As casas que escolhem os donos
Notícia, é o dono morder o cão, não o contrário. Este, é o b-á-bá do jornalismo. Mas, e se lhe falar na casa que encontra o dono? Isso mesmo. Não foi o proprietário que a encontrou, foi ela que “foi ter com ele”. Invertida a ordem dos fatores deste axioma, acredito que também seja notícia.
Mas, como tal aconteceu? Posso partilhar três histórias que surpreendem por vários motivos. Por serem imóveis muito particulares que, por diversos motivos, não eram facilmente transacionáveis, mas que captaram a atenção dos seus compradores num piscar de olhos, pelo inusitado, e por, ainda a mim, me surpreenderem algumas histórias.
Neste métier há longos anos, aprendi que não há casas invendáveis e sem comprador, nem compradores demasiado exigentes ou excêntricos. Aprendi também que o processo de aquisição se torna, muitas vezes, um trabalho em que o consultor assume papeis que nunca antes imaginou desempenhar. É detetive, na busca de um imóvel com uma caraterística incomum, sem a qual o investidor ou família não compram casa. É psicólogo, apoiando, aconselhando, refreando ou estimulando o entusiasmo. É marketer, fazendo a promoção e análise comercial do negócio. É financeiro, proporcionando informação financeira para apoio ao negócio. É até decorador, paisagista ou mesmo guia turístico e vizinho, que leva o cliente a jantar e a conhecer os melhores recantos imperdíveis da zona.
No segmento onde há muitos anos trabalho, muitas vezes, a casa vem no final de um aturado processo, depois de perceber as motivações e desejos do cliente. O porquê daquela localização específica, ou mesmo ajudar a definir a localização, em função do lifestyleou outros predicados do cliente, como as suas necessidades. Definida a zona, as caraterísticas da casa vêm depois. É aí, na reta final, que surge a dita, como aquela peça que fecha o puzzle e nos coloca um sorriso nos lábios.
Mas, prometido é devido. E, aqui ficam as três histórias das casas que encontraram o dono.
Imóveis muito específicos, peculiares, diria mesmo, como uma casa do século XIV, na região de Viseu, que correspondia em absoluto ao que o cliente procurava. Enquanto descrevia com entusiasmo: ”Carlos, só compro, se for uma casa antiga, com personalidade, paredes em granito, quase uma fortaleza. Tem de ser uma casa com história, brasonada, de preferência, e com um vasto terreno com bosque“, eu abria, no computador, um imóvel que correspondia em absoluto. Ficou comprado.
O segundo que partilho convosco, foi um palacete com jardim em Lisboa. 700m2 e 8 quartos. Não era imóvel que tivesse procura abundante, até que apareceu frente ao comprador. Foi amor à primeira vista. Decorridos sete anos desde a aquisição, o novo dono, ainda hoje, “de cada vez que abro a janela para o jardim, é como se fosse o primeiro dia”. Palavras do próprio, quando nos encontrámos pela última vez. Depois de uma procura de dois anos, em três dias fechou o processo da aquisição. Mais uma casa que encontrou o dono perfeito.
Como não há duas sem três, a história da casa adquirida à distância, porque, entre outras características, no hall de entrada, tinha um nicho próprio para uma das estátuas da coleção do novo dono. Um sinal de que seria esta a sua casa em Portugal, considerou o ainda proprietário espanhol que adquiriu um imóvel na zona centro do país.
Como vemos, há casas que escolhem os donos pelas suas especificidades. Muitas vezes, o que para uns é fator de exclusão, para outros é o detalhe que conta para que avencem com o investimento.
Carlos Mangas
Luxury Business Manager da Berkshire Hathaway HomeServices | Atlantic Portugal
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico