

Covid-19: 85% das empresas de mediação imobiliária estão paradas
A ASMIP revela que 85% das empresas de mediação imobiliária estão paradas ou com a actividade reduzida. Procura de clientes para comprar casa caiu 98,4% desde que iniciou o período de isolamento e 56,5% das empresas garante ter perdido todos os negócios contratualizados nas últimas duas a três semanas.
A Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal realizou um inquérito aos seus associados sobre o impacto da pandemia e os resultados demonstram que
Cerca de 33% das empresas de mediação imobiliária estão com a actividade parada, enquanto 52% se encontram a trabalhar apenas a meio termo, concluindo processos que vinham de trás, mas sem acesso a novos clientes e produtos. Ou seja, 85% das empresas de mediação imobiliária estão paradas ou com a actividade reduzida.
Neste contexto, estas empresas mencionam estarem em situação financeiramente má, mas para já estável, se a paragem da actividade não for demasiado prolongada no tempo.
No inquérito 75% das empresas refere que não faz visitas nem angariações, devido ao actual estado de emergência, enquanto percentagem idêntica assume estar em regime de teletrabalho, fazendo uso do telefone, internet, email, redes sociais, mas sempre a partir de casa, uma vez que os escritórios estão fechados. Alguns referem estar a aproveitar o tempo para reestruturar as empresas para a nova realidade, reorganizando ficheiros de imóveis e clientes, contatando-os no sentido de manter a relação viva, e até para reunir virtualmente sempre que tal é necessário.
A faixa de 25% que ainda fez visitas garante que tal só aconteceu em casos muito excepcionais, limitadas a uma pessoa, e apenas se fosse para concluir algum processo que já estava em curso. Com clientes novos isso não acontece, por restrição do estado de emergência em que estamos, mas também por não haver clientes disponíveis para o fazerem.
Em resposta à questão se tiveram negócios anulados, 68% garante que sim. Cerca de 50% refere percentagens até 10% dos seus negócios que se encontravam em conclusão, e a outra metade, entre os 20% e 30% desses negócios, o que demonstra o elevado prejuízo nas muitas das vezes débeis estruturas financeiras das empresas de mediação imobiliária, sustentadas num negócio de continuidade, que de repente sofreu um corte abrupto.
Na realização das escrituras – acto que concretiza a realização do negócio imobiliário – verifica-se que 46% foram anuladas, um resultado que penaliza muito a actividade e muitas das vezes a própria sobrevivência destas empresas.
De referir, ainda, que para metade dessas empresas, as escrituras anuladas significavam um peso nos seus negócios em curso de 100%, o que mostra as consequências ‘demolidoras’ para a sua actividade.
Foi apurado ainda que 69% dessas escrituras foram anuladas pelos cartórios (32%) e pelos clientes compradores (37%), repartindo-se as restantes entre clientes vendedores e bancos, com 15,5% cada.
Entre clientes/negócios perdidos e escrituras canceladas, 56,5% garante ter perdido negócios já contratualizados. Ou seja, não é só o que se perdeu a partir do momento da entrada no período de quarentena, mas também mais de metade das empresas deixou de concluir negócios que nalguns casos poderiam ter uns dias, mas em outros casos poderiam significar semanas ou meses de trabalho anterior, e que agora se goraram irremediavelmente.
Procura de clientes para comprar casa caiu 98,4%
Quisemos saber se o uso de plataformas multimédia seria suficiente para manter o interesse dos clientes na procura de casa, e quase dois terços (65%), não vê isso como possibilidade. Aliás, ainda, é mais conclusivo quando procuramos saber como sentiram a procura dos clientes pela aquisição, onde 98,4% das respostas são taxativas a referirem que o interesse é menor para a compra. Esta opinião é menos arrebatadora quando falamos de arrendamento com a percentagem a baixar para os 75,8%, enquanto 21,8% acredita ser igual, e apenas 1,6% acha que será superior.
Neste contexto, 60% das empresas garante que já está a tomar medidas para conseguir o retorno da actividade, embora a esmagadora maioria aponte para a incerteza latente.
Procuram esse ‘renascer’ preparando-se para a redução de custos fixos e mantendo as suas equipas motivadas na medida do possível, através de apoio constante. Alguns referem que irão manter a actividade, mas procurarão outras fontes de receita para a empresa.
Também se registam alguns casos que mencionam fechar a actividade se a quarentena se alargar muito mais que os 14 dias iniciais previstos.
De referir, ainda, que apenas 35% das empresas pensa recorrer aos apoios criados pelo governo, com 38% apenas a equacionar essa possibilidade. Do lado oposto, 27% garante não pretender recorrer aos apoios.
“Da análise dos resultados estatísticos, e das respectivas respostas constata-se a enorme dúvida da classe de mediação perante o futuro, sendo evidente que toda a actividade terá de se reinventar para garantir a sobrevivência e sendo inegável a convicção de que um número considerável de empresas acabará por encerrar, naturalmente as menos estruturadas comercialmente, a par com as menos preparadas financeiramente”, refere Francisco Bacelar, presidente da ASMIP.
Acrescenta que “as empresas que sobreviverem passarão por processos dolorosos de controlo de custos, aprendendo a viver com muito menos do que até aqui, uma vez que o mercado se reduzirá significativamente, pelo menos a curto prazo. A seu favor num mercado reduzido, terão o facto de também terem menos concorrência, o que pode ajudar, parcialmente, ao seu ambicionado equilíbrio”.