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Castelo da Feira: todo um “potencial por explorar”

6 de outubro de 2017

O arqueólogo Ricardo Teixeira lança este sábado o livro "Castelo de Santa Maria da Feira - Estudos Arqueológicos", que revela o resultado das escavações levadas a cabo entre 2004 e 2007 no edifício ainda "cheio de potencial por explorar".

A monografia tem edição da Câmara Municipal e reúne, em mais de 200 páginas, toda a informação compilada pelos cerca de 20 profissionais que estudaram o ex-libris da Feira, não no âmbito de uma investigação arqueológica plena, mas sim para avaliar previamente o impacte das obras que a autarquia realizou no local, para valorização do imóvel.

 

Um grande fosso que contorna o castelo…

 

"Confinámos a investigação aos locais onde se previa que houvesse intervenção arquitectónica, mas foi assim que descobrimos que já existiu um fosso a contornar pelo menos parte do castelo, embora não tenhamos certeza quanto à sua extensão", conta à Lusa o arqueólogo que conduziu os trabalhos.

"Por isso é que o livro também se destina a chamar a atenção para o potencial patrimonial e tudo o que ainda há por conhecer relativamente ao castelo - que, só no que se refere ao edifício, sem considerar sequer a envolvente, incorpora 1.000 anos de transformações sucessivas ao nível da construção", realça.

 

Uma história milenar

 

Organizado em três secções, o livro de Ricardo Teixeira começa assim por abordar o período que recua até aos séculos VI e V a.C., por altura da ocupação castreja e romana do local onde só mais tarde se viria a edificar o castelo.

A peça mais emblemática desse período é um brinco de ouro em formato de arrecada, que, "preservado em condições excepcionais", ainda exibe relevos delicados e está em exposição no Museu dos Loios - equipamento ao qual está confiado o principal acervo das peças encontradas no castelo.

"Nessa secção do livro aborda-se também o povoado romano que já foi identificado fora da muralha, mas que ainda não foi devidamente estudado, pelo que continua com um potencial enorme em termos de investigação", declara o arqueólogo.

A segunda parte do livro analisa depois a ocupação do castelo na sua dupla funcionalidade de fortificação militar e residência: a primeira desde a sua construção no século X e a segunda desde que aí se instalaram os condes da Feira no século XV.

 

Muitos foram os achados…

 

"Encontrámos pontas de setas, componentes de punhais e uma grande quantidade de elementos associados a instrumentos defensivos", revela Ricardo Teixeira, que situa esse armamento sobretudo na época medieval.

Muitas dessas peças e fragmentos foram, aliás, encontrados no fosso que, embora criado junto ao castelo para reforço do seu sistema defensivo, no século XV ou XVI, acabou por ser aterrado. "Tornou-se obsoleto devido à introdução da balística e da pólvora. Se o inimigo já podia disparar a maior distância sem ter que se aproximar da muralha, o fosso já não era preciso", explica o arqueólogo.

Cerâmicas, porções de vidro, um dado em osso e objectos para armazenar alimentos também foram descobertos nas escavações de 2004 a 2007, assim como "um candil e mais algumas peças islâmicas associadas ao período em que a Feira era um território de fronteira entre cristãos e muçulmanos".

Fotos e ilustrações gráficas de todos esses artigos compõem, por fim, a terceira secção do livro, que se apresenta como um catálogo de todas as peças descobertas no castelo, organizadas por ordem cronológica.

O lançamento do livro "Castelo de Santa Maria da Feira - Estudos Arqueológicos" terá lugar no Salão Nobre desse edifício e será complementado com a assinatura de um protocolo de colaboração entre o Município e a Comissão de Vigilância do Castelo, para salvaguarda do espólio resultante das escavações arqueológicas aí realizadas.

Lusa/DI