Sem localizações 'prime' os investidores dos Vistos Gold dificilmente investem em Portugal
Nos últimos dias em que está em vigor o programa dos Vistos Gold tal como o conhecemos, são muitos os investidores que correm para o obter. O aumento de transacções por investidores é real e Vasco Rosa da Silva, Founder & CEO da Kleya, admite ao Diário Imobiliário que a limitação geográfica a partir de Janeiro de 2022 para obtenção dos Vistos irá prejudicar o mercado imobiliário.
De recordar que a Kleya é uma marca que pertence ao Grupo Ageas Portugal, é uma one stop shop que oferece soluções integradas e adaptadas às necessidades de investidores, empresários, trabalhadores realocados, reformados e estudantes, entre outros, que desejem viver ou investir em Portugal.
A concessão dos vistos gold nas zonas costeiras do país está a terminar. Verifica-se uma corrida para a obtenção destes vistos até ao final do ano?
Efectivamente verificou-se um aumento das transacções de investidores que procuravam segurar um imóvel no litoral, de modo a não colocarem em risco a sua Autorização de Residência por Investimento.
Tem algum feedback de investidores sobre a possível desistência de investirem em Portugal? Ou de olharem para outras geografias do país?
Para os investidores mais avessos ao risco, ou que têm uma maior preferência por “terra”, e que são a maioria dos investidores que usam a Autorização de Residência por Investimento, vulgo “Golden Visa” o mais provável será desistirem de investir. Infelizmente poucos são os que estão disponíveis a fazerem os seus investimentos noutras geografias do país, onde a liquidez e a segurança do seu investimento não são um dado adquirido.
As alternativas que têm aparecido vêm do imobiliário não residencial, nomeadamente do imobiliário turístico. No entanto, os projectos deste tipo continuam também focados em Lisboa, Porto e Algarve. A razão para isso é exactamente porque os investidores dos “Golden Visa” vêm em busca essencialmente de uma coisa: Segurança. O “Golden Visa” é uma forma de pequenos investidores garantirem acesso a um espaço que dá garantias de segurança e de, em primeiro lugar, proteger as suas poupanças. Ora, localizações “prime” dão essas garantias e por isso é preferível fazer um investimento em imobiliário turístico em Lisboa ou no Algarve do que comprar um imóvel residencial no interior do país.
Qual o verdadeiro impacto desta medida para a entrada de investimento estrangeiro em Portugal e no mercado imobiliário?
Basta olhar para os números nos últimos cinco anos, já nem falo do total de investimento desde o nascimento do programa, estamos a falar em 2,8 mil milhões só entre 2017 e outubro do presente ano. Pelas razões que digo acima se esta procura se reduz significativamente o resultado é simples: há um ajustamento de preços. Esse ajustamento irá ocorrer sobretudo nos imóveis do litoral que situam entre os 500 e os 900 mil euros onde se concentravam as transações para Golden Visa.
Claro que há outros factores que contribuem para o aumento da procura de imobiliário por investidores estrangeiros como por exemplo um maior número de pessoas que vêm trabalhar para Portugal, empresas que estão a instalar cá os seus hubs, portanto não é possível determinar com exatidão qual a verdadeira queda da procura. Há que também referir que há segmentos, nomeadamente o do residencial de luxo ou das casas para arrendar, onde a oferta não é suficiente para a procura crescente dirigida a Portugal de investidores estrangeiros, ou seja, o impacto desta medida não se irá fazer sentir de igual forma no mercado imobiliário, como refiro acima. Onde é expectável um efeito mais negativo é nos imóveis do litoral, que se situam entre os 500 e os 900 mil euros.
Que tipo de imóveis podem interessar os investidores em 2022 com o novo mapa geográfico?
Para os que não querem deixar de investir no imobiliário a questão não é geografia, mas sim passar o investimento do imobiliário residencial para imobiliário comercial. Neste caso em particular o imobiliário turístico apresenta-se como um novo “porto seguro” pois qualquer investidor internacional entende que Portugal será sempre um destino atractivo para o Turismo.
Como tem corrido o NHR Express lançado pela Kleya?
Onde estamos a ter maior tração como seria de esperar é no mercado norte americano, que está mais habituado a soluções digitais. Esta ferramenta permite efectivamente a um investidor internacional conseguir fazer o seu NIF e obter residência fiscal através de um processo 100% online, o que acho que é algo único em Portugal.
Começámos com um investimento muito baixo em promoção, efectivamente para testar a adesão e no início do próximo ano vamos investir mais e de forma mais focada, nomeadamente concentrando os nossos esforços no Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.
Que tipo de cliente tem recorrido a esta solução? Qual o perfil de quem pede o NHR?
Esta solução para ser mais acessível foi pensada sobretudo para pessoas que vivem essencialmente de rendimentos de trabalho, por exemplo nómadas digitais e executivos de multinacionais que se instalam em Portugal. Também foi criado a pensar em pessoas que já deixaram de estar activas e que vivem agora da sua reforma. Obter o estatuto NHR permite durante10 anos uma poupança fiscal, o que é significativo para um pequeno investidor estrangeiro vindo, por exemplo, do Reino Unido que “faz contas” para saber quanto é que pode investir na sua casa.
Quais as previsões para o mercado imobiliário para 2022?
Como disse acima esta mudança no regime do Golden Visa tem impactos negativos, sobretudo num determinado segmento do imobiliário residencial, mas há outras tendências que contribuem de forma positiva para o aumento da procura.
Por outro lado, dado o contexto actual da pandemia, o desenvolvimento de alguns projectos imobiliários sofreu alguns atrasos e/ou ficou “suspenso” o que contribui para limitar a oferta. Acresce a isto o facto da oferta no imobiliário não se conseguir ajustar rapidamente à procura (para reabilitar ou construir um imóvel é preciso algum tempo).
Na relação procura/oferta eu continuaria a prever algum ajustamento no imobiliário residencial, no segmento de imóveis entre os 500 e os 900 mil euros, e um “gap” significativo entre a procura de casas de luxo, a procura de habitação mais acessível e a respectiva oferta, o que levará as casas mais caras a ficarem mais caras. Quem quiser comprar uma casa mais barata não vai conseguir ter grandes “descontos”. Creio também que o imobiliário comercial, nomeadamente o turístico, vai animar bastante o mercado.