Desafios na sustentabilidade empresarial: A necessidade de melhorar e uniformizar os sistemas de classificação ESG
Se tem interesse em sustentabilidade empresarial está na hora de memorizar o acrónimo ESG. Se trabalha numa multinacional é provável que já tenha ouvido o conceito. A sustentabilidade empresarial já é uma realidade desde os anos 60 e tem ganho cada vez mais destaque ao solicitar que as empresas adotem práticas ambientalmente conscientes e socialmente responsáveis. Os recentes e conhecidos por “sistemas de classificação ESG” surgiram como ferramenta de avaliação de desempenho das empresas nos três critérios - Environmental, Social e Governance.
Apesar de a intenção do sistema ser impactar positivamente a performance empresarial, os desafios relacionados aos sistemas de classificação ESG são evidentes. Atualmente, as práticas de classificação estão longe de serem ideais e padecem de medidas significativas para melhorar e uniformizar o sistema de avaliação, garantindo que este funcione conforme o previsto. Previsão essa que visará sempre incentivar investimentos sustentáveis.
O facto de os sistemas de classificação ESG serem executados por diferentes empresas e diligências (por exemplo, GRI, SASB, Sustainalytics, entre outros), resulta na heterogeneidade de critérios e metodologias empregues na avaliação do desempenho sustentável das empresas. Esta realidade cria uma dificuldade para os investidores compararem e analisarem as informações reportadas pelas empresas de forma consistente. Especialistas na área destacam a importância de adotar frameworks de reporting universalmente aceites, assim como uma metodologia transparente e com uma definição uniformizada da classificação ESG. A uniformização de métricas e critérios utilizados para a avaliação de desempenho sustentável das empresas originaria resultados mais fidedignos e transparentes. Além disso, garantiria a vantagem na tomada de decisão dos investidores que poderiam comparar diferentes empresas consoante o seu desempenho sustentável.
Os especialistas referem ainda a necessidade de intervenção regulatória no setor de classificação ESG. Apesar de a temática “regulamentar sustentabilidade” originar várias divergências, nomeadamente na esfera pública e política, a obrigatoriedade de incluir a materialidade, enquanto identificação e avaliação dos critérios ESG com maior relevância para a empresa e respetivos stakeholders, nos relatórios e classificações ESG garantiria que a empresa é capaz de priorizar e investir nas questões sustentáveis mais críticas que lhe dizem respeito.
Por último, é importante ressalvar o incentivo à divulgação dos principais subcritérios das categorias ESG. Trocando para miúdos, as empresas deveriam facultar ao público informações detalhadas sobre as ações e mudanças solicitadas nas três categorias ESG. Por exemplo, em questões ambientais, uma empresa reportar a sua gestão de resíduos, o seu consumo energético ou emissões de Gases com Efeito de Estufa. E porquê? A palavra “transparência” é cada vez mais uma palavra-chave no mundo empresarial. E este trata-se de um caso prático de transparência, onde comunicar sobre o desempenho sustentável de uma empresa dará uma visão mais abrangente aos investidores cuja tendência será de procurar investir em empresas com uma estratégia ESG. A credibilidade das ações e medidas sustentáveis são fundamentais para que os investidores possam tomar decisões informadas sobre onde direcionar os seus recursos. Além disso, com métricas concretas, o próprio quadro da empresa estará mais consciente de quais os riscos e oportunidades a colmatar.
Por fim, é importante ressalvar que o aprimoramento e a uniformização dos sistemas de classificação ESG são cruciais para evitar o chamado greenwashing, prática onde as empresas promovem a sua atividade enquanto sustentável, mas não adotam medidas materiais nessa direção.
Diante dos desafios existentes, será imperativo que empresas, investidores e órgãos reguladores trabalhem em conjunto a fim de aprimorar a sustentabilidade empresarial e a eficácia dos sistemas de classificação ESG. Nesse sentido, também órgãos governamentais, como a União Europeia, poderão desempenhar um papel fundamental através da uniformização da legislação no âmbito da classificação ESG. Para alcançar um futuro mais sustentável, pequenas, médias e grandes empresas devem ser incentivadas e reconhecidas pelas suas práticas responsáveis e pela sua contribuição positiva para a sociedade e para o meio ambiente.
Através da sua uniformização, a consistência e comparabilidade no sistema de avaliação de desempenho sustentável permitirá que os investidores tenham uma base mais sólida para os seus investimentos. Assim, as empresas estarão a impulsionar a transformação para uma economia mais sustentável e consciente, semelhante ao conceito de Economia Civil por Giakoumelou, Randazzo e Salvi, 2023.
Empresas, vamos investir num futuro mais consciente e responsável para o nosso planeta e pessoas?
https://ieefa.org/resources/greater-esg-rating-consistency-could-encourage-sustainable-investments
por Hazel Ilango
Giakoumelou, Randazzo e Salvi, 2023, ESG e M&A Normativa, Operazioni, Premi per il controllo
Joana Fernandes
Sustainability Manager
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico