Governo diz que alertas de FMI sobre crise na habitação são “realidades conhecidas”
O Governo admitiu hoje as “realidades conhecidas” de crise na habitação, pelas subidas nos preços das casas e impactos nos créditos da subida das taxas de juro, no dia em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) pede vigilância.
“Relativamente aos alertas que o FMI faz, estas são, de certa forma, conhecidas as realidades há muito tempo, relativamente quer à subida dos preços da habitação, daí o programa que o Governo apresentou relativamente à habitação e que está em desenvolvimento e em operacionalização, e também a circunstância de o nosso país ter uma percentagem significativa dos créditos à habitação a taxa variável, que também já motivou medidas do Governo para proteger as pessoas que têm hipotecas e que podem estar sujeitas bruscamente um aumento das suas taxas de esforço que seja muito significativa”, elencou Fernando Medina.
Em declarações aos jornalistas no final de um Eurogrupo informal, realizado em Estocolmo durante a presidência sueca do Conselho da União Europeia, o governante garantiu que o executivo de António Costa tem “conhecimento da situação”, bem como “as respostas em marcha para lhe fazer frente”.
O diretor do FMI para a Europa aconselha as autoridades de países europeus com problemas de habitação, como Portugal, a “estarem vigilantes” sobre os riscos para a estabilidade financeira, propondo soluções no lado da oferta.
“Os preços das casas aumentaram bastante em vários países ao longo da última década e isso aconteceu em função das baixas taxas de juro durante um período relativamente longo e, depois, em vários países, tivemos outro impulso durante a pandemia porque as pessoas passaram para o teletrabalho”, contextualizou Alfred Kammer, em entrevista a agências de notícias europeias, incluindo a agência Lusa, em Estocolmo.
Confrontado pela Lusa com os atuais problemas de habitação verificados em Portugal, o responsável apontou ser necessário acautelar “os riscos para a estabilidade financeira”.
“Os supervisores têm de ser vigilantes e realizar testes de ‘stress’”, sugeriu Alfred Kammer.
Ainda assim, o director do FMI para a Europa salvaguardou que “não se trata apenas de um problema do lado da procura”.
“Tem havido na Europa, em muitos países, um problema do lado da oferta e isso tem de ser abordado, independentemente do que estamos a ver na frente dos preços da casa”, defendeu.
Segundo Alfred Kammer, este cenário no mercado habitacional “tem sido muito mau para o crescimento porque quando se olha para os jovens, eles não podem se mudar para os centros urbanos porque é muito caro”.
“Essa é uma questão mais vasta fora das actuais correções a que estamos a assistir, que muitos governos europeus têm efetivamente de tratar”, concluiu.
Em Portugal, o Governo já adotou várias medidas para responder à crise da habitação.
O pacote de medidas proposto visa aumentar a oferta de imóveis utilizados para fins de habitação, simplificar os processos de licenciamento, aumentar o número de casas no mercado de arrendamento, combater a especulação e proteger as famílias.
Também hoje publicado foi o relatório regional sobre a Europa, no qual o FMI alerta que os preços das casas em Portugal duplicaram desde 2015, assinalando que a diferença entre estes e as rendas acentuou-se desde a pandemia.
No documento, o FMI dá nota de que os mercados imobiliários revelam crescentes sinais de sobrevalorização em toda a região, apontando cinco países como exemplo deste cenário.
LUSA/DI