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Taxas Euribor continuarão em mínimos mas impacto económico é insuficiente, dizem os analistas

27 de setembro de 2020

As taxas de juro Euribor deverão continuar ancoradas em valores perto de 0% nos próximos anos, segundo analistas contactados pela Lusa, mas o impacto económico é insuficiente e permanece o temor de 'japonização' da economia europeia.

Segundo João Lampreia, estrategista-chefe do banco Big, as taxas deverão continuar ancoradas em níveis muito baixos nos próximos dois a três anos (negativas ou próximas de 0%), reflectindo a política monetária do Banco Central Europeu (BCE).

O economista estima que o risco de as taxas Euribor afundarem muito mais é pouco. Já a subida das taxas, a acontecer, poderá dever-se a problemas nos mercados interbancários, ainda que seja para já um risco ligeiro.

Henrique Tomé, analista da XTB, atribui a evolução das taxas de juro Euribor à crise da covid-19 e às medidas tomadas pelo BCE e também considera "expectável que taxas perto de zero estejam para ficar durante alguns anos".

"Não só o BCE mas também outros bancos centrais já manifestaram a intenção de estender estas medidas até, pelo menos 2023”, acrescenta.

No mesmo sentido, Pedro Amorim, da Infinox, considera que a tendência das Euribor é reflexo da estratégia monetária do BCE, que tem vindo a ter uma política expansionista com descida das taxas de juro de referência, numa "espécie de 'doping' à economia".

Contudo, os efeitos são diversos e não estão a ser na totalidade os pretendidos, avisam os analistas.

A parte positiva é que os créditos estão mais baratos, com taxas de juro muito baixas, afirma Pedro Amorim.

Por outro lado, diz, tal significa baixos rendimentos em depósitos a prazo, obrigações e outros instrumentos financeiros e impacta o setor financeiro, com a margem financeira dos bancos pressionada e o subsequente efeito nos seus resultados.

Segundo João Lampreia, o impacto na economia é supostamente benéfico, quer no consumo quer nos créditos bancários, mas há outros fatores a ter em conta que dificultam a transmissão da política monetária, como a capacidade/vontade dos consumidores em gastarem, das empresas em investirem e a elevada dívida existente.

Assim, tanto João Lampreia como Pedro Amorim admitem que se pode estar a assistir a uma ‘japonização’ da economia europeia e essa é precisamente uma discussão que está a ser feita nas altas instâncias europeias.

“As empresas não estão a ir aos canais de crédito dos bancos, porque o ambiente é incerto, o investimento é baixo. Com taxas reais negativas as empresas deviam investir mais, pela teoria económica, mas depois não se realiza pelo ambiente económico. Se as taxas juro subissem para valores mais próximos de zero ou pouco acima de zero resultava num ciclo mais virtuoso. Como estamos num ciclo tão negativo o benefício de taxas negativas, com impacto em investimento e consumo, não se realiza facilmente”, afirma João Lampreia.

Já se nos próximos 12 meses houver estabilização económica, o facto de as taxas estarem tão baixas poderá ajudar a economia, considera.

O termo 'japonização' designa os quase 30 anos em que a economia do Japão se confronta com falta de inflação e crescimento económico anémico, apesar de a política monetária tentar todos os meios para estimular a economia (taxas de juro muito baixas e grandes programas de compra de activos), com resultados ineficazes.

Economistas e analistas têm defendido que uma política monetária expansiva tem de ser acompanhada por política orçamental forte para estimular a economia europeia e evitar o risco de 'japonização'.

As taxas Euribor estão a negociar em terreno negativo desde 2015, tendo subido ligeiramente no início deste ano (mas mantendo-se sempre em terreno negativo) na sequência do início da crise pandémica, tendo depois voltado a afundar.

Esta semana, as taxas Euribor bateram mínimos de sempre nos prazos a três, seis e 12 meses.

A taxa Euribor a seis meses (a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação) atingiu -0,473%, a taxa a três meses atingiu -0,508% e a 12 meses atingiu de -0,438%.

As Euribor são fixadas pela média das taxas às quais um conjunto de 57 bancos da zona euro está disposto a emprestar dinheiro entre si no mercado interbancário.

LUSA/DI