A decisão de comprar uma segunda casa
Falar deste tema quando existe um problema sério de Habitação em Portugal pode parecer uma provocação. Ainda para mais quando, no nosso País, a contra corrente, os preços dos imóveis parece que tendem a estabilizar e a não descer e, ao mesmo tempo, continua-se a pedir este mundo e o outro no mercado de arrendamento. Há, no entanto, uma clara tendência para a compra de uma segunda habitação que, no essencial, pode servir para três propósitos distintos: investimento, rendimento adicional ou pura e simplesmente refúgio.
Comecemos, por isso, com a possibilidade da comprar para investir. Para quem tem os fundos necessários para isso, a compra de uma segunda casa (nem que seja para a manter fechada) pode representar, aquando da decisão da venda deste ativo, um lucro superior às baixas percentagens que a Banca ou o Estado oferecem com os depósitos e os certificados de aforro e uma opção com menos riscos do que investir no mercado bolsista. Em tempos de crise de Habitação, este discurso não é de todo compaginável com o que por vezes a classe política mais situada à esquerda defende, mas quem tiver possibilidade em fazer este tipo de investimentos sabe que isto é algo que, naturalmente, compensa, principalmente quando a opção recai num investimento em áreas com forte potencial de valorização imobiliária. Já para não falar que investir em Imobiliário permite fazer uma diversificação do património, proporcionando estabilidade financeira e proteção contra flutuações noutros investimentos.
Se, porém, a opção de compra for feita no intuito de colocar o imóvel no mercado de arrendamento, isto é algo que também pode ser levado em linha de conta para os potenciais investidores. Para além de constituir um rendimento adicional numa família, cobrindo custos e despesas constantes, o arrendamento acaba por ajudar a dinamizar este mercado, muito embora, como se sabe, a legislação vigente caminha largamente para a circunstância de se penalizar cada vez mais os proprietários e desresponsabilizar os inquilinos. Ou seja, esta opção, embora possa trazer claros dividendos a curto prazo não deixa de ser, nos dias de hoje, uma opção de risco.
A terceira opção é, de facto, a mais simpática, e que se prende com a possibilidade de compra para uso e usufruto pessoal. Claro está que, quando mais perto a segunda casa for da casa principal mais possibilidades existem desta se tornar um verdadeiro refúgio ao bulício da semana de trabalho. Se, porém, a opção residir em adquirir um imóvel que seja mais longe da residência habitual, acaba-se, invariavelmente, por se chegar à conclusão que a casa é usada poucas vezes no ano, constituindo-se a médio prazo como uma fonte de despesas e problemas. Mas, havendo a capacidade financeira para as sustentar, esta é uma decisão que acaba sempre por ser adiada até que a realidade ultrapasse o sonho de ter uma segunda habitação para férias.
Também é verdade que a tendência em adquirir uma segunda habitação pode levar a um aumento da procura em áreas específicas – como aconteceu por exemplo em determinadas regiões no Algarve - impactando os preços e a disponibilidade de propriedades nessas regiões. No limite, a decisão de comprar num sítio em detrimento de outo abre novas possibilidades e levar a uma dinâmica diferente, que permite ao mercado reagir.
Não obstante o caminho, a compra de uma segunda habitação, seja para que propósito for, implica uma decisão muito mais consciente e racional do que a que é tomada quando falamos na compra da primeira habitação. O impacto que uma decisão desta natureza pode ter no mercado imobiliário só poderá ser realmente visto se se assistir a uma tendência generalizada de compra numa determinada zona, local ou região. O que, pelo que temos visto nos últimos tempos, estará longe de voltar a acontecer.
Francisco Mota Ferreira
francisco.mota.ferreira@gmail.com
Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio)
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico