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Arquitectura
Edifício Tech Hub da Sonae: Sustentabilidade aliada a uma responsabilidade ambiental

 

Edifício Tech Hub da Sonae: Sustentabilidade aliada a uma responsabilidade ambiental

 

Edifício Tech Hub da Sonae: Sustentabilidade aliada a uma responsabilidade ambiental

 

Edifício Tech Hub da Sonae: Sustentabilidade aliada a uma responsabilidade ambiental

 

Edifício Tech Hub da Sonae: Sustentabilidade aliada a uma responsabilidade ambiental

 

Edifício Tech Hub da Sonae: Sustentabilidade aliada a uma responsabilidade ambiental

30 de dezembro de 2019

O novo edifício Tech Hub da Sonae, instalado no Parque de Negócios das Empresas Sonae, na Maia, da autoria do gabinete Barbosa & Guimarães - arquitectos, é o exemplo de projecto de sustentabilidade aliado a uma responsabilidade ambiental e de utilização eficiente dos recursos.

Os materiais da Sonae Arauco inspiraram os arquitectos responsáveis pelo novo edifício, onde estão agora os escritórios da BIT e da Sonae IM, alberga áreas de trabalho destinadas a equipas das áreas de IT e de tecnologia, que funcionam na generalidade em open-space, numa diversidade de layouts que garante a polivalência do espaço. Além disso, este novo edifício obedece a princípios gerais de sustentabilidade (como eficiência energética, qualidade do ar, uso eficiente da água e cuidado com as características dos materiais aplicados na construção), o que conduziu à sua candidatura à classificação LEED.

O arquitecto Miguel Pimenta, do gabinete Barbosa & Guimarães - arquitectos explica ao Diário Imobiliário como foi pensado e elaborado o projecto.

Numa altura em que as preocupações com a sustentabilidade e a construção de edifícios cada vez mais eficientes, como classifica este projecto? O que o distingue? 

De facto as questões relacionadas com a crise climática e sustentabilidade estão muito actuais, não só na construção e na arquitectura, mas no modo de vida da sociedade atual. Fenómenos como Greta Thunberg , muito recentemente considerada personalidade do ano pela revista Time; conceitos como a Passive house; movimentos como o Extinction Rebelion; ou o tema da Arquitectura do Decrescimento, manifesto da última trienal de arquitectura de Oslo onde, de certa forma, se questionam os custos sociais e ambientais de uma sociedade em constante necessidade de crescimento económico; são todos expressões de uma preocupação a que é premente dar resposta. 

Entendo que a arquitectura poderá ter, e é urgente que tenha, um papel preponderante e se envolva nesta causa, tanto mais que, como todos sabemos, existe a ideia de que o cimento e o betão são o arqui-inimigo da ecologia. Julgo que o caminho será discutir as formas como a arquitectura pode e deve contribuir para dar resposta à emergência climática do nosso planeta. 

Neste caso concreto do novo edifício  Sonae Tech Hub, localizado no Parque de negócios das empresas Sonae (PNES), trata-se de um edifício de escritórios que logo à partida foi intenção do dono de obra que obedecesse a princípios de sustentabilidade aliados a uma responsabilidade ambiental e de utilização eficiente dos recursos, tendo inclusive em vista a sua candidatura à classificação LEED (Leadership in Energy and Enviroment Design) e desta forma construir um símbolo reconhecido de sustentabilidade, como aliás tem vindo a ser uma estratégia do grupo para outros sectores. 

Desde o arranque do projecto até ao final da construção a arquitectura e restantes especialidades foram assessorados por uma equipa experiente nos sistemas de avaliação de mérito ambiental, apoiando-nos na sua implementação em todas as fases do projecto.

Quais as principais preocupações que teve na concepção do projecto? 

As preocupações foram, numa primeira fase, as transversais a todos os projectos que desenvolvemos, onde em primeiro lugar temos de dar resposta a um programa. Posteriormente definimos um conjunto de critérios que procuram estabelecer uma relação harmoniosa com a envolvente, como a definição da escala, a volumetria, a forma, o processo construtivo e os materiais, com o objectivo de ter o controlo e a definição do projecto até ao detalhe. 

Como anteriormente já referi, este edifício responde a uma série de requisitos importantes que garantem a sua sustentabilidade. Desde logo na sua localização e implantação, pois integra-se num parque empresarial de grandes dimensões no qual trabalham diariamente cerca de 2.000 pessoas, daí que a localização deste novo edifício faça todo o sentido em termos de sustentabilidade e integração no grande conjunto que é o PNES. 

O edifício está desenhado para acolher cerca de 600 pessoas, distribuídas por 4 pisos acima do solo, e dois pisos enterrados para estacionamento automóvel, perfazendo um total de aproximadamente 14.500m2 de construção. Os pisos estão fundamentalmente organizados em open-space, criando uma grande diversidade de áreas de trabalho, 
umas mais formais outras mais informais, que conjugadas com as áreas de lazer potenciam o trabalho colaborativo. 
A eficiência energética do edifício foi um tema abordado com rigor, critério e inovação e isto reflete-se no conceito e configuração das fachadas, e em especial na fachada poente do edifício, voltada para a EN13.

Concebemos um sistema de fachada dupla “habitada”, onde procuramos resolver quer as questões acústicas do ruído proveniente da estrada nacional, quer as questões de controlo solar no interior do espaço, reduzindo ao mínimo as necessidades de climatização artificial. Este sistema fachada dupla é constituído por duas linhas de fachada paralelas que se desenvolvem em todo o comprimento do edifício e abrangem os três pisos de escritórios. O primeiro plano é composto pela caixilharia de alumínio e vidro duplo e faz a transição interior/exterior, o segundo plano, afastado cerca de três metros, é composto por lâminas verticais de ensombramento em betão (GRC) e um pano de vidro como barreira acústica. Estes elementos são fixos a uma estrutura metálica, que por sua vez apoia na estrutura do edifício. 

