Não importa se vamos rápido ou longe
Há um provérbio africano, que vemos muitas vezes citado nas redes sociais, que reza assim: “se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá acompanhado”. Isto ocorreu-me quando estava a pensar no tema para escrever esta semana e lembrei-me de discorrer sobre a importância de o consultor estar ligado a uma marca ou agência ou se, ao invés disso, optar apenas por estar a fazer o seu trabalho de forma autónoma e independente.
Para a maioria das pessoas que conheço do imobiliário, a questão da ligação a uma agência ou marca é uma decisão fundamental que, para eles, pode determinar o sucesso ou fracasso de um profissional no mercado. E, muito embora, como sabemos, a legislação permita que qualquer pessoa, desde que devidamente licenciada, exerça a profissão de forma independente, o facto é que a colaboração com uma marca ou agência é vista na generalidade como uma mais-valia que pode trazer uma série de vantagens que vão muito além do acesso a recursos materiais.
Comecemos, pois, por aqui. As agências e as marcas oferecem um conjunto de ferramentas que podem ser essenciais para o desempenho da atividade de um consultor. Plataformas tecnológicas, acesso a bases de dados de imóveis e potenciais clientes, material de marketing, formações regulares ou até suporte administrativo. Para um consultor independente, reunir todas estas condições pode ser complexo e dispendioso. Desta forma, trabalhar sob a alçada de uma agência pode simplificar muitos processos, permitindo que o consultor se concentre naquilo que deve ser o seu core business: captar clientes e vender imóveis.
Outro ponto relevante é o impacto que a credibilidade da marca tem na perceção do cliente. Muitas vezes, estes preferem lidar com consultores associados a uma agência ou marca reconhecidas, por confiarem na solidez e experiência desta, o que, no limite, até pode ser determinante no fecho de negócios.
Estas são, digamos assim, as vantagens mais evidentes de um consultor escolher uma marca. Mas há, como tão bem sabemos, o reverso da medalha e nem sempre são tidos em linha de conta os custos associados à decisão de trabalhar ligado a uma empresa.
A maior parte das agências funciona com base num modelo de comissão partilhada, o que significa que uma percentagem das vendas do consultor é revertida para a agência. Em muitos casos, além dessa comissão, há também despesas adicionais, como taxas mensais, materiais de promoção ou formações obrigatórias. Para alguns consultores, especialmente aqueles que já têm experiência e uma base de clientes consolidada, estas despesas podem parecer desnecessárias ou excessivas. E a tentação de ir solo é, assim, maior.
Outro ponto a ter em linha de conta é a liberdade de ação. Ao associar-se a uma marca, o consultor precisa de alinhar-se às diretrizes e políticas da empresa, o que pode limitar a sua autonomia. O que, para aqueles que valorizam a independência e a flexibilidade na forma como gerem os seus negócios, isto pode ser visto como um entrave.
Em contrapartida, para os consultores que estão a iniciar carreira no ramo, a ligação a uma marca é, muitas vezes, uma oportunidade de aprender, ganhar experiência e construir uma rede de contactos sem precisar de investir de forma massiva em infraestruturas ou promoção.
A decisão de estar ou não ligado a uma agência ou marca deve ser ponderada tendo por base objetivos pessoais e profissionais. Para alguns, a associação a uma marca é sinónimo de credibilidade e suporte. Para outros, pode representar um custo excessivo sem um retorno proporcional. Independentemente da escolha, o que realmente faz a diferença é a vertente humana do negócio, a capacidade do consultor de criar relações de confiança com os clientes e oferecer um serviço de excelência, seja independente ou integrado numa agência.
Tal como em muitas vertentes do imobiliário, também aqui não há respostas corretas ou até ideais. Há quem se sinta bem ligado ao conforto de ter uma marca ou uma agência por trás e há os que, tendo feito esse percurso, acreditam que estão melhores sozinhos. Acredito que, em qualquer uma das opções, não é uma questão de ir rápido ou longe. É, acima de tudo, a forma como cada um de nós encara este nosso mundo imobiliário.
(A pouco mais de 24 horas daquela que é a noite mais bela, aquela que faz calar as armas e imbuir o Homem de um espírito de concórdia, resta-me desejar aos meus leitores e ao Diário Imobiliário Boas Festas).
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Francisco Mota Ferreira
francisco.mota.ferreira@gmail.com
Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022), “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) e “Conversas sobre o Imobiliário” (2024) | Editora Caleidoscópio
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico