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Reabilitar o ‘Luxo’ na Avenida da Liberdade

12 de junho de 2016

As lojas da Prada, Emporio Armani, Marella da Max Mara e a Miu Miu, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, são algumas das obras de reabilitação do atelier Contacto Atlântico do arquitecto André Caiado. Numa zona prime que está cada vez mais na moda internacional e onde mais lojas de luxo se querem e vão se instalar como é o caso da Cartier, intervir em espaços destes é um grande desafio para o arquitecto.

André Caiado revela que reabilitar espaços para lojas de luxo é um grande desafio, “no sentido, de que teremos de projectar com as especificidades existentes no local de intervenção, mas nunca esquecendo o objectivo do cliente, que é a concepção de um espaço e layout comercial apelativo e atractivo, com revestimentos e acabamentos específicos que identificam a imagem mundial da marca em questão”.

O arquitecto refere que neste contexto existiram dois cenários: implementação da marca por motivos estratégicos de mercado, logo a procura de um local em desuso, para o potencializar e valorizar, como foi o caso da Prada e Miu Miu ou pela existência da marca já implantada no local, mas por motivos comerciais e de imagem, o arquitecto é convidado a intervir numa remodelação interior e exterior, como foi o caso da Emporio Armani Lisboa.

Desenhado ao mínimo pormenor

Com a implementação destas marcas nos pisos do R/C e Cave ou até no Primeiro Andar, verificou-se também a valorização do imóvel no seu aspecto global, isto é, requalificação do edifício, com a limpeza da fachada principal e até a trabalhos de reparação, restauro de fachada.

“Estas marcas são tão exigentes, que todo o espaço arquitectónico tem que ser detalhado, desenhado ao mínimo pormenor, ligação pavimento com paredes e paredes com tectos, escadas e respectiva guarda e corrimão, instalações sanitárias, fachada, espaços de montras, portas, caixilhos, vidros, assim o arquitecto é fundamental neste processo, com a função de coordenador destes novos ‘Epicentros’”, refere André Caiado.

Technical Book limita criatividade

O arquitecto explica que as marcas relacionadas com Retail de Luxo, para maior facilidade de implementação de novas lojas em todo o mundo, tem um Technical Book com especificações de como executar os trabalhos, definição de materiais, acabamentos e com os respectivos exemplos. “Ao quererem facilitar, estão a complicar e a reduzir a capacidade criativa, porque limitam a criatividade do arquitecto, como também se limitam a implementar soluções que vêm indicadas nesse book”, salienta.

A ideia de que reabilitar fica mais caro, é confirmado pelo arquitecto que explica o porquê. Porque exige todo um trabalho de restauro e de manutenção de estrutura, paredes, tectos que inicialmente não estavam contabilizados, como também durante o desenvolvimento da obra, outras especificidades e problemas vão surgindo, no sentido de atrasar os trabalhos, fazendo uma quebra na execução dos trabalhos. “Não sou contra a reabilitação urbana, mas penso que este conceito está dirigido a promotores imobiliário e donos de obra com poder económico e com capacidade de investimento, porque além de se executar o novo layout e as novas especificidades arquitectónicas da marca, temos que restaurar e requalificar o existente, até porque as razões culturais e históricas das fachadas onde estas marcas se implementam tem que ser preservadas, devido a não possibilidade de demolição exigidas pelas entidades competentes”, explica.

Não há amor como o primeiro

Para o arquitecto da Contacto Atlântico todos os trabalhos são importantes mas sente um carinho especial pelo projecto da Prada. “Não há amor como o primeiro, sendo a loja da Prada Lisboa, um óptimo exemplo de confiança e de investimento internacional no mercado português. Até podemos ir mais longe, no sentido de que foi com a implementação da Prada na Avenida da Liberdade que outras marcas de retail internacional repensaram o seu investimento em Portugal, como é actualmente o caso da Cartier Portugal e da Max Mara Portugal”, adianta André Caiado.

Além da marca o arquitecto salienta também o edifício onde a Prada se implantou, já que se trata de Prémio Valmor. “A Prada Lisboa é conhecida pela sua fachada romântica, ecléctica e ornamental, onde se concilia modernidade com antiguidade, ao ponto de se manter os vitrais na parte superior de todos os vãos. Uma marca de prestígio merece um edifício com história e com importância no traçado da cidade”.

Uma avenida real e de luxo

Caiado explica que a importância desta avenida é histórica. A Avenida da Liberdade datada dos meados do Século XVIII com cerca de 1100 m de comprimento e 90 metros de largura foi inicialmente o passeio público da burguesia de Lisboa e morada de gente rica que ia construindo as suas vivendas e palácios como o do Visconde de Salreu, hoje Prémio Valmor desde 1916.

André Caiado adianta que numa perspectiva absolutamente comercial e olhando para o conceito de propriedade mais moderno, a Avenida tornou-se um centro comercial de rua onde tudo se faz para não deixar vazios urbanos. Encontra-se em mutação e num momento de charneira, e estas marcas potencializam, promovendo a sua utilização num contexto de qualidade.

“Devido à grandiosidade e importância da Avenida no traçado urbano da cidade de Lisboa e ao posicionamento estratégico de grandes empresas de retalho internacional, de investirem em tempos de crise, Lisboa tornou-se uma capital bastante atractiva para este tipo de investimento e negócios, levando empresas como Prada, Max Mara, Giorgio Armani, Cartier, Montblanc a se instalarem na Avenida, sendo muito dos casos a marca em Portugal, isto é, sem franchising, no sentido de continuar a potenciar ainda mais a Avenida, como um eixo de comércio de rua e de referência em Lisboa”, conclui o arquitecto.