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Opinião

Francisco Mota Ferreira

A cor dos gatos

18 de setembro de 2023

Mao Tsé Tung dizia que “não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato”. Lembrei-me desta frase do líder chinês a propósito das movimentações de mercado que por aí andam, as negociações que estão em curso e a surpresa (de Pirro) que, a efectivar-se, já muitos qualificam como a compra da década, que poderá mudar o sector da mediação imobiliária em Portugal.

Claro está que, nestas coisas, os rumores, as informações e as contrainformações são mais do que muitas e, para além de possíveis compradores e vendedores, já se fala também que a época dos saldos não ficará apenas por uma marca e pode alargar-se a outra(s).

Só quem está lá dentro é que sabe o que se passa no convento, mas atrevo-me a dizer que, quem andar atento, percebe que, tal como acontece no mercado das transferências de futebol, começaram a ver-se, de alguns meses para cá, algumas mudanças que poderiam indiciar que algo está aí a chegar. Num mercado como o do imobiliário, onde as condições para atrair algumas estrelas da companhia passam por várias benesses e que estas não se traduzem, necessariamente, no pagamento efetivo de um salário, não deixa, por isso, de ser curioso porque é que, supostamente, alguns bem conhecidos players do mercado parecem ter tomado, aos olhos da maioria, uma suposta decisão errada.

Volto a Mao Tsé Tung e permito-me ir um pouco mais além. As picardias entre as principais marcas de imobiliário em Portugal são mais do que muitas, com os seus responsáveis e representantes a ultrapassarem tantas vezes o limite do aceitável, do razoável e do decente, para tentarem mostrar que a sua marca é melhor do que as restantes. E não falo, naturalmente, dos epítetos genéricos para classificar algumas marcas, que entraram no léxico comum dos consultores para definir a sua e/ou a dos seus colegas. Falo da tentativa, tantas vezes bem-sucedida, de denegrir a marca A em detrimento da sua ou valorizar a marca B em detrimento das restantes.

Eu, que até não ando há muitos anos nisto, já percebi algo que, ao que parece, velhas raposas do sector têm dificuldade em perceber: no final do dia, é indiferente se a marca A ou a marca B é melhor ou pior, porque muito do sucesso decorre do esforço e empenho do próprio. O consultor imobiliário terá que avaliar onde se encaixa melhor, porque cada uma tem também as suas manias e regras, que podem não ser do agrado de todos (e nem têm que ser). Ou seja, não interessa se um consultor está na ERA, na Remax, na Century 21 na KW, na Predimed ou em qualquer outra. No final do dia, o que se espera é que este possa, consiga e tenha condições para apanhar os melhores ratos que estão no mercado.

Claro que, olhando para trás e lendo algumas declarações de vários responsáveis, consegue perceber-se que, em face dos rumores existentes, que o importante é também denegrir a(s) marca(s) para que o seu valor caia no mercado e se possa comprar, afinal, abaixo do seu real valor. Mas isso, como cedo se perceberá, nada tem que ver com os consultores ou o trabalho que por eles é desenvolvido. Tem, isso sim, a ver com o valor da marca. E, como sabemos, isso é dos livros e é o bê-á-bá da vida de um qualquer consultor imobiliário na prossecução dos interesses do cliente que representa: vender o mais caro que consiga e comprar o mais barato que arranje.

O mercado está a mexer. Acredito, pois, que, em breve, irei voltar a este tema.

Francisco Mota Ferreira

Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem aos livros “O Mundo Imobiliário” (2021) e “Sobreviver no Imobiliário” (2022) (Editora Caleidoscópio).