Como criar edifícios saudáveis, sustentáveis e resilientes projetados para as pessoas
Quanto mais penso sobre este assunto, mais sinto a necessidade de divulgar que os edifícios saudáveis devem ser o único tipo de edifícios em que vivemos, estudamos, trabalhamos ou fazemos compras. São saudáveis para as pessoas e para o planeta. Embora pareça óbvio, é algo que não se reflete nos regulamentos, nas políticas de habitação ou na maioria dos novos projetos de construção.
Mais de um terço do consumo de energia e quase metade das emissões de CO2 da Europa provêm da construção e do funcionamento dos edifícios. É evidente que podemos melhorar em termos de sustentabilidade, e estamos a trabalhar nisso, no entanto, há outro fator para o qual ninguém está a olhar: 1 em cada 6 cidadãos europeus vive em habitações insalubres. No caso da população infantil, o número sobe para 1 em cada 3. Não se trata (apenas) de pobreza energética, a exposição à insalubridade resulta da incapacidade de manter a habitação a temperaturas confortáveis, mas também da exposição a uma fraca qualidade do ar, falta de luz natural e ruído, o que acontece em todos os tipos de habitação.
Os edifícios em que vivemos podem causar uma variedade de problemas de saúde, desde pequenas dores, como dores de cabeça, fadiga ou constipações, até doenças graves e crónicas, como a asma e outras doenças respiratórias, problemas de saúde mental, depressão, doenças gastrointestinais ou problemas de pele.
Em Portugal, 26,4% da população enfrenta problemas de humidade em casa. Este fator favorece o desenvolvimento de bolores e está fortemente associado a doenças respiratórias. Mais de um terço dos portugueses não consegue manter as suas casas a temperaturas confortáveis durante o verão. O sobreaquecimento é um dos problemas mais graves no sul da Europa, mas não se trata apenas do efeito das alterações climáticas que os edifícios precisam de se adaptar melhor.
Sabemos que é essencial investir na melhoria da eficiência energética dos edifícios, mas temos de considerar os critérios de saúde quando tomamos decisões sobre a reabilitação. Se conseguirmos torná-los mais resistentes a fenómenos meteorológicos extremos cada vez mais frequentes, ainda melhor. Para tornar os edifícios saudáveis, sustentáveis e resistentes, precisamos de uma abordagem holística e abrangente que não negligencie nenhuma das três vertentes.
«Um edifício resiliente é projetado para se adaptar ao futuro, reduzindo o impacto das alterações climáticas nas condições de conforto interior»
Um edifício saudável, sustentável e resiliente deve promover a saúde física e mental das pessoas, garantindo uma boa qualidade do ar, luz natural suficiente, ligação com a natureza e contacto social entre os ocupantes. Deve utilizar a tecnologia para otimizar o conforto e a eficiência, que garanta equidade na utilização das instalações e acessibilidade para todos os utilizadores. Não devemos esquecer que a sua implementação na cidade deve ser intencional, facilitando a interação da sua relação com o ambiente e os vizinhos. Para garantir a sustentabilidade, é necessário ter cuidado na seleção dos materiais, no cálculo da energia incorporada e das emissões na sua produção e no funcionamento do edifício final, assim como no consumo de água e na facilidade e possibilidade de gestão pelos utilizadores.
Um edifício resiliente é projetado para se adaptar ao futuro, reduzindo o impacto das alterações climáticas nas condições de conforto interior. Deve ser resistente aos riscos naturais: desde o cálculo das fundações para garantir a segurança dos ocupantes em caso de terramoto, até à implementação de medidas contra inundações, granizo ou tempestades. As estratégias de adaptação da fachada para minimizar o calor através de sombreamento e ventilação, bem como os sistemas de arrefecimento passivos e mecânicos, vão ser cruciais no futuro. Neste caso, a tecnologia e a automatização irão desempenhar um papel decisivo. Além disso, as soluções inteligentes do ambiente, como lençóis de água ou vegetação, podem contribuir para o arrefecimento e purificação do ar, a restauração dos ecossistemas e a gestão da água.
Para terminar, só vai resultar se os residentes estiverem conscientes dos benefícios e das oportunidades oferecidas pelo seu edifício e se estiverem comprometidos em aproveitá-los ao máximo. A formação dos técnicos e da população é essencial.
Há diversas áreas em que a nossa sociedade deve melhorar para benefício próprio, assim como para o planeta em que vivemos. Esta é uma delas, e apresenta um impacto visível nas nossas emoções, no nosso bem-estar e na nossa produtividade, bem como na nossa economia. Felizmente, verificamos um aumento no número de técnicos, setores da indústria e assistimos a uma população cada vez mais interessada na promoção deste tipo de arquitetura.
Por Almudena López de Rego (arquiteta), Specification Manager na VELUX Espanha