Qual o potencial do mercado de luxo no Porto?
O segmento do imobiliário de luxo apresenta-se actualmente bastante dinâmico. A cidade do Porto começa a despertar o interesse dos investidores e são vários os projectos em promoção destinados ao segmente residencial de luxo. Depois do Aliados 107, já comercializado, segue-se a promoção do Clérigos 82, na Baixa, e recentemente o início de obras do edifício Montevideu, na Foz, e o edifício Pharmacia, em Cedofeita. Contudo, é em Lisboa, Cascais e no Algarve onde o mercado de luxo tem maior expressão. Em jeito de balanço, entrevistámos dois dos players que trabalham o segmento alto do mercado residencial, Miguel Poisson, director-geral da Sotheby’s, e Ricardo Costa, CEO da Luximo’s Christie´s.
Oiçamos o que nos disse o DG da Sotheby´s:
O Porto evidencia um crescimento muito grande e é, à data de hoje, a cidade com a maior taxa de crescimento do preço por m2 em Portugal. Como caracteriza o comportamento do segmento do imobiliário de luxo este ano?
O mercado imobiliário de luxo em Portugal este ano foi bastante dinâmico, seguindo assim a tendência de crescimento do mercado total. Este explica-se pelo contexto económico positivo, pelos níveis de confiança dos portugueses e pelo imobiliário ser actualmente considerado o sector mais atractivo para investimento. As taxas de retorno médias são bastantes superiores a outros investimentos e o acesso ao crédito é agora mais facilitado. Adicionalmente, este dinamismo tem sido também impulsionado pelo investimento estrangeiro de que Portugal tem vindo a ser alvo em Lisboa, Porto e Algarve. A atractividade do mercado deve-se essencialmente aos benefícios fiscais (novo regime fiscal e golden visa), às condições climáticas, de segurança e saúde que Portugal oferece.
Que aspectos considera que são positivos e negativos neste segmento?
Nos aspectos positivos destaco: os activos da transacção são valiosos e únicos; mercado de luxo muito atractivo para estrangeiros, o que aumenta significativamente o “reach” (alcance da procura). Não comunicamos apenas para o mercado português, mas globalmente, nos 72 países onde a Sotheby’s International Realty está presente. Quantos aos negativos: os clientes são mais exigentes, o que torna o negócio mais difícil; transacções demoram mais algum tempo porque podem envolver transferências de capitais de outros países (p.e., transacções com fundos imobiliários).
Quais as suas perspectivas sobre a evolução deste mercado em relação à oferta/procura e preços?
As perspectivas mantêm-se muito positivas. Prevemos tanto um aumento da oferta com a entrada no mercado de novos empreendimentos, como um aumento da procura nos próximos anos. Apesar de ser expectável que o mercado não cresça ao ritmo que se verificou nos últimos dois anos, existe ainda bastante espaço para crescimento nas principais cidades. A oferta, por definição, é mais lenta a aparecer e isso faz com que os preços continuem a subir.
Em relação à captação de investimento estrangeiro para Portugal, considera que o que se tem feito é suficiente, ou deveríamos apostar mais na promoção?
Penso que ainda existe bastante trabalho a ser feito. De um ponto de vista turístico, é notório o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido e muito do crescimento imobiliário advém do reconhecimento que temos tido no estrangeiro. Contudo, quando olhamos, por exemplo, para o número de vistos Gold emitidos desde o início do programa em 2012 (menos de 7000), percebemos que ainda existe bastante desconhecimento sobre este tipo de programas, bem como alguns benefícios fiscais que existem em Portugal para estrangeiros. Sou da opinião que, neste tipo de matérias, ainda existe muito trabalho de promoção de Portugal no estrangeiro e todos temos que fazer a nossa parte para que isso aconteça.
A cidade do Porto tem evidenciado um comportamento muito positivo na venda de imóveis de investimento e no segmento de habitação destinada à gama alta. Concorda?
De facto, o Porto evidencia um crescimento muito grande e é, à data de hoje, a cidade com a maior taxa de crescimento do preço por m2 em Portugal. Contudo, ainda não se aproxima dos mercados de Lisboa. Quando analisamos o preço por m2 nestas regiões, vemos que o Porto apresenta ainda um valor bastante abaixo de outras localizações como Lisboa e Cascais. Neste sentido, existe ainda uma janela de oportunidades muito interessante para quem queira investir no Porto.
Qual tem sido o impacto de algumas das medidas legislativas e fiscais recentes no investimento imobiliário de luxo?
O impacto tem sido muito positivo. Medidas fiscais como o regime de residentes não habituais tem contribuído muito para atrair mão de obra bastante qualificada para Portugal e com um poder de compra acima da média. Como consequência, estes trabalhadores adquirem propriedades de luxo e contribuem continuamente para o desenvolvimento do mercado.
Qual o balanço/resultados da Sotheby’s em 2018?
O balanço é muito bom. Desde 2007 que vimos a desenvolver o mercado de luxo e a criar uma marca muito forte tanto em Portugal como no estrangeiro. Numa altura em que o mercado está com um grande dinamismo todo este trabalho traz muitos frutos e estamos a crescer em termos de vendas, colaboradores e mercados nos últimos anos. É uma operação de sucesso, a mais bem-sucedida na Europa, Médio Oriente, Índia, África e Rússia e com muitas perspectivas de forte crescimento no futuro. Vamos continuar a expandir a nossa marca em Portugal e estamos actualmente a lançar um processo de recrutamento com vista à integração de novos colaboradores em todo o país, tendo como áreas principais administrativas e comercial.
Qual a carteira da Sotheby’s em termos de oferta/empreendimentos? Quais as principais características desta oferta?
Actualmente, a Portugal Sotheby’s Realty detém o maior portfólio de imóveis de luxo em Portugal. A carteira da Sotheby’s é bastante variada e só assim conseguimos responder a todas as necessidades dos nossos clientes. Desde imóveis usados, empreendimentos, herdades, hotéis, palácios ou terrenos. Diria que existem duas principais características da nossa oferta. A primeira é o valor do imóvel, que, em média, falamos de imóveis superiores a 500.000 euros. A segunda, e mais subjectiva, tem a ver com a identificação do imóvel com o segmento de luxo e com características que, independentemente do seu preço, possam ser consideradas de luxo.
Em termos de estrutura de funcionamento da Sotheby’s, que aspectos destaca?
A Portugal Sotheby’s International Realty aposta, essencialmente, na formação aos colaboradores, em marketing, tecnologia e num serviço de excelência ao cliente. Destacamos a formação constante aos colaboradores. Procuramos dar formação os trabalhadores sempre que necessário. Somos, tidos por muitos como a entidade com os recursos humanos mais bem preparados para actuar na mediação imobiliária de luxo.
Entrevista de Elisabete Soares para o VE