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Reabilitar a histórica Vila Dias no Beato por cinco milhões de euros

7 de agosto de 2017

O Beato está na moda! Depois da inauguração do Hub Criativo que nasceu da reabilitação das antigas instalações da Manutenção Militar, é a vez da Vila Dias receber um projecto de requalificação no valor de cinco milhões de euros.

Construída em 1888, quando o Beato era um dos maiores polos industriais da cidade de Lisboa, a Vila Dias alojava os operários das fábricas de Xabregas, trata-se de um bairro histórico que, constituindo património material e imaterial da cidade, a sua preservação é desde logo uma exigência cultural.

É assim que Morais Rocha, administrador da Sociedade Vila Dias (SVD), define este bairro e que passará pela recuperação das cerca de 160 habitações desta histórica vila. Mas se neste momento, a maioria dos edifícios históricos da capital portuguesa são para empreendimentos de habitação de luxo ou para o turismo, a SVD vai inovar e trazer o conceito de reabilitar para arrendar a jovens, a preços acessíveis, integrando-os na população residente.

“No quadro da dinamização da Vila, contamos incentivar o arrendamento a jovens e estudantes, aplicando preços acessíveis e criando condições para esta faixa demográfica. O nosso objetivo é conseguir juntar as gerações mais antigas, que ainda habitam na Vila, e dinamizar o bairro num convívio saudável com as novas gerações”, garante o responsável.

Reabilitação total do bairro

Morais Rocha salienta que o projecto envolve uma reabilitação total do bairro, sem demolição, com a preocupação de manter a sua traça histórica e a sua muito expressiva e invulgar componente de espaços verdes.

As casas serão cuidadas por dentro e por fora, proceder-se-á ao restauro das fachadas, à sua pintura na cor original, o branco, bem como à reparação de janelas, jardineiras e escadas.

Os telhados serão substituídos e todas as antenas parabólicas serão permutadas pela fibra ótica que proporcionará um mais eficiente e económico fornecimento de serviços.

Para atender a situações mais urgentes, a SVD já avançou com as primeiras reparações, tendo procedido a um inquérito junto dos inquilinos. Há algumas semanas procedeu-se ao realojamento, em habitação recuperada, da última inquilina que não dispunha de instalações sanitárias próprias.

A SVD irá ainda estabelecer planos de entendimento com os moradores para viabilizar o pagamento das rendas em atraso. “Sabemos que algumas pessoas não vão conseguir pagar tudo de uma vez, mas queremos tornar estas contas transparentes e justas, tanto que os rendimentos da vila serão por inteiro afetos à sua reabilitação nos próximos cinco anos”, assegura.

Rendas não ultrapassarão os 300 euros

Os valores das rendas actuais vão manter-se e os das rendas de novos contratos, pensados essencialmente para população mais jovem, não ultrapassarão os 300 euros, equiparando-se aos preços praticados pelo programa de Renda Acessível da Câmara Municipal de Lisboa.

“As 40 habitações que se estima estarem desocupadas – entre as 160 da Vila – esperamos que fiquem aptas para receber novos inquilinos no mais curto prazo possível”, adianta o administrador.

O mercado imobiliário aponta para um falta de oferta no segmento do arrendamento e a SVD vê neste projecto um investimento seguro. “Com este investimento prevemos um retorno de 3 a 4% ao ano. Este valor não é alto – há inquilinos que pagam rendas mensais de cinquenta euros e há quem não pague nada. Mas não empreendemos este projeto na expectativa de lucro imediato. Sabemos as condições económicas em que as pessoas vivem no bairro e vamos respeitar isso, assim como respeitaremos o desejo dos seus moradores de pôr termo a algumas, felizmente poucas situações de ilegalidade que perturbam o bem-estar de todos.

Contudo, consideramos o investimento no mercado imobiliário uma mais-valia e o investimento neste projecto é mais seguro do que ter o dinheiro no banco”, revela Morais Rocha.

O responsável adianta ainda que a proximidade do Hub Criativo do Beato, recentemente apresentado pela Câmara Municipal de Lisboa, potenciou este investimento. “É uma estrutura de vinte edifícios com uma área total de trinta e cinco mil metros quadrados, com potencial para se estabelecer na vanguarda dos centros europeus de empreendedorismo, e tem uma população que pode ser interessante para a Vila Dias. Afinal distam a cinco minutos a pé, estamos a 500 metros de distância”, esclarece.

Este pode ser o primeiro de outros projectos semelhantes, o administrador da SVD garante que se surgirem outras oportunidades interessantes, seguramente que irão investir. “Lisboa precisa de reabilitação e esse é um desafio que nos agrada”.

A Companhia do Fabrico de Algodões

Em 1854, surgiu a fundação da Fábrica de Fiação de Xabregas, de proprietários estrangeiros, iniciando a laboração em 1858, depois de se constituir em Companhia do Fabrico de Algodões. Trabalhando várias pessoas, foi por iniciativa dos proprietários da fábrica que foram edificadas, em 1867 e 1877, as primeiras vilas operárias em Xabregas. Em 1888, foram construídas mais duas vilas, de maiores dimensões, a Vila Flamiano (inicialmente destinadas aos mestres e contramestres) e a Vila Dias (para os operários). Ao todo foram construídas 106 casas no bairro operário da Companhia do Fabrico de Algodões.