela”
A conferência “NO FILTERS”, que reúne a nova geração do imobiliário, teve lugar no Espaço Technal onde foi discutido o futuro do imobiliário em Portugal com foco na actual “revolução tecnológica” e os desafios que apresentam no imobiliário, arquitectura e construção em Portugal. “As novas tecnologias são limitativas?”, “Onde vai ficar o poder criativo?”, “Capacitação de profissionais em BIM”, “Transformação do sector com a inovação tecnológica” foram os temas que estiveram em cima da mesa pelos sete especialistas da indústria, assim como, os grandes desafios da utilização do BIM.
Sobre o contributo das novas tecnologias no futuro do imobiliário em Portugal, Mariana Morgado Pedroso, CEO da Architect Your Home, deu início ao debate na perspectiva da arquitectura: “Para o imobiliário a utilização das novas tecnologias é um enorme avanço em termos de conseguir mostrar imagens de um empreendimento, de fazer sonhar as pessoas para comprar uma casa, acho é que vai ser difícil esta ligação a arquitectos e imobiliário nesse sentido, porque pedem como se fosse uma coisa muito fácil, mas não é assim tão simples. Mas é um passo gigante.”
Por sua vez, Nuno Malheiro da Silva, CEO da Focus Group, referiu: “Penso que o BIM limita a forma de concepção, limita bastante o cérebro a quem está a projectar e é completamente diferente. Ao construir o BIM o que faz é que não se desenha, constrói-se uma maquete tridimensional, virtual em que se vai dar atributos à casa através das peças das bases de dados. Já a pré-fabricação pode resolver vários problemas, nomeadamente o de trazer outras pessoas para o meio de construção, permite ganhar tempo e poder construir mais rápido.”
Sobre o BIM, o Co-CEO & Founder do MAP Group, José Rui Meneses e Castro, partilhou que “O grande desafio para os arquitectos será utilizando esta ferramenta que é mais uma ferramenta de eficiência, de redução de erros, de prazos e de custos, para no final ter um produto de melhor qualidade, “como é que continuamos a utilizar a nossa inteligência?”. Acho que continuaremmos a fazê-lo. Vejo o BIM como uma ferramenta muito importante para ser utilizada na concepção, na execução e também durante a utilização do edifício porque ficamos com a informação toda, com os dados todos que nos permitem monitorizar e intervir mais tarde no edifício. É, portanto, uma ferramenta que se vai traduzir em projetos mais eficientes e de maior qualidade.”
Nesta linha, Ricardo Sousa, Administrador e Director-Executivo da Marca CENTURY 21 em Portugal e Espanha, salientou que “A tecnologia não pode pôr em causa dois princípios importantes: éticos, deve-se falar mais sobre o que é a tecnologia e o que se pode fazer com ela, e autenticidade e a personalidade que é importante e transversal a todos os intervenientes. A tecnologia não é um objectivo, é uma ferramenta.” - disse.
O Presidente Executivo da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, Hugo Santos Ferreira, salientou que “A inteligência artificial que hoje está a trabalhar o ChatGPT, por exemplo, é uma realidade em todas as áreas de actividade. E acho que nós, efectivamente, ainda não estamos aí. A máquina não tem de substituir a pessoa, a máquina tem de ser um complementar da pessoa, na mediação, na arquitectura. O ser humano será sempre necessário. Quero que os arquitectos tenham mais tempo para pensar no projecto e o inimigo desse objectivo não é a tecnologia, o inimigo número 1 é de facto termos menos tempo de licenciamento para ganharmos mais tempo na arquitectura de um projecto.”
Na perspetiva dos promotores, João Sousa, CEO do JPS Group, salientou: “O BIM hoje em Portugal não é uma ferramenta que seja corrente, mas vai ter de ser porque não é só a parte da criação, temos de perceber na parte da concepção e depois do edifício terminado em termos de manutenção são vantagens que estão à nossa disposição, que teremos de utilizá-las. E para nós promotores isso é fundamental em termos de controle de custos, de prazos. E conciliar a parte criativa, ética e tecnológica, é o desafio para nós em Portugal, porque há outros países que não trabalham sem ser em BIM.”
André Casaca, Consultor e Promotor Imobiliário, referiu que “Em todo o processo do edificado, acredito que é aí que o BIM pode ser uma ferramenta que não se esgota no processo de arquitectura, no processo de design 3D, vai trazer a todos uma maior possibilidade de controlar, planear e acrescentar ao longo de todo o ciclo, ou seja, não é só no planeamento, é no momento da utilização, no momento do pós-obra, no momento de reconstrução passado 70 anos. Acho que ainda não estamos preparados para isso, a tecnologia em termos de implementação tem um custo elevado, não é fácil, portanto, acho que estamos a caminhar, mas ainda existem algumas barreiras.”
Na perspetiva da educação e formação neste sector, Bruno Coelho, Professor na ESAI e administrador imobiliário do Doutor Finanças, acrescentou que “Resistir à tecnologia já vimos que não funciona, na comunidade académica vemos isto com frequência e tentámos ao máximo acompanhar e vejo com super bons olhos toda a evolução tecnológica. Ninguém vai ser substituído pela inteligência artificial, nós vamos ser substituídos por pessoas que sabem trabalhar com a inteligência artificial.”
As vozes que nos chegaram do Brasil
Para partilhar a vertente do mercado internacional, esteve presente em formato digital o Presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitectura de São Paulo, Gustavo Garrido, que salientou: “No Brasil temos visto um avanço significativo na evolução do BIM, especialmente na última década, devido ao crescente «engagement» da eficiência na construção civil. A inteligência artificial está, igualmente, a assumir um papel cada vez mais relevante nos grandes empreendimentos no Brasil, ferramentas baseadas em IA estão a ser utilizadas para a simplificação de tarefas repetitivas e agilizar normas técnicas para análises de dados. Apesar dos avanços, esperamos alguns desafios, especialmente, na qualificação de mão de obra, acessibilidade às novas tecnologias e maior integração dos diferentes sectores.”
Já, Miriam Addor, Vice-Presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitectura e fundadora do Escritório Addor e Associados Projetos e Consultoria, acrescentou que “No mercado imobiliário o BIM tem-se desenvolvido muito nos últimos anos, no desenvolvimento de projectos de grandes construtoras que utilizam o BIM como ferramenta de trabalho.” Acredito que nos próximos 5 anos vamos ter uma evolução muito grande em função da língua portuguesa estar dentro do Chapters Building Smart, vai ser muito bom para o desenvolvimento do BIM nos países de língua portuguesa.”
A última conferência em 2024 organizada pelo «Diário Imobiliário»
Esta foi a última conferência do ciclo de conferências que assinalam o 11º aniversário do Diário Imobiliário, e que teve lugar no novo espaço da Technal.
A iniciativa do Diário Imobiliário contou com a comunicação da agência Green Media, com o apoio institucional da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), da Associação Portuguesa do Alumínio (APAL), da Escola Superior de Atividades Imobiliárias (ESAI) e da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) e com o patrocínio da Century 21 Portugal e da TECHNAL.