Portugal está na linha da frente da oferta imobiliária
São 25 anos a trabalhar o imobiliário de luxo e a promover Portugal além-fronteiras. A Porta da Frente que foi a eleita pela Christie’s Real Estate em 2012 para sua afiliada abriu assim caminho para uma parceria de sucesso. A mediadora e consultora portuguesa, foi uma das primeiras a perceber o potencial de Lisboa, acreditou e viu no mercado lisboeta um potencial de crescimento no segmento premium. Rafael Ascenso, Director-Geral da Porta da Frente / Christie’s, acompanhou desde o início, o trajecto da empresa e ajudou a internacionalizar o imobiliário de luxo português.
Apesar das alterações ao programa Vistos Gold afectarem o segmento de luxo, o responsável admite que são factores como a segurança e a qualidade de vida que mais “vendem”. No entanto, é de opinião que cada vez que se aumenta a carga fiscal, alteram-se as leis, ou eliminam-se programas como o Golden Visa, rejeita-se a criação de riqueza e reduz-se a dinâmica da economia como um todo e não apenas no sector imobiliário.
Que balanço faz de 25 anos da Porta da Frente?
Um balanço muito positivo do qual muito nos orgulhamos. Começámos com um escritório em Cascais e neste momento temos três escritórios (também em Lisboa e Oeiras), e um percurso não apenas nacional, como internacional.
Fruto de muito trabalho e inovação, fomos decisivos na introdução de importantes mudanças na abordagem ao negócio imobiliário, que têm levado à maior valorização do cliente e atenção no seu atendimento. Trabalhamos constantemente para melhorar o nosso serviço e oferecer uma experiência única e exclusiva a cada um dos nossos clientes.
Orgulhamo-nos também de termos sido os principais agentes da internacionalização dos mercados imobiliários de Cascais e Lisboa. Fomos pioneiros em mercados como Espanha, Angola e Brasil. Impulsionado, em parte, pela afiliação à Christie’s Real Estate, em 2012, esteve sempre no nosso ADN. A partir do momento em que a Christie’s escolheu a Porta da Frente como afiliada para a região de Lisboa e Alentejo, tivemos acesso a uma rede internacional de imobiliário de luxo de enorme sucesso.
Temos trabalhado com os melhores parceiros, clientes e, de destacar também, os melhores colaboradores, que têm, a cada momento, levado a Porta da Frente mais longe.
Estamos no patamar que queríamos e temos todas as razões para acreditar que o futuro será ainda mais desafiante.
O que mudou no mercado imobiliário de luxo em Portugal nesse período?
O mercado imobiliário evoluiu muito em Portugal nos últimos 25 anos, não apenas na mediação imobiliária, mas também na promoção. Todo o conceito melhorou. Da arquitectura, aos materiais, o layout, a utilização dos espaços interiores e exteriores, a luz, o conforto.... hoje Portugal está na linha da frente da oferta imobiliária.
Quando começámos, havia muito cepticismo em relação aos mediadores imobiliários. A ideia generalizada é que estes apenas se preocupavam com o lucro e vendas. Mas com a profissionalização e rigor na nossa actividade, ajudámos a alterar essa imagem.
Na altura, o mercado imobiliário de luxo era pouco explorado e disseminado: havia pouca procura do país a este nível, nacional e internacional, e a oferta também era escassa. Cascais era uma das poucas excepções a essa regra, daí termos apostado na vila para o nosso primeiro escritório. Já Lisboa é um exemplo paradigmático nesse sentido, onde chegámos em 2010, no início da crise económica. Apesar disso, acreditámos e vimos no mercado lisboeta um potencial de crescimento grande no segmento premium. Foi no início daquela década que Lisboa começou a captar as atenções do mercado internacional e a crescer, como também foi aí que se iniciou o processo de reabilitação que deu uma nova vida e imagem à cidade, que hoje é uma das mais desejadas à escala mundial. Este é um destino cosmopolita, seguro, com um urbanismo e paisagem.
Que desafios têm sido colocados à mediação imobiliária?
Os clientes são cada vez mais exigentes e informados – o que consideramos positivo.
Este é um sector que exige constante adaptação e inovação. E o nosso desafio tem sido e continuará a ser antecipar e ser agente activo dessa evolução constante.
Junto dos promotores imobiliários e clientes, a nossa missão é procurar adaptar a todo o momento os requisitos e tendências da procura.
A mediação imobiliária tem sido também cada vez mais desafiada a nível tecnológico e o último ano foi prova disso. Responder com mais rigor, celeridade e assertividade. Esse é o nosso desígnio.
Como foi a evolução da procura pelo imobiliário de luxo por parte dos estrangeiros?
