CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
Entrevistas

 

Para sermos competitivos temos de o ser a nível fiscal e de atracção de investimento

15 de julho de 2020

João Madeira, Head of Real Estate da Sonae Capital, alerta que o nosso país concorre a nível global com outros destinos e por isso, temos de ser competitivos, quer a nível fiscal, como de atracção de investimento.

De recordar que a Sonae Capital já investiu em Tróia mais de 300 milhões de euros e já vendeu, até esta data, cerca de 500 propriedades. Aquele que é o maior investimento imobiliário do Grupo Sonae encontra-se ainda a alguns anos de finalizar, faltando desenvolver duas parcelas. 

Um empreendimento que neste momento de pandemia serviu de refúgio para muitas famílias que optaram pelas suas casas para estarem em confinamento. O que na opinião do responsável vem confirmar a aposta da Sonae num projecto sustentável e que a proposta de valor mantém-se actual e ajustada às necessidades. 

Num momento atípico, como a Sonae Capital, nomeadamente com o Troia Resort está a superar a situação?

Estes têm sido realmente momentos atípicos que nos colocaram novos desafios. Em primeiro lugar, existiu um confinamento abrupto que originou uma quebra de actividade imediata e em que foi necessário rever modelos de actuação, revisitar toda a nossa operação e assegurar a segurança de todos os nossos Colaboradores e Clientes.

Mas também foi o momento em que os nossos clientes, e em concreto os proprietários de apartamentos e moradias em Tróia, tomaram a decisão que se mudarem para Tróia. Aqui, com as infraestruturas a funcionarem e as comunicações a permitirem manter as actividades profissionais e escolares, as famílias puderam experienciar toda a qualidade de vida que uma casa inserida num ambiente preservado e à beira-mar proporciona num período fora das épocas habituais de permanência em Tróia.

Esta opção por Tróia tem-se mantido desde meados de março, com várias dezenas de famílias a decidirem continuar em Tróia mesmo após o confinamento obrigatório, criando um “novo normal” positivo.

Já em Maio, a partir da terceira semana, começámos a registar um grande interesse pelas nossas propriedades, com visitas quase diárias.  Este forte interesse traduziu-seno fecho de várias vendas entre Maio e Junho.

Assim,  até à data, o Tróia Beach Reserve superou as melhores expectativas que formulámos em março.

De que forma afectou o empreendimento e quais os novos desafios que tem de enfrentar?

Os principais desafios passam por ajustar os modelos de funcionamento e de comunicação com os nossos Clientes a uma nova realidade, mantendo os níveis de serviço com a garantia da segurança para os Clientes, Proprietários e Colaboradores.

Como esta pandemia, o cliente alterou as exigências sobre as casas e o que procuram?

Dos contactos e interacções com os clientes, confirmámos que a nossa proposta de valor mantém-se actual e ajustada às necessidades dos nossos clientes, que procuram uma casa perto de Lisboa, junto à praia, inserida num ambiente preservado e numa área que lhes assegura em permanência todos os serviços para as suas necessidades básicas.

Conscientes dos novos desafios, também passámos a prever na nossa oferta a possibilidade de construção de piscina privada ou partilhada por pequenos lotes, o que tem merecido uma feedback muito positivo, já que é uma solução que está a ser muito procurada no momento atual.

Que investimentos a Sonae Capital tem realizado no Troia Resort e os previstos?

A Sonae Capital investiu em Tróia mais de 300 milhões de euros e já vendeu, até esta data, cerca de 500 propriedades, mantendo o seu foco na conclusão da comercialização das moradias e lotes.

O que ainda falta fazer aqui e está projectado?

A península de Tróia, para além das áreas que a Sonae Capital já colocou nos últimos anos, tem ainda para desenvolver duas parcelas. Uma localizada na zona central de Tróia, para o desenvolvimento de um conjunto de apartamentos turísticos, e uma outra parcela ao longo do estuário do Sado inserida numa área de excepcional qualidade ambiental para o desenvolvimento de um projecto de muito baixa densidade alinhado com os valores ambientais do projecto e da península.

Para ambos os projectos, estamos a num processo de identificação de possíveis entidades que estejam interessadas e alinhadas com os valores da península para o desenvolvimento sustentável de ambos os projectos.

