Portugal está na 'Pole Position' para o relançamento do mercado imobiliário
Luís Gamboa, C.O.O. da VIC Properties, uma das maiores promotoras imobiliárias em Portugal, admite que já se verifica uma retoma nos contactos para venda e ainda um acréscimo de novas reservas.
Em entrevista ao Diário Imobiliário, revela que em breve vão arrancar com o projecto da Matinha, o maior empreendimento previsto para a cidade de Lisboa e que além da compra da Herdade do Pinheirinho têm outros projectos em pipeline.
Neste momento a VIC Properties é um dos maiores promotores imobiliários em Portugal. Quanto já investiram e quanto perspectivam investir nos próximos anos?
A VIC Properties tem como política não divulgar publicamente os valores de aquisição dos seus projectos. O que podemos adiantar são os números do investimento global previsto para o projecto do Prata Riverside Village e para a Herdade do Pinheirinho. No primeiro caso estimamos um valor de 400 milhões de euros, no segundo o montante deve situar-se entre os 450 e os 500 milhões de euros. Ou seja, para estes dois projectos estamos a falar de aproximadamente 900 milhões de euros. Já o investimento global para o projecto da Matinha será divulgado brevemente.
Quando iniciam o da Matinha?
Vamos arrancar em breve. A primeira fase do projecto será o trabalho de descontaminação dos solos da Matinha, que esperamos concluir ainda este ano.
Além do projecto da Herdade do Pinheirinho, têm mais algum grande investimento em vista?
Temos vários projectos em pipeline, mas a nossa política é só falar de negócios concretizados. Foi assim com o Prata, com a Matinha e com o Pinheirinho. E será assim com todos os projectos futuros que se juntem ao nosso portefólio.
De que forma a VIC tem funcionado durante o Estado de Emergência e de Calamidade. Prejudicou os projectos em curso? As obras continuaram?
A VIC Properties manteve sempre a sua actividade a 100 %, não existindo nenhum abrandamento ao nível das obras de construção. Para tal, implementamos, desde o primeiro dia, várias medidas de contingência de acordo com as recomendações da DGS. As equipas de venda e todos os trabalhadores do escritório foram colocados em teletrabalho. Aos trabalhadores da obra fornecemos diariamente máscaras e gel desinfectante e fazemos controle de temperatura à entrada na obra. Todos os espaços foram desinfectados, encerramos as cantinas e passámos a fornecer refeições aos nossos trabalhadores, que começaram a almoçar em sítios diferentes e arejados, para que não existam aglomerados de pessoas em locais fechados. Implementámos ainda uma política de segregação de equipas, para que não haja contacto entre os trabalhadores das diferentes obras que hoje temos a decorrer no Prata Riverside Village. Os nossos empreiteiros e subempreiteiros têm mantido uma excelente performance, sempre com um grande sentido de responsabilidade em assegurar as medidas de prevenção desta pandemia, ao mesmo tempo que continuam a apresentar níveis de produtividade iguais aos anteriores.
As vendas caíram e os preços baixaram?
Na parte comercial a tecnologia assumiu um papel fundamental, uma vez que o contacto passou a ser feito preferencialmente através de plataformas de comunicação digitais. Temos realizado algumas visitas com recurso a videoconferência, o que nos permite dar a conhecer os principais atributos distintivos do Prata Riverside Village e que são particularmente importantes nestes tempos que vivemos de isolamento, como é o caso das solarengas terraços e extensas varandas, do Jardim Interior de cada edifício e ainda do vasto Jardim Ribeirinho Oriente, como uma relação ímpar ao Tejo.
Se é verdade que nas últimas duas semanas de Março houve um decréscimo nos pedidos de informações, desde o início do mês de Abril que se regista uma retoma dos contactos. Temos vindo a assinar contratos de Promessa Compra e Venda, e temos ainda um acréscimo de novas reservas, efectuadas após o período inicial de confinamento da população.
Como vê a recuperação do mercado imobiliário depois da pandemia?
Apesar de toda esta alteração repentina, há sectores de actividade que passarão mais incólumes do que outros. Naturalmente, todos os negócios serão afectados com a perspectiva de um aumento do desemprego. Ainda assim, há cada vez mais a percepção de que o activo imobiliário terá uma volatilidade diferente de outro tipo de investimentos.Na nossa opinião haverá, naturalmente, ainda alguns meses de menor actividade, mas rapidamente esta retomará os níveis do início do ano. Acredito que podemos esperar um bom desempenho, com alterações ao nível dos agentes que actuam no nosso mercado. Por exemplo, temos vindo a assistir ao interesse de investidores institucionais, que já estão presentes em outros mercados, na compra em bloco de imóveis em Portugal com o objectivo de os colocar no mercado do arrendamento. Este interesse dever-se-á manter e será um mercado que evoluirá certamente nos próximos tempos.
Ainda assim, os investidores individuais manter-se-ão activos e provavelmente repensarão as suas carteiras alocando uma parte dos seus capitais a activos tangíveis.
Além disso, outra consequência será naturalmente um maior cuidado na concepção dos projectos, uma maior ênfase nos espaços exteriores, nos layouts... Por outro lado, os clientes serão muito mais criteriosos nas suas escolhas, muito mais do que metros quadrados de casa vão-se vender conceitos, experiências e serviços.
As previsões apontam para descida dos preços, é da mesma opinião?
Haverá descida de preços, nalguns locais, sobretudo nas periferias, e aumento em outros, como no mercado de luxo. Como disse anteriormente, acreditámos que os compradores também vão valorizar muito mais do que simples metros quadrados. Os espaços exteriores da própria casa, como terraços e varandas, assim como o espaço circundante da mesma, com jardins, parques infantis, etc, serão altamente valorizados. Ainda a semana passada, a consultora Knight Frank apresentou uma análise sobre o impacto da pandemia da Covid-19 na evolução de preços de imobiliário de luxo nas 20 principais cidades do mundo. E a conclusão é de que em 2020 Lisboa é um dos quatro mercados onde os preços deverão subir. E para 2021 a consultora prevê que Lisboa e Londres liderem o crescimento de preços, com aumentos superiores a 5%.
Quais as principais dificuldades dos promotores neste momento? Ainda se prende com o tempo de licenciamento sobretudo em Lisboa? O IVA a 23% para a construção nova?
Uma das grandes dificuldades é, efectivamente, o tempo de licenciamento e as alterações legislativas que não permitem que estratégias de longo prazo possam ser implementadas. O IVA é um problema que afecta principalmente o cliente final, porque no fim do dia são os compradores que vão suportar todo esse custo.
Nesta crise Portugal tem passado uma imagem positiva no exterior, acredita que no futuro isso pode ser benéfico para o mercado imobiliário português?
Felizmente que Portugal reagiu muito bem a esta crise. E esta resposta, somada a todas as outras qualidades amplamente divulgadas pelo mundo fora, fará com que o nosso País continue a ser um destino muito atractivo. E não sou eu que o digo, mas sim a imprensa internacional. Diria que Portugal está na Pole Position para o relançamento.