Além do Algarve, que já era procurado há vários anos essencialmente por europeus do Norte, Portugal não era um país que integrasse a rota turística internacional, ou de investimento e residência. Isso mudou drasticamente na última década, já que o nosso país passou a ser um dos destinos mais desejados do mundo pelas razões que todos conhecemos e que levam qualquer um a apaixonar-se por Portugal: clima, segurança, gastronomia, paisagens naturais, simpatia no acolhimento. Mas também por sermos um dos países com custo de vida baixo para a qualidade de vida que oferece. E o mesmo se passa nos preços dos imóveis. O nosso valor de venda por/m2 para localizações semelhantes é dos mais baixos da Europa. É certo que toda esta dinâmica se iniciou com algumas medidas governamentais – Golden Visa e Residente Não Habitual –, mas entretanto, são factores como a segurança e a qualidade de vida que mais “vendem”.
De que forma a pandemia veio abalar o mercado imobiliário de luxo português?
Não podemos afirmar que o mercado imobiliário de luxo tenha sido abalado pela pandemia. O interesse de clientes estrangeiros e nacionais manteve-se e os negócios continuaram a realizar-se, ainda que de forma remota, quando as fronteiras estiveram fechadas. Tivemos situações de clientes estrangeiros que compraram imóveis de valores superiores à média sem os terem visitado fisicamente.
Embora tenham sido adiados alguns negócios e tenha havido um inevitável abrandamento de ritmo, o sector continuou a ser um dos motores da economia portuguesa. Em 2020 o nosso número total de vendas rondou os 200 negócios, sendo os principais clientes de origem portuguesa, brasileira, francesa e inglesa. E, como seria de esperar, a principal plataforma para veicular estes negócios foi o online. Ainda relativamente a dados de 2020, vendemos 186 imóveis, o que representa um decréscimo de 30% em relação ao ano anterior. Porém, o preço médio de venda foi superior ao de 2019. Passámos de um valor médio de transacção de 900.000 euros para 1 milhão de euros.
Foi um ano de teste ao mercado e a todas as mediadoras, mas aquele mostrou que está forte e que é hoje um refúgio seguro para investir. Por outro lado, mostrou a importância que tem “a nossa casa”, onde nos sentimos bem. Nesse sentido, podemos até afirmar que o mercado de luxo foi potenciado pela pandemia, na medida em que houve um incremento de procura e valorização de imóveis mais espaçosos e com espaços exteriores. A pandemia fez com que todos passássemos a dar outra importância à nossa casa e a olhar para os espaços de outra forma. Os clientes começaram a procurar imóveis com mais espaços exteriores e também interiores mais generosos e confortáveis, para por exemplo inserir um escritório se necessário.
Como vê o final dos Vistos Gold para as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e zonas costeiras do país? Como irá afectar o mercado imobiliário de luxo?
Para dar o nosso exemplo, concretizamos alguns negócios ao abrigo destes dois regimes, mas a grande maioria dos nossos negócios com clientes estrangeiros não passa pela obtenção do Golden Visa ou benefício do estatuto de Residente Não Habitual.
No entanto, não há nada pior para o investidor do que a incerteza. Nos anos mais recentes tivemos várias alterações às taxas de IMT (em que se passou quase para o dobro no segmento mais alto), alterações à Lei do arrendamento, restrições ao AL, anúncios da eliminação do Golden Visa em Lisboa e no Porto, alterações à Lei do Residente Não Habitual. Tudo isto é desnecessário e afasta investidores, nomeadamente no segmento médio/alto e alto.
O sector imobiliário foi um dos motores da recuperação do nosso país após a crise de 2008-12. Fundamentalmente através da captação de investimento estrangeiro. Os nossos governantes têm que perceber que, para além da entrada direta de capitais para aquisição de imóveis, estes investidores e novos residentes do nosso país contribuem de forma decisiva para a dinâmica da nossa economia. Através do consumo destas famílias, da contratação de serviços, de pessoas, das viagens, etc.. têm um impacto na nossa economia superior ao valor das aquisições directas que fizeram.
Cada vez que aumentamos a carga fiscal, alteramos as leis, ou eliminamos programas como o Golden Visa, estamos a rejeitar a criação de riqueza e a reduzir a dinâmica da economia como um todo e não apenas no sector imobiliário.
Portugal continuará a ser um destino em ascensão para o mercado imobiliário de luxo?
Acreditamos que sim. O país reúne todas as condições para tal e o interesse dos investidores e a aposta na construção premium levam a crer isso mesmo (respondido nas questões anteriores).
Como analisa a evolução dos clientes portugueses neste mercado?
O número de clientes nacionais interessados no mercado imobiliário de luxo tem aumentado. Tendo em conta que apenas actuamos no segmento médio/alto e alto e uma grande fatia dos nossos clientes (41%) são portugueses, este é um exemplo ilustrativo desse interesse.
Qual o futuro do imobiliário de luxo em Portugal?
Tudo aponta para que este mercado continue em ascensão