Esta fachada dupla tem uma função importante no controlo da temperatura exterior funcionando como uma estufa no Inverno, com os ganhos solares, e no Verão como um espaço arrefecido durante a noite, e ventilado durante o dia reduzindo as cargas de arrefecimento.  

Têm ainda a particularidade de criar espaços de estar e de jardins interiores, que criam condições de conforto e bem-estar, mas também o arrefecimento por evo transpiração das plantas que contribui para o arrefecimento e qualidade do ar interior. 

Destaco ainda a eficiência hídrica tida em conta neste projecto o sistema de recolha e aproveitamento das águas pluviais implementado, onde a água é armazenada em depósito próprio para reaproveitamento posterior em sanitários.  É importante referir também que o edifício contribui para uma tentativa de alteração do paradigma da mobilidade a nível regional promovendo uma série de iniciativas que reduzem a utilização do carro individual e a redução consequente das emissões na atmosfera. Nessa perspectiva foram criados lugares de estacionamento específicos para veículos eléctricos, com os respectivos pontos de carga, parque para bicicletas e respectivos balneários para banho e troca de roupa.  

Que materiais utilizou? 

O material escolhido para o exterior foi o betão reforçado com fibras de vidro (GRC), quer seja em painel aplicado nos topos de edifício, quer seja nas palas verticais das fachadas. É um produto pré-fabricado, bastante mais leve que o betão tradicional. Os envidraçados das fachadas são em caixilharia de alumínio, com corte térmico e vidros duplos com controlo solar de baixa emissividade. Na cobertura, e nas áreas que não estão ocupadas pelos painéis fotovoltaicos, foram aplicadas, sobre o isolamento térmico, lajetas com pintura refletante com o intuito de reduzir os ganhos térmicos resultantes da incidência da radiação solar, e consequentemente, melhorar o conforto térmico e a eficácia energética no edifício, principalmente em períodos de verão. 

No interior os pavimentos são na sua maioria técnicos sobrelevados e com acabamento a linóleo. Não existem tectos falsos pois decidimos que todas as infraestruturas ficariam à vista permitindo o acesso e manutenção às redes aí instaladas. As paredes dos núcleos de comunicações verticais são revestidas com painéis MDF lacados. 
Os materiais de revestimento foram seleccionados, também, tendo em conta determinados requisitos onde se privilegiou a componente reciclada e a origem regional, com acabamentos de preferência isentos de componentes orgânicos voláteis e isentos de formaldeídos. Procuramos a optimização dos materiais e recursos naturais utilizados na construção, buscando produtos e fabricantes que se enquadrassem nestes requisitos. Um bom exemplo disto que refiro aplica-se à concepção de todo o mobiliário fixo do projecto, como o balcão principal de recepção, todas as bancadas das copas, as áreas de cacifos e os revestimentos e forras de elementos estruturais com painéis. Nestes elementos foram utilizados produtos da Sonae Arauco, que para além de ser uma empresa do grupo, e contemplar uma vasta gama de produtos, tem um compromisso com o desenvolvimento sustentável demonstrado pela sua certificação de gestão florestal. 

Quanto consegue poupar este edifício em termos energéticos? 

O edifício é muito recente e só agora está com a sua ocupação máxima e a funcionar em pleno, sendo difícil por isso para já ter dados comparativos. Por outro lado, nem todas as medidas introduzidas têm percentagens de poupança iguais, por isso será necessário recolher todos esses registos para se obter o valor médio. Contamos que com as medidas implementadas se atinja largamente a certificação LEED nível Gold. A ver vamos se dará para atingir um patamar mais elevado como o Platinium. 

Como vê o futuro da construção numa altura em que as preocupações ecológicas começam a ser imperativas e transpostas em medidas e directivas europeias? 

Vivemos um momento de transição, sem dúvida profunda, e não é fácil haver uma rápida e eficaz estratégia nesse sentido.  Penso que existe ainda na liderança política europeia incapacidade de definição de estratégias e implementação de acções para contrariar a construção feita como uma maneira expedita de ganhar dinheiro e de satisfazer unicamente o interesse imobiliário e da banca. Recentemente a União Europeia avançou com um pacto ecológico, que denominou de Green Deal composto por uma série de estratégias transversais a praticamente todos os sectores da economia, sendo no sector da construção o enfoque direccionado para a reabilitação. Resta saber se a UE vai conseguir fazer deste Green Deal uma ideia verdadeiramente mobilizadora. 
O caso da Sonae é  um exemplo a seguir, mas seguramente necessitamos de directivas concretas. A ecologia está mais presente nos discursos políticos do que na acção diária e por detrás destas declarações há muito oportunismo e ideias preconcebidas. De qualquer forma, parece-me que no campo da arquitectura e do planeamento urbano é importante dar ênfase nesta problemática que actualmente é tão central e trespassa a arquitectura. 

O   arquitecto Eduardo Souto de Moura, cuja a obra e discurso muito admiro, confessou recentemente que está atrasado em relação às questões ecológicas – estamos todos!... mas ainda vamos a tempo! 

http://www.diarioimobiliario.pt/Arquitectura/Design/Novo-edificio-Tech-Hub-da-Sonae-na-Maia-com-materiais-Sonae-Arauco