Além deste projecto de Tróia o que a Sonae Capital está neste momento a desenvolver? Têm algum projecto para breve?

A Sonae Capital não tem prevista o desenvolvimento directo de qualquer projecto, para além dos que estão em curso.

No entanto, temos vários activos imobiliários no nosso portefólio de activos que constituem uma interessante oportunidade para quem quiser fazer desenvolvimentos imobiliários e turísticos.

Considera que o mercado imobiliário português vai continuar atractivo?

Sim. Esta crise que atravessamos é uma crise de saúde pública associada a um vírus e é desta forma que temos de encará-la.

É claro que está a ter impacto directo na actividade económica, mas considero que a resposta que todos os governos e instituições a um nível global têm dado para combater os efeitos imediatos associados a uma paragem da economia, contribuirão para uma recuperação, porventura mais lenta do que inicialmente chegou a ser projectada, mas que ocorrerá.

No caso do mercado imobiliário nacional, tudo o que Portugal oferecia em Fevereiro de 2020 mantém-se actual. A segurança, o clima, a qualidade de construção, o nível de vida, a diversidade concentrada e a hospitalidade do povo português, são factores que têm contribuído para a procura crescente do nosso país como uma opção para residir ou investir e que se mantêm válidos.

No entanto, apesar destas vantagens competitivas, o nosso país concorre a nível global com outros destinos e não podemos deixar de também ser competitivos no âmbito de nível fiscal e de atracção de investimento. Assim, é fundamental que os programas de Residentes Não Habituais e Golden Visa se mantenham em vigor para assegurarmos que o imobiliário voltará a ser, como foi na última crise, uma das principais alavancas na retoma da nossa economia

Quais as principais dificuldades na promoção dos projectos imobiliários?

Os projectos imobiliários são investimentos de médio e longo prazo. Logo, há dois elementos críticos que estão sempre associados à promoção imobiliária – o tempo de desenvolvimento e a estabilidade regulamentar e fiscal.

Nestes dois vetores temos de melhorar, reduzindo os tempos de licenciamento e assegurando aos investidores uma estabilidade e certeza regulamentar.

A estes dois pontos, acrescento ainda a questão do IVA da construção. Manter um custo de 23% na promoção imobiliária, associado ao crescimento dos custos de construção, é algo que coloca grandes dificuldades no desenvolvimento de projectos, nomeadamente os destinado à classe média. O Estado devia rever esta situação, à semelhança do que fez para as áreas de reabilitação urbana.

Apesar de considerar que os três elementos que referi são críticos, é importante ainda que a nível regulamentar as entidades licenciadoras adequem a regulamentação a uma nova realidade associada à alteração da utilização dos espaços (e.g. modelos de “co”), aos novos factores de mobilidade, à aceleração digital, entre outros.

E como será o futuro do turismo?

O turismo é o 5º sector com maior contributo para o PIB mundial, incluindo impactos directos e indirectos. Em Portugal representa cerca de 10% do PIB, mais de 50% das exportações de serviços e cerca de 400 mil postos de trabalho. Uma indústria desta dimensão e relevância tem de - e vai - continuar a ser uma aposta.

No curto prazo, é certamente um dos sectores mais afectados a nível mundial, mas estou certo de que passada esta situação pandémica, e logo que a confiança seja recuperada, o turismo recomeçará a sua recuperação, sendo que poderá durar 2 a 3 anos até voltarmos a atingir os níveis de 2019.

Inicialmente a recuperação será suportada pelos destinos de lazer - e neste segmento o nosso país apresenta uma oferta de qualidade com as nossas excelentes praias, campos de golfe e natureza - pelo que, para este segmento, a minha perspectiva é positiva e acredito que poderemos antecipar o período de recuperação.

Já no segmento de congressos e eventos, em que Portugal ganhou preponderância nos últimos anos, existem mais dúvidas quanto a eventuais alterações de comportamento das pessoas e organizações. Porém, ainda é prematuro avançarmos, desde já, com conclusões.

Com a recuperação da confiança das pessoas, temos que acreditar que todos continuaremos a passar férias e a viajar, pelo que o sector do turismo rapidamente voltará a ganhar relevância e, à semelhança do imobiliário, contribuirá de uma forma decisiva para o crescimento da economia do nosso país.