
Alentejo acolhe primeiro grande santuário da Europa para elefantes
O primeiro grande santuário da Europa para elefantes que viveram em cativeiro está a ‘nascer’ nos concelhos de Vila Viçosa e Alandroal, com a chegada dos primeiros animais prevista para o início de 2026, divulgaram hoje os promotores.
Desenvolvido pela organização sem fins lucrativos Pangea, registada no Reino Unido e em Portugal, o projecto está a ser apresentado hoje à tarde em Vila Viçosa.
As câmaras municipais de Alandroal e Vila Viçosa, ambas no distrito de Évora, são parceiras da iniciativa, apoiada pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Em declarações à agência Lusa, Kate Moore, directora-geral da Pangea, explicou hoje que a instituição comprou, em 2023, o terreno de 402 hectares para instalar o refúgio e tem vindo a prepará-lo para os primeiros elefantes. A reserva alentejana segue o modelo de instalações de grande escala existentes na Ásia, África e Américas, e a abordagem de gestão da Pangea é aprovada pelos principais especialistas em elefantes em cativeiro e biólogos de elefantes selvagens.
“Temos vindo a trabalhar na gestão do habitat, melhorando a qualidade do mesmo e assegurando que é tão diverso quanto possível”, disse.
A fase de construção arrancou “há cerca de dois meses”, com a edificação “do primeiro celeiro e do primeiro recinto”, podendo estas obras “estar concluídas em Dezembro”, revelou a directora-geral, adiantando que estima “receber os primeiros elefantes no início de 2026, entre Janeiro e Março”.
O celeiro, que foi originalmente adquirido com o terreno, precisou de ser reformado para abrigar elefantes. E foi isso que foi feito. Contará com cinco boxes internas, permitindo gerir entre três a cinco elefantes de acordo com as suas necessidades. A estrutura, construída em aço de alta resistência, integra um sistema de cercas com capacidade para suportar impactos de até 20 toneladas, com 3 metros de altura acima do solo e 1,5 metros abaixo, assegurando durabilidade e estabilidade. A conclusão do interior do edifício está prevista para o final do ano.
O projeto está a ser concretizado em parceria com a empresa portuguesa Metal Viçosa, reconhecida pela sua precisão em trabalhos de engenharia metálica e pela colaboração em contratos internacionais nos sectores da energia e dos transportes.
A Pangea destaca o papel essencial da equipa da Metal Viçosa que acompanhou todas as fases da obra e se tornaram parte integrante do projecto, contribuindo decisivamente para o seu sucesso.
Depois de uma vida passada em zoológicos ou em espectáculos de circo, os elefantes vão agora encontrar descanso no maior santuário europeu dedicado à espécie, localizado entre os concelhos de Vila Viçosa e Alandroal, numa propriedade com 402 hectares.
Este projecto, considerando “pioneiro” pela Pangea, quer oferecer “cuidados vitalícios a elefantes reabilitados de zoos e circos de todo o continente” europeu e espera acolher “entre 20 a 30” animais, segundo Kate Moore.
“Vamos fazer muita investigação sobre o espaço de que os elefantes precisam e o que está a funcionar. Por isso, vamos avaliar constantemente esse número”, afirmou.
Em comunicado, a Pangea explica que o projecto consiste em criar um espaço natural para “elefantes em situação vulnerável”, de forma que os animais possam “deslocar-se livremente, alimentar-se e socializar, tal como fariam no seu habitat selvagem”.
“Não estamos aqui para resgatar elefantes, mas para trabalhar com pessoas que já têm elefantes e que estão à procura de uma alternativa para esses animais”, explicou Kate Moore, dando como exemplo o caso de “elefantes que se encontram em países onde os circos foram proibidos de utilizar animais selvagens”.
Esses serão “elefantes prioritários para o santuário”, assim como animais provenientes “de jardins zoológicos que já não querem ter elefantes, mas não têm um local para onde os enviar”.
“Queremos ajudar esses circos, jardins zoológicos e governos a dar um lar a esses elefantes que já não têm onde viver, proporcionando-lhes um habitat natural por onde podem vaguear, com liberdade, mas ao mesmo tempo com cuidados veterinários e zootécnicos”, frisou.
Após a realização de um estudo de viabilidade à escala europeia, “Portugal foi seleccionado pelas suas condições ideais de habitat e clima”, indicaram os promotores.
Kate Moore acrescenta que a propriedade escolhida no Alentejo foi considerada “a melhor pela sua topografia, colinas muito suaves e boas para os elefantes poderem andar, habitat muito diversificada e área privada e com muita água”.
As novas instalações da Pangea foram projetadas com a colaboração de alguns dos maiores especialistas mundiais em elefantes. O projecto privilegia a segurança e o bem-estar tanto dos animais como das equipas que cuidam deles, adoptando o método de “Protected Contact”, que mantém sempre uma barreira física entre humanos e elefantes, garantindo interacções baseadas na confiança e não na força.
De acordo com a directora-geral da instituição sem fins lucrativos, que não quis precisar o investimento, mas admitiu ser “significativo” e resultante “de donativos feitos por organizações e pelo público”, a Pangea quer privilegiar a ligação com a comunidade local.
“Já estamos a trabalhar com algumas empresas locais e queremos criar mais parcerias e garantir que estamos também a empregar pessoas locais”, frisou, referindo que o projecto inclui especialistas em bem-estar e criação de elefantes, mas também vai ser ministrado “um programa de formação para desenvolver capacidades locais”.
Este primeiro grande santuário para elefantes na Europa não vai estar aberto ao público regularmente, mas Kate Moore admitiu que irão ser desenvolvidos ‘open days’ (dias abertos) anualmente, “seleccionando pessoas da comunidade local e outras que doem para o projecto, através de um sorteio ou lotaria, para que possam visitar o espaço”.
Lusa/DI
Fotos: cortesia Pangea















