O peso do imobiliário na economia de Portugal é muito grande
Trinta anos no mercado imobiliário português, é ‘obra’. Três décadas de história e conhecimento profundo dos ciclos que o país já passou. Se a última crise foi marcante, outras já existiram e em todas, a Consultan conseguiu ultrapassá-las.
Arnaldo Grossman fundou em 1974, na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, a consultora e mediadora Consultan. Dezasseis depois abriu a Consultan em Portugal, empresa que, em poucos, anos, se viria a tornar líder no mercado da mediação imobiliária de habitação em Lisboa. A estreia no nosso País ficou marcada pelo lançamento do Parque Europa, na Quinta do Lambert, onde a Consultan introduziu formas inovadoras de fazer marketing e apresentar produtos imobiliários ao grande público. Foi uma revolução!
Depois de forte implementação no nosso País e depois de momentos de sucesso no mercado imobiliário português, a Consultan sofreu também um grande abalo na última crise. Arnaldo Grossman lembra: “A partir de 2008 começámos a sentir profundamente em Portugal, a crise que se abateu na economia mundial. Já em 2007 era sentida, por razões estruturais internas da nossa economia. Somos um grupo que nasceu no mercado do Brasil. Por esta razão, tínhamos vivenciado algumas crises económicas no passado e com períodos mais curtos. Quando a crise em Portugal se aprofundou estávamos a inaugurar a maior loja do País em Cascais, com 600 m2. Tivemos que refazer o nosso planeamento, reunir as tropas para sobreviver. ‘A nossa bola de cristal não funcionou’. Depois da crise veio a bonança. Foi importante para Portugal reorganizar a sua economia e passar o período de dificuldades que todos tivemos. Ficar vivo era a meta. O plano era ‘navegação a vista’!”.
Abertura do mercado português no Brasil
As origens brasileiras, levou a Consultan a voltar-se novamente para o Brasil, desbravando caminho para os investidores brasileiros descobrirem Portugal. “A primeira ação internacional para a abertura do mercado português no Brasil foi realizada pela Consultan nos consulados do Rio e de São Paulo. Tivemos a sorte de ter a Tv Globo transmitindo de Lisboa e do Rio em cadeia nacional durante 5 minutos. Foi um impacto no Brasil!
Foi o primeiro passo para a abertura do mercado português no Brasil. Eu costumo dizer que aqueles eventos beneficiaram a todos no mercado português e foi uma forma de devolver ao país que me acolheu tão bem, o muito que recebi e dos amigos que fiz em todos os níveis.
Seguimos abrindo portas pelo mundo com parceiros em todos os continentes!”, lembra Arnaldo Grossman.
Como afirmou, ‘depois da tempestade vem a bonança’, assim aconteceu no mercado português. Para o empresário, depois de muitas empresas tradicionais portuguesas desaparecerem do mercado imobiliário, verificou-se no entanto, a entrada de novos “players” internacionais com ideias próprias e praticando preços que só foram possíveis graças a chegada dos investidores estrangeiros e a renovação urbana iniciada pela Câmara de Lisboa.
“Diga-se que Lisboa melhorou muito. Está de cara lavada. A Av. Da Liberdade parece o Champs Elysées! O volume de turistas é impressionante. É a festa dos tuc tuc!
Os shoppings espalharam-se pelo país. Os “chefes” portugueses começaram a ganhar estrelas Michelin nos seus restaurantes. Os hotéis de luxo vieram todos para Lisboa.
O Porto tornou-se numa atração mundial e seguiu a tónica da renovação urbana de Lisboa. O Porto está uma cidade linda!
Outros locais do país tiveram um crescimento acelerado, a destacar os inúmeros projetos no Algarve”, revela.
Grosssman salienta ainda que o perigo do crescimento acelerado e dos preços é o de ficarmos dependentes dos investidores estrangeiros. “A Grécia, hoje, é mais atrativa a nível de preços do que Portugal”.
E acrescenta: “Óbvio que o turismo que atingiu 10 milhões de visitantes recentemente e com tendência a crescer, ajudou muito, em especial aos hostels, Alojamento Local e hotéis. No entanto, a tradição da nossa empresa é a de vender para portugueses em Campolide (Nova Campolide), na Alta de Lisboa, em Cascais, na Expo e em muitos outros locais”.
Agora que os bancos retomaram a sua função de financiar a classe média portuguesa, “iniciaremos um novo ciclo com apartamentos e casas voltado para esta classe. Há muito por fazer e os novos ‘players’ do mercado estão atentos a este fenómeno. Preços e condições para vender para a classe média!
Os estrangeiros, investidores que não param de chegar, vão continuar absorvendo o stock dos imóveis inacessíveis à nossa sociedade. É a lei do mercado. A procura é que vai ditar os preços e os produtos futuros”, garante.
Arnaldo Grossman revela que para o futuro do mercado português, espera que os governos criem estabilidade para os investidores. Que a legislação fiscal não mude a cada ano. Que os projetos aprovem-se com mais velocidade. Na sua opinião, algumas alterações legislativas têm travado o mercado imobiliário.
Pensar o imobiliário como uma indústria
“É tempo de criarmos incentivos para os fundos imobiliários e criar estabilidade. O peso do imobiliário na economia de Portugal é muito grande. Temos que pensar o imobiliário como uma indústria que oferece riscos, um ciclo longo e sujeito as variações da economia mundial. Taxar duplamente os imóveis como se faz no IMI é um absurdo! Fora o IMT, imposto de selo etc. O imóvel paga a conta… (acabar com estas taxações é imperioso para baixar os preços do imobiliário)”, admite.
Estes fatores, aliados as regras de procura do mercado, farão com que os preços diferenciados por cidades e localizações, sejam estáveis e não especulativos.
“Correr os riscos atuais para os investidores, significam margens de segurança maiores e preços mais elevados. Em contrapartida, regras estáveis e conhecidas, podem fazer o mercado imobiliário mais estável nos próximos anos. A nossa carteira de lançamentos em 2019 tem vindo a crescer. Sou otimista para Portugal em 2019!”, conclui.
*Texto publicado na edição em papel do Diário Imobiliário no Jornal Económico. Escrito com o novo Acordo Ortográfico