Como será o turismo a partir daqui? Essa é a questão para a qual todos gostávamos de ter resposta
Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do Vila Galé, um dos maiores grupos portugueses de hotelaria, revela que têm as 27 unidades hoteleiras paradas e 85% dos colaboradores em lay off, mesmo assim lançou novos negócios. Em entrevista ao Diário Imobiliário, admite que o grupo teve de readaptar-se e está a preparar-se para o futuro. No entanto, os projectos hoteleiros que estavam em desenvolvimento não pararam.
Qual o impacto desta pandemia no Grupo Vila Galé? a nível nacional e internacional?
O impacto é enorme tendo em conta que tivemos de fechar todos os hotéis no Brasil e em Portugal, dos 27, apenas quatro estão a funcionar, mas sobretudo para acolher profissionais de saúde. E manteve-se o hotel Vila Galé na Madeira, que está a receber quem chega à ilha e tem de ficar em quarentena obrigatória. Estamos a falar de praticamente zero receitas em Abril e Maio. Ainda assim, não estamos parados e temos trabalhado no lançamento de novos negócios. Iniciámos um serviço de take away nos quatro hotéis que mantivemos abertos, aproveitando a capacidade instalada e algum know how e vamos completar esta aposta na área alimentar com a criação de mercearias físicas e online.
As medidas lançadas pelo Governo para o turismo são suficientes? O grupo já utilizou algumas delas?
Dada a situação, não tivemos outra opção que não fosse recorrer ao lay off simplificado, que abrangeu cerca de 85% dos nossos colaboradores. A prioridade foi não dispensar nenhum colaborador.
Qual a estratégia futura do Vila Galé para superar esta crise?
Estamos a preparar-nos e a readaptar-nos em várias áreas, mas dada a situação, teremos de estar prontos para mudanças rápidas e muita agilidade. Nos hotéis, haverá necessariamente que introduzir medidas no check in, nos restaurantes e espaços comuns, evitando aglomerações e garantindo segurança e conforto das equipas e dos hóspedes. Teremos de reorganizar os serviços e aumentar o recurso a soluções digitais, com vantagens para os clientes. Por outro lado, estamos a pensar no que serão os melhores caminhos para captar os clientes de forma inteligente. Aqui, certamente optaremos por dar mais serviço em vez de baixar preços drasticamente ou entrar em grandes promoções. A formação constante dos recursos humanos é outra aposta que estamos a reforçar. Tudo indica que, numa primeira fase, o turismo interno e eventualmente o espanhol, serão os primeiros a reanimar. E os destinos menos massificados e mais isolados deverão registar mais procura, bem como as unidades hoteleiras mais pequenas, com espaços ao ar livre e com actividades mais ligadas à natureza. É com estes elementos que estamos a preparar a reabertura de unidades, quando isso for possível do ponto de vista sanitário.
Vão manter os projectos que estavam em curso? Quais aquele que estavam em desenvolvimento?
Em Portugal, tínhamos em curso o Vila Galé Collection Alter Real, em Alter do Chão, que ficou concluído no prazo. Abriu a 13 de Março, mas fechou quase de seguida. Em Manteigas tínhamos planeado abrir o Vila Galé Serra da Estrela a 27 de Março. O hotel está pronto, mas a abertura foi adiada e ainda não temos uma nova data. No Vila Galé Douro Vineyards, no Douro, as obras de expansão continuam e estão dentro dos prazos previstos. Já no Brasil, a construção do hotel em São Paulo prossegue, mas ainda não sabemos quando será possível abrir. Quanto à área agrícola, onde também temos os vinhos e azeites Santa Vitória, no Alentejo estamos a finalizar a construção de uma central de processamento de frutas na herdade onde já existe o hotel Vila Galé Clube de Campo e a adega e lagar da Santa Vitória.
Como será o turismo a partir daqui?
Essa é a questão para a qual todos gostávamos de ter resposta. Desde logo, tudo dependerá da evolução e do controlo da pandemia não só em Portugal, mas noutros países que habitualmente são mercados importantes para o nosso turismo, como Espanha, França, Reino Unido, Alemanha, EUA ou Brasil. O que vai passar-se ao nível do transporte aéreo, das deslocações entre países e do funcionamento das fronteiras é outra incógnita. E não podemos ignorar a expectável redução de poder de compra dos consumidores. A confiança dos consumidores é aqui um factor essencial e aí, do ponto de vista operacional e da oferta, será essencial assegurar que as normas de higiene e segurança são irrepreensivelmente cumpridas. Sabemos que são tempos difíceis, que trazem desafios. Mas apesar da adversidade, também permitirão que encontremos soluções inovadoras e que aperfeiçoemos a nossa oferta de produtos e serviços. Até que surja uma vacina ou um tratamento, teremos de ir aprendendo a conviver com esta nova realidade.
Apesar da situação que se vive a imagem de Portugal tem sido muito positiva e elogiada a nível internacional. De que forma pode ter influência no futuro do turismo no nosso país?
Já tínhamos sido reconhecidos como um destino seguro. O facto de sermos vistos como um bom exemplo no que fizemos até agora quanto ao combate e controlo da pandemia será positivo e importante para ganhar a tal confiança de quem quer viajar.