Panorama actual propício para o aparecimento de investidores oportunistas
Para Pedro Rutkowski, CEO da WORX - Real Estate Consultants, Portugal deve continuar atractivo, mas alerta que o panorama actual pode ser propício para o aparecimento de investidores oportunistas com grande liquidez.
Em entrevista ao Diário Imobiliário, acrescenta ainda que as áreas mais atingidas são o retalho não alimentar (comércio de rua, centros comerciais e outlets) assim como a hotelaria e acredita que os impactos desta crise irão reflectir-se no comportamento e hábitos do consumidor.
Qual o impacto nos grandes investimentos em Portugal? Os investidores estrangeiros já estão a recuar nos negócios?
Na área de investimento, parte dos investidores colocou os negócios on-hold, com excepção para das operações que já estavam em fase avançada antes da pandemia. Os investidores (já proprietários) estão também a perceber a influência do Covid-19 nas carteiras de activos que detêm, sobretudo na gestão das solicitações de carência ou redução de rendas dos actuais inquilinos.
Com base num questionário que a Worx divulgou, cerca de 90% dos investidores prevê realizar operações este ano, o que vem reafirmar a vontade de continuar a investir. Os projectos em desenvolvimento continuam, as construtoras prosseguem o seu trabalho, encontrando algumas limitações a nível da mão de obra e materiais de construção, necessitando de mais tempo para serem finalizados. Assim, é provável que os promotores tenham de reequacionar alguns dos projectos pensados. Face a este cenário, metade dos inquiridos afirma ter alterado o seu perfil de investimento, sendo que cerca de 60% destes assegura não ter suspendido as suas actividades de investimento. Na verdade, a principal dificuldade assinalada está na tomada de decisão que acaba por ser adiada. A esmagadora maioria (76%) dos investidores está a reagir com tranquilidade, não prevendo colocar activos no mercado para fazer face a eventuais dificuldades de liquidez.
Assim, acreditamos que Portugal irá manter a sua elevada atractividade aos olhos dos investidores, uma vez que continuará a oferecer profissionais qualificados assim como projectos futuros de elevada qualidade.
Qual o segmento que será mais afectado?
As áreas mais atingidas são o retalho não alimentar (comércio de rua, centros comerciais e outlets) assim como a hotelaria, o que significa que os investidores mais expostos a este tipo de ocupação enfrentarão mais dificuldades. Assim, é expectável que os projectos pensados na área de hotelaria sejam repensados e ajustados tendo em conta o panorama, demorando um pouco mais para serem finalizados. A área residencial também será impactada pela pandemia, fruto da quebra de confiança dos consumidores, sendo previsível um reajuste nos preços.
Acredita que depois da crise os investidores vão continuar a investir no mercado português?
O panorama actual acaba por se revelar uma oportunidade para investidores oportunistas com grande liquidez, que focam as suas atenções nos proprietários que não conseguem cumprir as suas obrigações e são forçados a vender. Adicionalmente, existem sectores específicos que inevitavelmente acabam por beneficiar com a situação, tais como o retalho alimentar e a área logística, associada ao comércio online.
O que irá mudar?
Os impactos desta crise reflectem-se no comportamento e hábitos do consumidor. A tecnologia tem sido uma aliada, ao moldar a forma como interagimos e ultrapassamos a barreira do distanciamento social entre empresas e o próprio consumidor. Dando um exemplo: caso a preferência do consumidor permaneça na utilização do comércio online – tendência que já se tinha vindo a verificar - causará impacto a longo prazo nos sectores do armazenamento e da logística de distribuição, revelando-se uma oportunidade. No entanto, caso não o sector não consiga reagir a tempo, também pode gerar alguns constrangimentos devido ao congestionamento da procura neste sector de actividade.