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Francisco Mota Ferreira
Problemas imobiliários
O mercado imobiliário em Portugal está repleto de desafios que vão muito para além de uma simples compra e venda de imóveis. Entre práticas duvidosas e uma concorrência que, muitas vezes, desvaloriza o próprio sector, surgem problemas que comprometem a transparência e a credibilidade da mediação imobiliária. E quantas vezes vemos estes problemas à nossa frente e optamos por os ignorar (ou relativizar).
Um dos mais recorrentes passa pela presença de fotos fantasma de consultores nos sites das agências. Quantas vezes abrimos um site e vemos que aquela agência em particular tem imensos profissionais ao seu serviço? O problema é que, em muitos casos, essa suposta quantidade não corresponde à realidade da dimensão da agência e estes consultores fantasmaapenas servem para criar uma ilusão de dimensão e estrutura organizacional que não condiz com a realidade. O cliente, que procura um consultor experiente, pode, afinal, deparar-se com alguém sem a formação ou o suporte necessário para garantir um serviço de qualidade. Porque afinal dos 50 existentes no site, apenas dez é que são reais.
Outro obstáculo comum é a exigência do contacto direto do cliente quando se pretende agendar uma visita a um imóvel angariado por uma agência. Esta prática, para além de desincentivar o contacto entre profissionais, fere a ética da mediação e gera desconfiança no sector. Sabemos bem que uma das chaves do sucesso imobiliário passa pela cooperação entre agências, algo que em Portugal ainda é muitas vezes tratado como um tabu. A imposição de uma divisão desigual entre as partes (agência e/ou consultor) em caso de negócio, também levanta questões. Enquanto algumas marcas justificam esta divisão pelos custos operacionais, muitas vezes os comerciais sentem que o seu trabalho é subvalorizado. Este modelo desmotiva consultores e acaba por se traduzir numa elevada rotatividade dentro das agências, impactando negativamente a experiência dos clientes.
Outro fenómeno que tem vindo a crescer é o número excessivo de staffquando comparado com o número de comerciais ativos. Há agências que apostam mais na estrutura administrativa e de marketing do que no recrutamento e formação de bons consultores. E, muito embora um suporte sólido seja essencial, uma agência que se foca mais na gestão interna do que na presença comercial tende a perder eficácia no terreno.
Por outro lado, muitos comerciais vendem aos proprietários a ideia de que possuem ferramentas de marketing milagrosas capazes de vender o imóvel por um valor superior ao de mercado. No entanto, na prática, esta estratégia serve apenas para angariar imóveis, muitas vezes a preços irreais, que acabam por ficar meses sem qualquer proposta concreta. Esta desilusão prejudica não só o proprietário, mas também a reputação do sector.
A promessa de ampla divulgação de um imóvel nos principais portais imobiliários é outra falha recorrente. Algumas agências anunciam esta vantagem para captar clientes, mas depois acabam por não cumprir, deixando os imóveis invisíveis para potenciais compradores. O proprietário, que confiou na visibilidade da agência, acaba por perder tempo e oportunidades de venda.
Não me canso de repetir: para evitar estes e outros problemas, é essencial apostar em maior regulação, formação contínua dos profissionais e transparência no processo de mediação.
Algumas soluções poderiam passar por incluir certificação obrigatória para consultores imobiliários (por favor não sorrir), garantindo maior profissionalismo e qualidade no atendimento, adoção de regras mais rígidas na partilha de comissões para que a negociação entre agências e consultores seja mais equilibrada, valorizando os profissionais que realmente fazem a mediação, maior fiscalização sobre a veracidade dos anúncios para combater fotos fantasma, promessas de marketing exageradas e a falta de publicação de imóveis, bem como a promoção de uma cultura de cooperação entre agências que facilite a partilha de imóveis entre profissionais de diferentes marcas, acelerando as vendas e beneficiando clientes e consultores.
Sabemos que o sector imobiliário em Portugal tem um enorme potencial. Mas é essencial corrigir estas falhas para garantir um serviço mais eficiente, transparente e profissional. Se queremos um mercado mais forte, precisamos de mudar a forma como os negócios são realizados.
Francisco Mota Ferreira
francisco.mota.ferreira@gmail.com
Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022), “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) e “Conversas sobre o Imobiliário” (2024) | Editora Caleidoscópio.
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico